Em entrevista publicada hoje no jornal O Globo, Mauro Paulino, presidente do instituto Datafolha confirma:
Mantida a tendência de crescimento da candidata Dilma Rousseff (PT), que só mudará se ocorrer um fato muito relevante, a eleição presidencial terminará no primeiro turno, avalia o diretor do Datafolha, Mauro Paulino. Segundo ele, o crescimento da candidata é impulsionado pelo reconhecimento da ligação dela com o presidente Lula e seu governo, muito bem avaliado: "Essa tendência é de continuidade do crescimento porque mais pessoas estão tomando conhecimento da ligação de Dilma com Lula. Como o governo é muito bem avaliado, ainda há potencial para crescer mais."
Segundo Paulino, a tendência de crescimento de Dilma só deverá parar se ocorrer um fato que cause comoção nacional, ou se houver mudança significativa nos programas eleitorais de PT PSDB: "Essa vinculação da candidata ao presidente foi concretizada a partir da TV. Não só pelo horário eleitoral, mas, antes, pela participação de Dilma em telejornais. Ela participou de várias entrevistas".
O diretor do Datafolha disse ser pouco provável que haja uma ação capaz de deter essa tendência: "Se a campanha continuar como está, a probabilidade é que a eleição seja decidida no primeiro turno". Paulino frisou a solidez do crescimento de Dilma. "O crescimento acontece em todos os segmentos, em todos os setores, em todas as regiões."
Quando em maio desse ano, começou a ficar clara a diferença dos resultados entre os principais institutos de pesquisa, comecei a identificar na taxa dos eleitores que sabiam que Dilma Rousseff é a candidata apoiada pelo presidente Lula, a razão da diferença. Já em julho, segundo o Vox Populi, essa taxa alcançava os 82%, enquanto no Datafolha se mantinha na casa dos 70%. A maior intenção de votos em Dilma entre os homens, também podia se explicada por essa maior identificação. Enquanto 82% dos homens já tinham essa informação, entre as mulheres, não passava de 65%. A diferença era ainda mais relevante se levarmos em conta que esse eleitorado desinformado é o mais identificado com as políticas sociais do governo. Aquele que para o cientista político Carlos Mello, "está com Lula até à medula". Parecia claro que quando no Datafolha aumentasse essa identificação, maior seria o crescimento de Dilma. Era uma questão de tempo, além de metodologia, pois o Vox Populi antecipava em seu questionário essa identificação. Tanto que criei no Twitter um bordão para Dilma: "falem mal, mas falem que eu sou situação e o Serra é oposição".
De fato, nessa última pesquisa Datafolha, a taxa dos eleitores brasileiros que sabem que Dilma é a candidata apoiada pelo presidente Lula cresceu 9 pontos percentuais, em apenas 12 dias (pág. 29). Na pesquisa divulgada em 12 de agosto, 76% tinham conhecimento do fato. Agora, esse índice vai a 85%. Nesse período, o índice cresceu especialmente no Nordeste e entre os que têm menor renda familiar mensal. Também nessa pesquisa, para 45% do eleitorado, o apoio do presidente o levaria a escolher esse candidato com certeza. Se somarmos os 18% que talvez levassem em conta o apoio, o potencial de intenções de votos na candidata oficial chega a 63%. Mais relevante ainda é identificar que 15% dos pesquisados que apontaram o nome do candidato José Serra, querem votar num nome apoiado pelo presidente, mas ainda não sabem quem é (pág. 30). Isso representa aproximadamente 4,5% do eleitorado, que, em tese, migraria automaticamente de Serra para Dilma. A diferença que já está em 20 pontos percentuais, poderia crescer para até 29%.
Flagrante do jacaré abrindo a boca, em gráfico criado por Alexandre Campbell e incluindo pesquisas de todos os institutos. |
Diante desses dados, dessa tendência cresce entre os cientistas políticos a tese de que só um "fato novo" poderia alterar os rumos dessa eleição. Em condições normais de temperatura e pressão, a vitória de Dilma ainda no primeiro turno, parece irreversível. Mas o que poderia ser esse "fato novo"? Quem estaria buscando, nos 35 dias que ainda faltam para 3 de outubro, um fato novo? A ansiedade daquilo que chamo de "oposição escrita, falada, televisionada e plítica" é tão grande que em vez de um "fato novo", resolveram requentar o tal "Dossiê Eduardo Jorge". Tão antigo que foi matéria da revista IstoÉ em julho de 2002, quando ele comandava a campanha do tucano José Serra à presidência.
Partidos de oposição indignados pedem às autoridades providências contra mais essa evidência do "aparelhamento petista" da Receita Federal e a criação de dossiês contra Serra. Indignação essa que não foi vista quando "demotucanos" de alto calibre divulgaram dados confidenciais de petistas, como bem mostra o cineasta Jorge Furtado, no blog do Luís Nassif. A matéria publicada no Globo de 11/10/2006, anota:
O fato é que caso não apareça nenhum fato realmente novo, vamos sofrer mais uma tentativa de lavagem cerebral sobre esse caso. Que houve uma quebra de sigilo, parece não haver dúvidas, mas ainda não está clara a autoria do crime. O jornalista Merval Pereira, no Jornal das Dez, da Globonews, acusou o jornalista Luiz Lanzetta, que era até há poucos meses, responsável pela contratação da equipe de comunicação da campanha Dilma. Por outro lado, Lanzetta é amigo do jornalista Amaury Ribeiro Jr, que investigou esquemas supostamente ilegais ocorridos em privatizações feitas entre 1995 e 2002, na gestão tucana, e prepara um livro no qual mostraria "Os porões da privataria". Leia a introdução ao livro. Nela, são citados Ricardo Sérgio e Gregório Preciado, nomes que também tiveram seus sigilos vazados segundo informou ontem os jornais. A Folha de S. Paulo que agora sustenta a necessidade da divulgação dos depoimentos que Dilma deu a seus torturadores, no período em que ficou presa nos porões da "ditabranda", deveria também divulgar as relações de José Serra com os citados, Ricardo Sérgio e Gregório Preciado, que nos anos da chamada "privataria", frequentaram quase que diariamente suas páginas.
[...] o deputado Fernando Gabeira diz que a CPI vai apurar um suposto depósito de R$ 396 mil feito pelo investidor Naji Nahas na conta de Freud. O ex-assessor nega que tenha recebido o depósito e questiona a origem da informação. "Pelo que se denota da matéria, houve quebra ilegal de sigilo bancário. Não há qualquer decisão judicial autorizando a divulgação ou acesso aos dados bancários seja de Freud, seja da empresa Caso (pertencente à mulher dele). Cabe ao deputado, fonte da matéria, explicar onde obteve essa falsa informação", diz a nota, na qual Freud informa que vai enviar ofício à CPI com os extratos de suas contas correntes.
Em carta divulgada hoje, o presidente do PT José Eduardo Dutra rebate acusações sistemáticas da Folha contra o PT.
Os próximos passos serão talvez tão emocionantes quanto os debates dos presidenciáveis, mas parece pouco provável que esse "fato requentado" possa alterar os rumos das eleições. Afinal de contas, se em 2006, uma interminável enxurrada de denúncias não foi capaz de alterar substancialmente os resultados das eleições, não será agora que essa tática funcionará.
A violação de dados protegidos por sigilo legal é incompatível com o estado democrático de direito. O PT defende a apuração rigorosa das responsabilidades pelos vazamentos noticiados na imprensa. É o que está sendo feito pela Corregedoria da Receita Federal e pela Polícia Federal por representação do PT, visando esclarecer a divulgação de dados do vice-presidente do PSDB.
O PT está requerendo à PF que amplie aquela investigação, de forma a esclarecer também o vazamento de informações sigilosas da Corregedoria da Receita. A Folha tem insistido em prejulgar os fatos, imputando à nossa campanha responsabilidade por episódios ocorridos um ano atrás, quando sequer a pré-candidatura havia sido formalizada no PT.
Trata-se de acusação sem fundamento, sem lastro em fontes, provas, sequer evidências, que a Folha vem fazendo sistematicamente, desde 4 de junho, e repete na edição de 26/08. O PT não fez, não fará nem admite que em seu nome se faça qualquer tipo de ação fora da lei. A campanha de Dilma é pautada pelo debate propositivo, sobre os avanços dos últimos anos e propostas para o futuro. Nada vai nos tirar desse caminho.
Se a Folha teve acesso a dados sigilosos, cabe ao jornal esclarecer sua origem, antes de lançar acusações ao PT e à campanha. A nós interessa a verdade, com o esclarecimento cabal de todo o ocorrido nesses lamentáveis episódios.
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