Nunca antes neste país
AYRTON CENTENO
O Brasil assiste pasmo, no horário eleitoral, algo nunca antes visto em qualquer campanha eleitoral. Não só ninguém ataca o atual presidente da República como quatro candidatos, todos disputando o privilégio de sentar-se na sua cadeira, expõem-se junto à figura presidencial na televisão. O mais importante é que, de todos, somente um é o real candidato de Lula, é de seu partido e pertence à situação: Dilma Roussef. Os demais portam-se como se fosse impossível resistir à força centrípeta que tudo e todos atrai. Como se fosse inevitável submeter a natureza de cada um aos desígnios deste eixo poderoso da campanha eleitoral de 2010.
Dos três restantes, um está à direita de Lula, do governo e do PT. Seu partido fez-lhe oposição durante sete anos e meio, mas, de repente, o que era feio virou bonito, o que era água virou vinho e o que era erro virou acerto. Errado, portanto, estava o PSDB, partido de José Serra, durante os últimos sete anos e meio. Antes distante, Serra tornou-se tão próximo de Lula que virou Zé, o Zé da Moóca. No programa de seu maior adversário, Lula é elevado ao pedestal dos grandes homens onde, para a surpresa geral da nação, encarapita-se também o Zé.
Os demais são opositores pela esquerda. Pelo PSol, Plínio de Arruda Sampaio não esqueceu de incluir nas suas aparições os velhos tempos de PT e o ex-companheiro de caminhada. Uma deferência à inegável história das lutas partilhadas pelos dois até determinado momento, uma elegância que nem de longe remete à ferocidade udenista e apoplética da Heloísa Helena de 2006. Mais notável ainda é o irascível PSTU, surgido de outra costela do PT, reservar à estampa de Lula alguns instantes de seu precário tempo de TV. Zé Maria – este um Zé de verdade e não de plástico – apareceu junto a Lula nos remotos tempos de sindicato. Claro que, tanto com Plínio quanto com Zé Maria, Lula é visto como alguém que tomou rumos diferentes daqueles que seriam os desejados pela classe trabalhadora, que se aproximou dos políticos tradicionais, dos banqueiros etc. Mas, em ambos, a imagem do adversário como parceiro – mesmo que seja ex-parceiro — revela uma força própria e até certa reverência.
Presidentes em fim de mandato não costumam ser populares. Em 1989, no primeiro confronto presidencial em 25 anos, José Sarney foi esquartejado no horário nobre. Não houve ninguém, nem Ulysses Guimarães, candidato do seu PMDB, que se dignasse a citar, muito menos a defender o ainda presidente e seu governo agonizante.
São lições que não foram esquecidas. Hoje, enquanto Lula sobrepaira o horário eleitoral como santo de devoção, um ente fantasmagórico perambula pelos desvãos da campanha. Toca, mas não é tocado; ouve, mas não é ouvido; vê, mas não é visto. Anseia por uma palavra, uma imagem, uma lembrança. Nada. Para seus amigos de fé, irmãos, camaradas, ele é uma abstração. Não existe, talvez nunca tenha mesmo existido. É o passado. “E quem quer falar do passado?”, indagam a quem pergunta pelo morto-vivo.
Ninguém quer saber de FHC. É tratado como um estorvo, uma anomalia que a família oculta para não assustar as visitas e para que não a julguem pelo proscrito. A ele ninguém pede um apoio, uma frase, um sorriso para a câmera, por favor. Porém, para horror dos seus próximos, FHC e seus oito anos de poder também assombram 2010 por conta da comparação entre os dois mandatos, o que vai terminar este ano e o que terminou em 2003. Ele pode continuar vagando como um ectoplasma, mas o julgamento que se fará em outubro não deixará de alcançar sua obra e todos os seus pares.
Brasília Confidencial
O Brasil assiste pasmo, no horário eleitoral, algo nunca antes visto em qualquer campanha eleitoral. Não só ninguém ataca o atual presidente da República como quatro candidatos, todos disputando o privilégio de sentar-se na sua cadeira, expõem-se junto à figura presidencial na televisão. O mais importante é que, de todos, somente um é o real candidato de Lula, é de seu partido e pertence à situação: Dilma Roussef. Os demais portam-se como se fosse impossível resistir à força centrípeta que tudo e todos atrai. Como se fosse inevitável submeter a natureza de cada um aos desígnios deste eixo poderoso da campanha eleitoral de 2010.
Dos três restantes, um está à direita de Lula, do governo e do PT. Seu partido fez-lhe oposição durante sete anos e meio, mas, de repente, o que era feio virou bonito, o que era água virou vinho e o que era erro virou acerto. Errado, portanto, estava o PSDB, partido de José Serra, durante os últimos sete anos e meio. Antes distante, Serra tornou-se tão próximo de Lula que virou Zé, o Zé da Moóca. No programa de seu maior adversário, Lula é elevado ao pedestal dos grandes homens onde, para a surpresa geral da nação, encarapita-se também o Zé.
Os demais são opositores pela esquerda. Pelo PSol, Plínio de Arruda Sampaio não esqueceu de incluir nas suas aparições os velhos tempos de PT e o ex-companheiro de caminhada. Uma deferência à inegável história das lutas partilhadas pelos dois até determinado momento, uma elegância que nem de longe remete à ferocidade udenista e apoplética da Heloísa Helena de 2006. Mais notável ainda é o irascível PSTU, surgido de outra costela do PT, reservar à estampa de Lula alguns instantes de seu precário tempo de TV. Zé Maria – este um Zé de verdade e não de plástico – apareceu junto a Lula nos remotos tempos de sindicato. Claro que, tanto com Plínio quanto com Zé Maria, Lula é visto como alguém que tomou rumos diferentes daqueles que seriam os desejados pela classe trabalhadora, que se aproximou dos políticos tradicionais, dos banqueiros etc. Mas, em ambos, a imagem do adversário como parceiro – mesmo que seja ex-parceiro — revela uma força própria e até certa reverência.
Presidentes em fim de mandato não costumam ser populares. Em 1989, no primeiro confronto presidencial em 25 anos, José Sarney foi esquartejado no horário nobre. Não houve ninguém, nem Ulysses Guimarães, candidato do seu PMDB, que se dignasse a citar, muito menos a defender o ainda presidente e seu governo agonizante.
São lições que não foram esquecidas. Hoje, enquanto Lula sobrepaira o horário eleitoral como santo de devoção, um ente fantasmagórico perambula pelos desvãos da campanha. Toca, mas não é tocado; ouve, mas não é ouvido; vê, mas não é visto. Anseia por uma palavra, uma imagem, uma lembrança. Nada. Para seus amigos de fé, irmãos, camaradas, ele é uma abstração. Não existe, talvez nunca tenha mesmo existido. É o passado. “E quem quer falar do passado?”, indagam a quem pergunta pelo morto-vivo.
Ninguém quer saber de FHC. É tratado como um estorvo, uma anomalia que a família oculta para não assustar as visitas e para que não a julguem pelo proscrito. A ele ninguém pede um apoio, uma frase, um sorriso para a câmera, por favor. Porém, para horror dos seus próximos, FHC e seus oito anos de poder também assombram 2010 por conta da comparação entre os dois mandatos, o que vai terminar este ano e o que terminou em 2003. Ele pode continuar vagando como um ectoplasma, mas o julgamento que se fará em outubro não deixará de alcançar sua obra e todos os seus pares.
Brasília Confidencial
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