"Nós temos que nos posicionar, não podemos esperar. A cada dia surgem
novos fatos. Nós precisamos que o Ministério Público abra um novo
inquérito para investigar tudo isso", diz o parlamentar. Mas o que
motiva este ódio por parte de alguém que até 2004 integrava a base do
governo Lula e que hoje o pinta quase como um demônio que deve ser
expulso do convívio com os demais mortais?
O antigo comunista, sempre teve até 2002 um amplo apoio da população
pernambucana, em especial os dos que fazem o chamado voto de opinião.
Naquela eleição, contudo, Freire foi o menos votado, angariando apenas
54.003 votos, elegendo-se com certa dificuldade. Naquela ocasião, ele
atribuiu o seu fraco desempenho por estar ao lado do candidato Ciro
Gomes, que estava em queda livre nas pesquisas. Poucos anos depois, ele
aparecia como suplente do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) e em 2008
acabou transferindo seu domicílio eleitoral para São Paulo, onde
garantiu uma sobrevida política.
Esta decadência vem justamente da fatia do eleitorado do qual ele optou
por se afastar. Em 1998, quando Jarbas Vasconcelos foi eleito governador
de Pernambuco com mais de um milhão de votos em cima de Miguel Arraes
(PSB), Freire apoiou o peemedebista. Desta forma, acabou associado a um
certo ranço e conservadorismo político que resultou num distanciamento
paulatino daquele eleitor que até então lhe era fiel.
A sua chegada em São Paulo foi marcada por um discurso onde o
parlamentar afirmava querer construir uma alternativa de esquerda para o
Brasil, nem que para isso fosse necessário associar-se ao PSDB. Na
ocasião, em entrevista, o deputado declarou que "São
Paulo é um Estado onde o PT não tem hegemonia, é derrotado pela
esquerda da social democracia brasileira, concentrada no Estado".
Sob esta ótica, ele condenou – e condena – a aproximação com governos
“bolivarianos “ como o de Hugo Chavéz, e com o Movimento dos
Trablahadores Rurais Sem Terra (MST), a que já taxou como sendo uma
"gente de visão atrasada, presa a dogmas passados".
Até mesmo programas sociais que se mostraram de uma eficácia inegável e
que são uma referência mundial no quesito de distribuição de renda, como
o Bolsa-Família, foram desqualificados por ele. “Política compensatória
é um coronelismo moderno, com cartão eletrônico", disse.
O rompimento com o Partido dos Trabalhadores veio ainda no primeiro
mandato de Lula, em 2004, e antes que estourasse o escândalo do
Mensalão. Foi ali que o antigo comunista começou a esbravejar contra
tudo e contra todos. E não faltaram críticas. Desde taxar o governo Lula
de “neoliberal”, de “não promover alterações na política econômica”,
até ao fato do PT “não possuir um projeto de governo”, tudo foi alvo
para a metralhadora giratória de Freire.
A partir daí, o adesismo ao PSDB foi quase uma marca do PPS, o que
acabou por enfraquecer a representatividade da legenda. Basta lembrar
que quando Ciro Gomes foi candidato à Presidência o partido chegou a ter
quase 20 parlamentares no Congresso, hoje tem apenas a metade.
Na ocasião do seu afastamento do PT, Freire brigou até mesmo com Ciro
Gomes, que não quis entregar o cargo que ocupava no Ministério da
Integração Nacional. Nestas eleições, contudo, ele apoiou o socialista
Roberto Cláudio – indicado pelos irmãos Cid e Ciro Gomes – contra o
candidato ungido pelo PT. Acabou saindo-se vencedor, o que pode
representar uma tentativa de reaproximação com o antigo correligionário
que hoje integra o quadro socialista. O rancor também é apontado por
alguns integrantes do PPS como uma das molas que move o deputado.
Segundo estes, os desafetos e a discordância acabam gerando uma mágoa
profunda do dirigente do PPS que costuma ser levada às últimas
consequências.
No jogo político nada mais natural que partidos associem-se e se separem
conforme determinadas circunstâncias apareçam. O que não é natural é
negar avanços legítimos e cobrar “justiça” com base em denúncias não
comprovadas. Partidos como o PSDB, por exemplo, sempre foram rivais
históricos do PT e mantém uma coerência nesta linha ideológica. Já
Roberto Freire parece ter perdido o rumo da bússola que o norteava
quando era um integrante admirado, invejado e respeitado, tanto por
partidos de esquerda como pelos de centro-direita, à frente do PCB.
Da redação, com informações do PE 247.
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