Revista Fórum
Depois do estrepitoso fracasso da sua estratégia de inflar artificialmente os números de Serra, produzindo um monstrengo em forma de sanfona que nenhum analista político sério reconheceria como verossímil, o DataFolha repete a mesma prática com os números de São Paulo, recusando-se a registrar a subida de Mercadante que até mesmo o Ibope já reconheceu.
Por Idelber Avelar
[28 de agosto de 2010 - 15h47]
Completaram-se exatos doze meses da imortal declaração de Carlos Augusto Montenegro, presidente do Ibope, à revista Veja, acerca da sucessão presidencial. Citemos, pois recordar é viver: O partido [PT] deu um passo a mais na direção do seu fim. . . A Dilma, em qualquer situação, teria 1% dos votos. Com o apoio de Lula, seu índice sobe para esse patamar já demonstrado pelas pesquisas, entre 15% e 20%. Esse talvez seja o teto dela. A transferência de votos ocorre apenas no eleitorado mais humilde. Mas isso não vai decidir a eleição. Foi-se o tempo em que um líder muito popular elegia um poste.
O gênio Montenegro, mais de um ano antes das eleições e diante do presidente mais popular da história do Brasil, decidira que o “poste” não seria eleito e que seu teto era 20%. Deixando de lado o desrespeito da referência ("poste") a uma mulher que já havia sido secretária da Fazenda e das Minas e Energia do Rio Grande do Sul, ministra das Minas e Energia e ministra-Chefe da Casa Civil (assumindo este último cargo durante a maior crise institucional do país desde a queda de Collor), Montenegro colocou a credibilidade de seu instituto na berlinda, fazendo futurologia com nítidos de ares de torcida. Nada tenho contra quem torce pelos seus candidatos, mas em certas posições (presidência de institutos de pesquisa, ministério do Tribunal Eleitoral), convenhamos que é melhor esconder as preferências. Montenegro deixou que as suas interferissem na análise.
Além de tropeçar na futurologia, Montenegro também tropeçava nas referências ao passado. Na mesma entrevista, ele disse: Nas eleições municipais de 2008, entre as 100 maiores cidades, o PT perdeu em quase todas. Montenegro deveria ter consultado com mais atenção os números do Tribunal Superior Eleitoral, pois nos municípios brasileiros com mais de 200.000 eleitores, o PT foi o partido que mais venceu em 2008. Naquelas eleições municipais, no chamado G-78 o PSDB teve 13 vitórias, o PMDB teve 18 e o PT teve 20 [Contagem (MG), S.B.do Campo |(SP), Mauá (SP), Guarulhos (SP), Petrópolis (RJ), Anápolis (GO), Canoas (RS), Joinville (SC), Rio Branco (AC), Fortaleza (CE), Cariacica (ES), Vitória (ES), Betim (MG), Recife (PE), Belford Roxo (RJ), Nova Iguaçu (RJ), Porto Velho (RO), Carapicuíba (SP), Diadema (SP), Osasco (SP)]. Somadas às duas vitórias do PC do B (Olinda e Aracaju), às cinco do PDT (Macapá, Serra, Niterói, São Gonçalo e Campinas) e às quatro do PSB (Belo Horizonte, João Pessoa, São José do Rio Preto e São Vicente), as forças aliadas ao presidente Lula saíram das eleições municipais governando 59 entre as 78 maiores cidades do país. Mas, para Montenegro, o PT havia perdido “quase todas”.
Por tudo isso, o gesto de Montenegro é bastante louvável. Mas já que se desculpou de suas estapafúrdias certezas acerca do futuro, ele poderia ter aproveitado a oportunidade para se desculpar também por traficar informações falsas sobre o passado recente.
Enquanto isso, o DataFolha segue em seu autismo. Depois do estrepitoso fracasso da sua estratégia de inflar artificialmente os números de Serra, produzindo um monstrengo em forma de sanfona que nenhum analista político sério reconheceria como verossímil, o DataFolha repete a mesma prática com os números de São Paulo, recusando-se a registrar a subida de Mercadante que até mesmo o Ibope já reconheceu. No excelente gráfico feito por Alê Porto, é possível ver a discrepância entre os números da eleição presidencial do DataFolha e dos outros institutos:
O gênio Montenegro, mais de um ano antes das eleições e diante do presidente mais popular da história do Brasil, decidira que o “poste” não seria eleito e que seu teto era 20%. Deixando de lado o desrespeito da referência ("poste") a uma mulher que já havia sido secretária da Fazenda e das Minas e Energia do Rio Grande do Sul, ministra das Minas e Energia e ministra-Chefe da Casa Civil (assumindo este último cargo durante a maior crise institucional do país desde a queda de Collor), Montenegro colocou a credibilidade de seu instituto na berlinda, fazendo futurologia com nítidos de ares de torcida. Nada tenho contra quem torce pelos seus candidatos, mas em certas posições (presidência de institutos de pesquisa, ministério do Tribunal Eleitoral), convenhamos que é melhor esconder as preferências. Montenegro deixou que as suas interferissem na análise.
Além de tropeçar na futurologia, Montenegro também tropeçava nas referências ao passado. Na mesma entrevista, ele disse: Nas eleições municipais de 2008, entre as 100 maiores cidades, o PT perdeu em quase todas. Montenegro deveria ter consultado com mais atenção os números do Tribunal Superior Eleitoral, pois nos municípios brasileiros com mais de 200.000 eleitores, o PT foi o partido que mais venceu em 2008. Naquelas eleições municipais, no chamado G-78 o PSDB teve 13 vitórias, o PMDB teve 18 e o PT teve 20 [Contagem (MG), S.B.do Campo |(SP), Mauá (SP), Guarulhos (SP), Petrópolis (RJ), Anápolis (GO), Canoas (RS), Joinville (SC), Rio Branco (AC), Fortaleza (CE), Cariacica (ES), Vitória (ES), Betim (MG), Recife (PE), Belford Roxo (RJ), Nova Iguaçu (RJ), Porto Velho (RO), Carapicuíba (SP), Diadema (SP), Osasco (SP)]. Somadas às duas vitórias do PC do B (Olinda e Aracaju), às cinco do PDT (Macapá, Serra, Niterói, São Gonçalo e Campinas) e às quatro do PSB (Belo Horizonte, João Pessoa, São José do Rio Preto e São Vicente), as forças aliadas ao presidente Lula saíram das eleições municipais governando 59 entre as 78 maiores cidades do país. Mas, para Montenegro, o PT havia perdido “quase todas”.
Por tudo isso, o gesto de Montenegro é bastante louvável. Mas já que se desculpou de suas estapafúrdias certezas acerca do futuro, ele poderia ter aproveitado a oportunidade para se desculpar também por traficar informações falsas sobre o passado recente.
Enquanto isso, o DataFolha segue em seu autismo. Depois do estrepitoso fracasso da sua estratégia de inflar artificialmente os números de Serra, produzindo um monstrengo em forma de sanfona que nenhum analista político sério reconheceria como verossímil, o DataFolha repete a mesma prática com os números de São Paulo, recusando-se a registrar a subida de Mercadante que até mesmo o Ibope já reconheceu. No excelente gráfico feito por Alê Porto, é possível ver a discrepância entre os números da eleição presidencial do DataFolha e dos outros institutos:
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