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sábado, 28 de agosto de 2010

Bateu desespero

Com seu candidato despencando nas pesquisas, tucanos dão mostras de que não sabem o que fazer para reverter o quadro atual e adotam a estratégia da metralhadora giratória
Sérgio Pardellas – ISTOÉ


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ACUADO
Diante das críticas generalizadas, Serra teve que recuar
da decisão de centralizar o comando da campanha
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Diante da possibilidade real de Dil­ma Rousseff, a candidata do PT à Presidência, resolver a eleição no primeiro turno, os integrantes da equipe de José Serra passaram os últimos dias tentando juntar os cacos de uma campanha que, até agora, se mostrou desastrosa. Mas as reuniões, ao longo da semana, em vez de pacificarem o já conturbado ninho tucano, contribuíram para tensionar o ambiente ainda mais. Segundo apurou ISTOÉ, os encontros foram regados a críticas internas, discussões acaloradas e até ameaças de importantes caciques do PSDB de abandonar José Serra à própria sorte, caso suas exigências não fossem cumpridas. “Precisamos abrir mais a campanha. Do jeito que está não dá mais”, desabafou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em conversa com um importante dirigente do PSDB. Emparedado pelos aliados, que cobraram uma participação mais efetiva na campanha e mudanças no programa de tevê no horário eleitoral gratuito, Serra teve de ceder. Mas cobrou a liberação de recursos e o aumento da produção de material de campanha para ser remetido aos Estados. “Os protestos incomodaram muito o Serra, mas a situação é tão crítica que ele não teve outra alternativa senão acatar as reivindicações”, disse um dirigente tucano.
Os novos passos foram definidos em conversas, que, dessa vez, contaram com a presença do ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves e de FHC. O político mineiro teve um encontro com Sérgio Guerra, presidente nacional do PSDB, num café nos Jardins, zona sul de São Paulo. Já Fernando Henrique preferiu as articulações pelo telefone. “Apareço da maneira como acho que um ex-presidente deve aparecer, dando ideias, discutindo, mas não sou militante”, esclareceu. Os dois não eram consultados desde o processo de escolha de Índio da Costa (DEM) como vice na chapa tucana. O problema é que, antes mesmo de Aécio e FHC entrarem em campo, os tucanos mais afoitos já haviam colocado em curso, no início da semana, estratégias dignas de uma campanha totalmente sem rumo, acertadas durante encontro, na noite do domingo 22, no Hotel Hyatt, em São Paulo. Ficou decidido, por exemplo, que o PSDB iria aumentar o tom dos ataques ao PT, mas sem bater em Lula. Em campanha pelo interior, porém, um candidato a deputado federal pelo PSDB chegou a chamar Lula de embusteiro. Pelo DEM, coube ao vice Índio ser, mais uma vez, o porta-voz dos bombardeios. “Ela (Dilma) diz que lutou contra a ditadura. O que ela está oferecendo para o Brasil é uma nova ditadura”, atirou Índio. No programa eleitoral, o PSDB associou Dilma ao ex-ministro José Dirceu. E fez troça da estreita ligação da candidata do PT com o presidente Lula. “Do jeito que ela anda pendurada em Lula, se ele se afastar, ela cai”, disse o locutor do programa.
Na trincheira política, o partido decidiu investir suas fichas na eleição de quatro Estados: São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Goiás. Mas as duas apostas do PSDB foram malsucedidas. A decisão de privilegiar os quatro Estados abriu uma crise entre os aliados. “Estão provocando demais nossa paciência. Se Serra despencar também em Santa Catarina, será tarde”, protestou o vice de Raimundo Colombo (DEM) na chapa ao governo de SC, Eduardo Moreira (PMDB). E, ao tentar conquistar eleitores indecisos com ataques à candidata do PT, o comando da campanha de Serra escancarou a incongruência do seu discurso, dias depois de tentar atrelar a imagem de Serra à de Lula. A julgar pelas recentes pesquisas de opinião, que registram uma vantagem cada vez maior de Dilma, o eleitor não aprovou o comportamento tucano. “O Serra pirou de vez. Antes ele botou Lula no programa. Ele está na tática do time que está perdendo, do tudo ou nada”, disse o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP). Em 1994 e 1998, com o sucesso do Plano Real, o PT também teve dificuldade em se apresentar como alternativa ao então governo tucano. Dificuldade semelhante à que o PSDB encontra agora, no momento em que o País vive um cenário de consumo em alta e geração de empregos. A diferença é que o PT, um partido forte e orgânico, sobreviveu e chegou ao poder quatro anos depois. O que se percebe, agora, é um PSDB em frangalhos e com claros problemas internos.
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ATAQUE
Coube novamente a Índio da Costa o papel de francoatirador
Nesse ambiente, o fogo amigo tomou con­ta. Além do estilo centralizador de Serra, os alvos principais da ira dos tucanos e aliados foram Luiz Gonzalez, marqueteiro e idealizador dos programas na tevê, e José Henrique Reis Lobo, responsável pela área administrativa da campanha do PSDB. Lobo foi atacado por não querer investir de maneira pesada na mobilização de rua. “Tudo o que estamos fazendo já estava planejado e orçado. Os recursos não podem ser gastos com base em voluntarismos”, defendeu-se Lobo. A crítica a Gonzalez deve-se ao fato de ele produzir um programa monotemático na tevê, apresentando basicamente propostas para a área da saúde. Tucanos avaliaram ainda ter sido um erro colocar Lula na inserção televisiva de Serra. Normalmente contido, Gonzalez se defende: “Traçamos uma linha e estamos nos mantendo nela. Há um tempo para que se atinja uma maturação do processo. O Lula entrando com o peso da sua popularidade é injeção na veia. Já os sucessos administrativos de Serra funcionam como comprimidos.” Sérgio Guerra fez coro. “Os ajustes serão feitos com o tempo, de modo natural.” Mas nem os expoentes da campanha tucana acreditam mais. “Não creio mais na recuperação. A tevê foi a grande responsável pela nossa fragilização”, disparou o presidente do PTB, Roberto Jefferson.
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INCOERÊNCIA
Após atacar o governo, Serra coloca Lula em seu programa eleitoral
A constatação de fragilidade da campanha do PSDB rompeu fronteiras. Durante a semana, o jornal inglês “Financial Times” publicou que a campanha tucana está “caótica” e “praticamente baseada nos avanços na área de saúde”. O “FT” observou ainda que Serra nada tem a ver com o programa de governo tucano. “Ele deveria continuar a reforma do Estado iniciada na década de 90 por Fernando Henrique. Em vez disso, Serra permitiu que Dilma se posicionasse como a campeã da ortodoxia e da responsabilidade fiscal”, disse o texto. Respirando por aparelhos, a candidatura Serra tentará, nos próximos dias, suas últimas cartadas para sair da UTI. Uma das estratégias é turbinar a campanha em São Paulo. Além de já ter estabelecido uma agenda conjunta entre Serra e Geraldo Alckmin, candidato favorito ao governo, os tucanos vão promover um evento, na quarta-feira 1º, para 450 prefeitos. A expectativa é de que os representantes de municípios paulistas lotem o Credicard Hall, na zona sul da capital, e encampem o esforço concentrado para tentar levar a candidatura Serra pelo menos ao segundo turno. O esforço é válido. Mas pode ser tarde demais.


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Leituras Favre

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