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Por Altamiro Borges
O relatório da CPI do Cachoeira corre o risco de não ser
votado ou de ser totalmente desfigurado. A gritaria contra o relator, deputado
Odair Cunha (PT-MG), é espantosa. Ele já foi rotulado de “louco”, “vingativo”,
“charlatão” e de outros adjetivos. A fúria parte de vários cantos. Dos “viúvos
de Demóstenes”, travestidos de arautos da ética. Da oposição demotucana,
abatida com o pedido de indiciamento do governo Marconi Perillo. E,
principalmente, da mídia privada, que não aceita a inclusão do editor da Veja
no relatório da CPI.
Neste caso, os barões da mídia deixaram de lado a
concorrência de mercado e parecem ter firmado um pacto mafioso em defesa de
Policarpo Jr., o serviçal da famiglia Civita que manteve relações comprovadas
com a quadrilha de Carlinhos Cachoeira. Os jornalões de hoje publicaram
editoriais raivosos contra o resultado da Comissão Parlamentar Mista de
Inquérito. Os seus “calunistas” de plantão também foram acionados. O discurso da
máfia midiática é sempre o mesmo. O relatório “atenta contra a liberdade de
expressão”.
"História invejável de serviços prestados"
A direção da revista Veja emitiu uma nota lacônica e
patética. “Ao pedir o indiciamento do jornalista de Veja Policarpo Júnior, o
relator Odair Cunha, do PT de Minas, não conseguiu esconder sua submissão às
pressões da ala radical de seu partido que, desde a concepção da CPI,
objetivava atingir a credibilidade da imprensa livre por seus profissionais
terem tido um papel crucial na revelação do escândalo do "mensalão" -
o maior e mais ousado arranjo de corrupção da história oficial brasileira”.
Ainda segundo a nota, o relator da CPI tentou “desqualificar
o exemplar e meritório trabalho jornalístico de Policarpo Júnior, diretor da
sucursal de Brasília e um dos redatores-chefes da revista Veja, dono de uma
história invejável de serviços prestados aos brasileiros”. Quais serviços? A
fabricação de “reporcagens” com base em grampos ilegais da quadrilha criminosa?
As matérias para beneficiar os “negócios” do mafioso? Afinal, por que o
“Caneta”, íntimo de Cachoeira, não pode ser indiciado? O que a famiglia Civita tanto
teme?
Folha e Estadão defendem o concorrente
A reação da revista Veja já era esperada. Acuada, ela se
torna mais agressiva. O que chama a atenção é a reação do restante da mídia
privada. Ela parece ter culpa no cartório. A Folha de hoje, em editorial, bateu
duro na “CPI da insensatez”. Ela jura que Policarpo Junior manteve apenas uma
relação do “jornalista com sua fonte”. Afirma que ele nem foi ouvido pela CPI,
omitido de quem foi a culpa pela sua não convocação. E conclui que o relator
tentou servir à ala do ex-presidente Lula, “ávida por fustigar opositores e
imprensa”.
No mesma toada, o Estadão também ataca Lula, que impôs a CPI
para se “vingar” dos inimigos – o tucano Perillo, o procurador Gurgel e, lógico,
a mídia. “A existência do número do telefone de Policarpo na memória do celular
do bicheiro bastou para que o jornalista, autor de várias reportagens que
desagradaram ao PT, Lula e à cúpula do governo Dilma, passasse a ser réu em
potencial... O relatório prova que Cachoeira foi só pretexto. O título correto
seria CPI do talião: olho por olho, dente por dente”, conclui o cínico
editorial.
Medo da regulação da mídia
Além dos editoriais, vários “calunistas” amestrados já tentam desqualificar o relatório. Eliane Cantanhêde, a da “massa cheirosa” do PSDB, afirma que a CPI virou um “triste pastelão”. Já Ricardo Noblat, o blogueiro preferido da famiglia Marinho, saiu em defesa da famiglia concorrente. “Lula não perdoa a Veja por ter batido forte nos seus dos governos”. Ou seja: o pacto foi firmado para defender a revista Veja e para salvar a máfia midiática de futuras investigações ou de propostas de regulação deste setor estratégico.
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