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sábado, 3 de julho de 2010

AO TÉCNICO DESCONHECIDO - Djalma Filho

AO TÉCNICO DESCONHECIDO
(Djalma Filho)
Em 1959, aos sete anos de idade, eu descobri que o diabo jogava bola. À época, era simpatizante - e só simpatizante - do Esporte Clube Bahia - o Baêa, primeiro campeão brasileiro!... O Botafogo, com inúmeros jogadores da seleção campeã de 1958, iria jogar na Fonte Nova. Fui ao jogo... Lá, constatei que diabo é bom de bola!...
(Tornei-me torcedor do Flamengo em 1963, na minha primeira visita ao Maracanã - paixão a primeira vista)
O diabo é bom de bola!...
Preambulo para dizer-lhes que já vi muito futebol - e bom futebol; e que, a cada Copa que passa, cada vez mais o futebol se parece menos com futebol.
Rola, nos grupos de poesia que participo, um e-mail cujo cabeçalho é o seguinte:A FAVOR DE DUNGA-CONTRA A GLOBO- REPASSANDO P/AVALA?O DOS LEITORES.
Impressionante!... Em vez de discutirmos a qualidade do futebol hoje jogado, ficamos polarizando (ou bipolarizando) para assuntos menores. Qual dos dois está com a razão: o Dunga ou a Globo?...
Eu, como não sou de pipocar, responderei:
É estranho torcer por um time que não use a camisa do meu clube - o Clube de Regatas Flamengo -, mesmo que esse time vista camisa de seleção brasileira.
(Não. Não pensem que eu vou sair pela tangente não!)
Torço contra a seleção brasileira desde o tempo em que os jogadores, quando dependuravam as chuteiras, ficavam no ostracismo, esquecidos, quase na indigência. Não por ideologia alguma, mas sim, por clubismo, ou melhor, por Flamenguismo.
(Nem pelo Zico eu torcia, quando na seleção!...)
No entanto, de lá para cá, os jogadores "selecionáveis" passaram a ter status de prima-donas. Com seus salários astronômicos, incompatíveis com a realidade brasileira, fazem e desfazem, usam e abusam da minha paciência de gostar de ver um futebol bem jogado, do amor à camisa, de trazer - como diria Nelson Rodrigues - a pátria no bico das chuteiras. Enquanto nós, pobres mortais, que desenhamos, escrevamos, operamos, calculamos, que damos um duro danado!... que estudamos anos a fio para darmos o melhor de nós em nossa profissão, vemos seus salários cada vez mais acima da estratosfera e, cada vez mais, menos amor à pátria e menos futebol na seleção.
(O Ronaldinho, fenômeno e gordo, não seria nem o roupeiro da seleção de 1982)
Diz a lenda, que a seleção de 1958 era tão boa, que seu técnico, Vicente Foela, dormia enquanto o time jogava. Mas quem eram os jogadores de 58? Craques que choravam, que sorriam, que gingavam, que bailavam, que eram mestres, que só xingavam, adversários, que, do futebol, fizeram história e arte.
Em 1959, aos sete anos de idade, já sabia que o diabo era bom de bola. Estamos cada vez menos diabos!... O futebol era um homem de pernas tortas, encapetado, que descia pela ponta-direita, bola colada aos pés, e driblava um, dois, três, quatro, sete, onze, mil - um milhão de adversários, se houvesse. Um homem chamado Mané!... O Cão das pernas tortas, ex-caçador de garrinchas! Que, com humildade de ídolo, saia de campo sempre achando que fez pouco. No entanto, não era o Botafogo que trazia Garrincha, era Garrincha que levava o Botafogo.
E agora, Mané?!...
Faço um irrecuperável esforço de memória aqui, para me lembrar qual o nome do técnico do Botafogo à época. Não lembro. Importa?... Importa!... E é para corrigir esse erro histórico que peço, a quem de direito, que erijam com a maior urgência, urgência de cão, uma estátua a este técnico desconhecido. Ele ficará. A era dos Dungas, já acabou há muito!...
Nota do Autor: Coincidentemente, essa crônica foi escrita em 01/07/2010 - às vésperas do jogo Brasil X Holanda - quartas-de-final da Copa da África do Sul.

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