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Colunista da Folha afirma que as
imputações de Joaquim Barbosa contra o ex-ministro são compostas "só de
palavras" e afirma que o comportamento do futuro presidente da corte
deprecia o Supremo Tribunal Federal
247 - Num duro artigo, o colunista
Janio de Freitas, da Folha de S. Paulo, afirma que José Dirceu,
sentenciado a dez anos e dez meses de prisão, foi condenado sem provas
pelo STF. Ainda mais agora que o uso da teoria do domínio do fato foi
desautorizado pelo próprio criador, o jurista Claus Roxin. Leia:
A voz das provas
Relator Joaquim Barbosa se expandiu em imputações compostas só de palavras; tem sido um comportamento reiterado
Foi uma das coincidências de tipo raro, por sua
oportunidade milimétrica e preciosa. Várias peculiaridades do julgamento
no STF, ontem, foram antecedidos pela manchete ao pé da página A6 da Folha
de domingo, título de uma entrevista com o eminente jurista alemão
Claus Roxin: "Participação no comando de esquema tem de ser provada".
O subtítulo realçava tratar-se de "um dos responsáveis por
teoria citada no julgamento do STF", o "domínio do fato". A expressão
refere-se ao conhecimento de uma ocorrência, em princípio criminosa, por
alguém com posição de realce nas circunstâncias do ocorrido. É um fator
fundamental na condenação de José Dirceu, por ocupar o Gabinete Civil
na época do esquema Valério/PT.
As jornalistas Cristina Grillo e Denise Menchen
perguntaram ao jurista alemão se "o dever de conhecer os atos de um
subordinado não implica corresponsabilidade". Claus Roxin: "A posição
hierárquica não fundamenta, sob nenhuma circunstância, o domínio do
fato. O mero ter que saber não basta". E citou, como exemplo, a
condenação do ex-presidente peruano Alberto Fujimori, na qual a teoria
do "domínio do fato" foi aplicada com a exigência de provas (existentes)
do seu comprometimento nos crimes. A teoria de Roxin foi adotada, entre
outros, pelo Tribunal Penal Internacional.
Tanto na exposição em que pediu a condenação de José
Dirceu como agora no caótico arranjo de fixação das penas, o relator
Joaquim Barbosa se expandiu em imputações compostas só de palavras, sem
provas. E, em muitos casos, sem sequer a possibilidade de se serem
encontradas. Tem sido o comportamento reiterado em relação à quase
totalidade dos réus.
Em um dos muitos exemplos que fundamentaram a definição de
pena, foi José Dirceu quem "negociou com os bancos os empréstimos". Se
assim foi, é preciso reconsiderar a peça de acusação e dispensar Marcos
Valério de boa parte dos 40 anos a que está condenado. A alternativa é
impossível: seria apresentar alguma comprovação de que os empréstimos
bancários tiveram outro negociador -o que não existiu segundo a própria
denúncia.
Outro exemplo: a repetida acusação de que José Dirceu pôs
"em risco o regime democrático". O regime não sofreu risco algum, em
tempo algum desde que o então presidente José Sarney conseguiu
neutralizar os saudosos infiltrados no Ministério da Defesa, no Gabinete
Militar e no SNI do seu governo. A atribuição de tanto poder a José
Dirceu seria até risível, pelo descontrole da deformação, não servisse
para encaminhar os votos dos seguidores de Joaquim Barbosa.
Mais um exemplo, só como atestado do método geral. Sobre
Simone Vasconcelos foi onerada com a acusação de que "atuou
intensamente", fórmula, aliás, repetida de réu em réu. Era uma
funcionária da agência de Marcos Valério, por ele mandada levar pacotes
com dinheiro a vários dos também processados. Não há prova de que
soubesse o motivo real das entregas, mesmo admitindo desde a CPI, com
seus depoimentos de sinceridade incomum no caso, suspeitar de motivo
imoral. Passou de portadora eventual a membro de quadrilha e condenada
nessa condição.
Ignoro se alguém imaginou absolvições de acusados de
mensalão. Não faltam otimistas, nem mal informados. Mas até entre os
mais entusiastas de condenações crescem o reconhecimento crítico do
descritério dominante, na decisão das condenações, e o mal-estar com o
destempero do relator Joaquim Barbosa. Nada disso "tonifica" o Supremo,
como disse ontem seu presidente Ayres Britto. Decepciona e deprecia-o -o
que é péssimo para dentro e para fora do país.
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