Das lições que o PT deve tirar das eleições: investir em serviços de qualidade e respeitar os movimentos sociais. Arrogância não leva a lugar nenhum. Por isso é preciso manter interlocução com todos os setores da sociedade brasileira e principalmente: investir em serviços de qualidade, por quê? Porque governo bem avaliado é governo reeleito. Governo mal avaliado, é governo reprovado. Simples de entender.
Jorge Viana: Prioridade do PT passa de inclusão a qualidade dos serviços públicos
publicado em 29 de outubro de 2012 às 18:32
Vitória em SP amplia coesão e cacife de Lula no PT
Por Caio Junqueira | De São Paulo
O prefeito eleito ontem por São Paulo, Fernando Haddad, subscreveu em
2005 uma espécie de manifesto intitulado Mensagem ao Partido. A
elaboração do texto foi liderada pelo então presidente do PT, Tarso
Genro, e propunha a refundação da legenda na sequência da crise do
mensalão. Uma clara oposição ao grupo que ficou conhecido como Campo
Majoritário, cujos principais protagonistas -José Dirceu à frente-
estampavam à época as páginas dos jornais em meio às denúncias do
mensalão. O manifesto também inaugurou uma nova corrente partidária
considerada mais à esquerda na sigla.
Desde então, Haddad passou a ser considerado como integrante da “Mensagem” e nunca questionou essa avaliação.
Até que no início deste ano, em uma reunião da corrente Construindo
um Novo Brasil (CNB), o novo nome do antigo Campo Majoritário, ele
passou por uma espécie de sabatina. O ponto alto ocorreu quando o
deputado federal Ricardo Berzoini (SP) disse que era importante ele se
posicionar sobre sua tendência interna e garantir que em caso de vitória
não iria favorecer nenhuma das muitas correntes que compõem e disputam o
poder interno da sigla. “Minha tendência é o PT”, respondeu.
Ali, foram selados dois rumos para o partido que o resultado de ontem
nas urnas em São Paulo irá reforçar. A diminuição dos embates internos
petistas que tanto caracterizaram o PT ao longo dos seus 32 anos de
história e a condução do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a uma
posição de influência como nunca antes exerceu sobre a legenda. Tanto
que, relatam petistas, o que mais se ouve hoje nas conversas sobre tudo
referente ao partido e ao governo é: “Já falou com o Lula?”.
Por essa razão, o debate das eleições internas no segundo semestre de
2013 se coloca hoje com ares de consenso: será eleito quem Lula
indicar. Afinal, ele elegeu dois técnicos desconhecidos — Dilma Rousseff
e Haddad — para os cargos mais importantes em disputa, respectivamente,
em 2010 e em 2012.
Assim, é certo que o PT se curvará a ele em 2013. “É o Lula que vai
decidir a próxima eleição interna. O fato de ele ter ganho a presidência
duas vezes, eleito a Dilma e depois o Haddad enfraqueceu todas as
tendências. Esse palco de tendências vai ficar diluído”, disse o
deputado Cândido Vaccarezza (PT), da CNB.
“As correntes ficaram muito parecidas. A definição dos postos
estratégicos no partido passa por um acordo com o Lula”, disse o líder
do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), e integrante da PT de Lutas e de
Massas. “Há um cenário de unidade. Lula tem faro político”, disse o
deputado Paulo Teixeira (SP), da “Mensagem”.
A questão controversa é que, a despeito da idolatria a Lula, ninguém
no partido concorda com a tese de que o PT, enquanto Lula existir, será
partido de um homem só, moldado no caciquismo político. Os petistas
prontamente rebatem a ideia, sob o argumento de que o que ali ocorre é
que Lula, por ser quem é, consegue arregimentar um maior número de
apoiadores para suas ideias que precisam estar em conexão com o
pensamento médio da legenda.
No caso da eleição interna de 2013, a dúvida é se haverá uma
consistente maioria do partido para avalizar a tese central de Lula já
referendada por Dilma de que a aliança preferencial da campanha de 2014 é
ao centro, com o PMDB, e não à esquerda, com o PSB. Ou, sob outra
ótica, se os descontentes com a opção já feita pelos dois principais
nomes do PT terão coragem e força suficiente para levar adiante a
polêmica e a insatisfação com essa opção.
Tendo por base essa dicotomia, nomes começam a circular no partido. O
atual presidente do PT, Rui Falcão (SP), é apontado como o que saiu na
frente. “Rui é favorito. Dirigiu a eleição pensando o país, foi o
presidente que mais percorreu os municípios neste ano, tratou a todos de
maneira igual, independentemente de correntes internas, fez o jogo todo
combinado com Lula e, na maioria dos Estados, tem quem articula para
ele”, afirmou o vice-líder do governo e vice-presidente do PT, deputado
José Guimarães (CE).
Em outra frente, circula o nome do presidente da Câmara dos
Deputados, Marco Maia (RS), que deixa o cargo em fevereiro. Ele garante
que isso não está em debate ainda, mas que a lembrança de seu nome é
“natural”. “Deixo o cargo em fevereiro, serei um quadro “solto”, não há
disputa eleitoral em 2013 e o fato de ter passado pela presidência da
Câmara me dá uma condição nacional. Mas, ao mesmo tempo, não gostaria de
participar de uma disputa, preferiria trabalhar por um acordo”,
declarou.
A lógica pensada por seu grupo na bancada é reproduzir no partido as
mesmas condições que o levaram a ser eleito presidente da Câmara: o
apoio de integrantes de todos os Estados e de todas as correntes
políticas internas do PT — o que também mostra como elas perderam a
força de outrora — como forma de contestar o poderio do grupo paulista
da CNB mais ligado às antigas lideranças partidárias que saem combalidas
do julgamento do mensalão.
Além disso, há uma diferença crucial deste grupo em relação ao que se
articula em torno de Rui: o sentimento de que a aliança de 2014 deve
ser feita à esquerda. Em outras palavras: deve privilegiar o PSB e não o
PMDB.
Mesmo pensamento do governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, de
quem Maia se aproximou nos últimos meses. “Alianças devem caminhar da
esquerda para o centro. Não se trata de preferência a um ou outro
partido, mas como fazer uma aliança mais equilibrada com o PMDB
fortalecendo os nossos princípios. Se não fica mais difícil
implementá-los no futuro”, afirmou Genro.
Para ele, essa ideia se baseia no fato de que a oposição, hoje
enfraquecida, em algum momento vai se rearticular e propor uma
alternativa à direita. E se o PT rumar por esse caminho em 2014, em um
futuro próximo não terá mais condições de se diferenciar da oposição.
Ocorre que a preferência pelo PMDB, além de ser efetivada em
Brasília, em fevereiro, com o apoio do Palácio do Planalto às
candidaturas de Renan Calheiros (AL) a presidente do Senado e a Henrique
Eduardo Alves (RN) a presidente da Câmara, também a partir de janeiro
começará a ser configurada no governo Haddad.
Embora ninguém acredite que ele vá jogar o prestígio obtido nas urnas
para entrar no jogo partidário — ao contrário de Marta Suplicy, que
constituiu um grupo político no seu entorno –, é certo que o molde
político que seu governo tomar, orientado por Lula, apontará tendências
futuras no PT. São Paulo será o principal laboratório petista de
políticas públicas para a nova classe média constituída no país nos
últimos anos, egressa da pobreza e que anseia por serviços públicos de
qualidade.
Durante a campanha, esse setor foi seduzido pelo candidato Celso
Russomano (PRB) a ponto de quase tirar o petista do segundo turno. O
governo federal tenta, mas ainda patina no olhar específico para esse
eleitorado.
“A vitória do Haddad deve inaugurar um novo modelo petista de
governar. Antes a prioridade era a inclusão, agora é a qualidade do
serviço público”, disse o senador Jorge Viana (PT-AC).
Além disso, trata-se de um nome formado não na primeira geração
petista, que fundou o PT. “A eleição do Haddad repercute nas ideias do
PT. Vai haver um debate sobre as ideias do partido a partir de um novo
patamar que são essas mudanças na economia e na sociedade”, disse o
secretário-geral do PT, Elói Pietá.
PS do Viomundo: Políticas públicas sem higienismo, com a ajuda da USP, foi o que escrevi aqui. Vladimir Safatle observou, aqui,
que os limites do lulismo haviam sido atingidos; que só a oferta de
serviços públicos gratuitos de qualidade, especialmente na saúde e
educação, permitiriam um avanço da chamada nova classe média para um
novo patamar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário