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sábado, 17 de dezembro de 2011

Amaury Jr: pessoas ligadas ao PSDB receberam dinheiro dos que venceram os consórcios das privatizações.



Amaury Ribeiro Júnior, autor de "A Privataria Tucana"

Jornalista reafirma que dirigentes que participavam e pessoas ligadas ao PSDB receberam dinheiro dos que venceram os consórcios das privatizações.


A Gazeta



Se vier uma CPI, eu te garanto, o negócio vai ficar muito feio para eles, vai ficar pior ainda. Porque o que eu consegui mapear foi só uma parte do que foi esse processo de propina nas privatizações. 


Mas com certeza um bojo maior de dinheiro, de coisas aparecerão com essa CPI. 


Por isso essa CPI, por isso que eles estão nervosos. 


Só resolveram responder quando o Protógenes conseguiu as assinaturas para a abertura dessa comissão, que terá amplos poderes para investigar uma página que ainda não foi investigada no Brasil.


Amaury Ribeiro Júnior


Amaury Ribeiro Júnior: "Comprova o que todo mundo falava: que houve propina. Que dirigentes que participavam e pessoas ligadas ao tucanato receberam propina dos que venceram os consórcios"

O livro

Privatizações: A Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Júnior (Geração Editorial), relaciona membros do PSDB a um esquema de recebimento de propina na época das privatizações.
Vendas: Segundo a editora, o livro já tem 65 mil exemplares vendidos. A primeira edição, com 15 mil, se esgotou em menos de duas horas.
Preço: Varia entre R$ 24,90 e R$ 36,90 nas livrarias pesquisadas.


Polêmica. É o que cerca o livro "A Privataria Tucana", do jornalista Amaury Ribeiro Júnior. Na obra, o autor liga membros do PSDB, além de amigos e familiares do ex-governador de São Paulo e candidato à Presidência República José Serra (PSDB) a um suposto esquema de recebimento de propinas na época das privatizações ocorridas durante os governos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Há ainda um capítulo dedicado a contar uma espécie de autossabotagem dentro do PT, durante a campanha de Dilma Rousseff (PT), em 2010. "A privataria Tucana" é apresentado em seu prefácio como o livro mais impactante publicado na história de sua editora, a paulista Geração Editorial, que tem 20 anos. Amaury Júnior foi repórter dos jornais Estado de Minas, O Globo, Correio Braziliense e da revista IstoÉ.

A publicação repercutiu muito nas redes sociais e em blogs. No meio político, tucanos como Serra, Aécio e FHC criticaram o livro. A GAZETA traz uma entrevista exclusiva com Amaury em que ele fala sobre a obra e diz estar pronto para enfrentar possíveis processos.

Como surgiu a ideia de escrever o livro? Quanto tempo de pesquisa?
Foram mais de 10 anos. A ideia surgiu quando comecei a investigar as privatizações, na época em que começaram a rolar aqueles escândalos dizendo que o Ricardo Sérgio, diretor da área internacional do Banco do Brasil, ao montar o consórcio das teles havia cobrado propina para ajudar nos grupos formadores. Então eu trabalhava no Globo naquela época e comecei a investigar. Retomei as investigações quando eu estava na IstoÉ e surgiu o caso do Banestado (suspeita de evasão de divisas para o exterior pelo Banco do Estado do Paraná). Na ocasião eu publiquei uma matéria e ele me processou. Pedi o direito de exceção da verdade e o juiz deu. Aí, muitos documentos que estavam na CPI do Banestado escondidos foram obrigados a serem entregues à minha defesa, o que facilitou o trabalho. Foi quando eu cheguei a tentáculos maiores, que foram a filha (Verônica Serra) e o genro do ex-governador José Serra.

De que forma o livro aponta a participação do PSDB nas privatizações?
Não era questão de partido, mas de pessoas do partido. A privatização foi tocada durante o governo tucano de FHC e foram nomeadas pessoas, dentre eles o Ricardo Sérgio para montar os consórcios das empresas de telecomunicações. O papel dele era formar os grupos. Ele tinha um poder muito grande porque, como a maior parte desses grupos não tinha o dinheiro, ele dava a carta do Banco do Brasil para participarem do leilão. Ele tinha domínio sobre a Previ, o fundo do Banco do Brasil, para se encaixar nesses grupos. O que se mostra é o seguinte: que ele recebeu o dinheiro inicialmente comprovado, primeiro do Grupo Jereissati que ganhou uma parte do consórcio das empresas de telecomunicações e também do José Gregório Marinho Preciado, que, com a ajuda dele, conseguiu arrematar para um grupo espanhol as empresas do setor elétrico da Bahia. A questão da filha e do genro de Serra aparece no caminho do dinheiro que eles receberam do banqueiro Daniel Dantas através de uma sociedade entre a irmã dele, Verônica Dantas, e a filha do Serra, que montaram uma empresa em Miami. Só que eu descobri que esse dinheiro vai parar nas Ilhas Virgens Britânicas e depois volta para a mesma empresa da filha de Serra no Brasil. Em comum está o fato que eles usam o mesmo escritório de lavagem de dinheiro nas Ilhas Virgens. Esse escritório é usado tanto para enviar quanto para trazer o dinheiro de volta para o Brasil

Na opinião do senhor, qual a principal revelação que o livro faz?
Justamente isso, comprova o que todo mundo falava: que houve propina. Que dirigentes que participavam e pessoas ligadas ao tucanato receberam propina dos que venceram os consórcios. E também um documento muito sério comprovando que o ex-governador José Serra colocou um araponga do SNI (Serviço Nacional de Informações), em 2008, que tinha uma empresa no Rio que estava bisbilhotando a vida de seu adversário político dentro do próprio partido, o Aécio Neves. Esses são alguns dos fatos principais.

O PT também é citado?
Não nesse caso, porque as privatizações aconteceram durante o governo tucano de FHC. As privatizações que estão no livro aconteceram antes do governo do PT.

E sobre a privatização da Vale?
Sobre a Vale, conto aquelas histórias que já tinham sido mostradas, também com a participação do Ricardo Sérgio na formação dos consórcios, na cobrança de propina do mesmo grupo que venceu, e ligações com Carlos Jereissatti. O que se mostra é o papel que ele tinha de trabalhar como artesão desses consórcios. Lembrando que Ricardo Sérgio foi o tesoureiro de campanha do Serra e de FHC, que, na condição no governo de diretor da área internacional do BB, ele tinha o poder de montar os consórcios que participavam de privatizações de vários setores, inclusive a da Vale.

Como o senhor vê o eterno duelo eleitoral entre o PT e o PSDB?
Eu vejo que havia fogo amigo dos dois lados. Havia várias brigas internas no PT e no PSDB. Além da briga externa, a revelação que o livro traz é que havia uma briga muito grande entre setores do próprio partido, um querendo derrubar o outro. A briga que eu vejo entre os dois partidos foi uma briga desigual em 2010 porque a grande imprensa apoiava o outro candidato e não fizeram questão de esconder na televisão. Só que aí a candidatura da presidente Dilma se defendeu através das redes sociais, que é um grande fenômeno das eleições e que vem ser comprovada pelo meu livro, que, apesar de ser ignorado pela grande mídia, já nasce como um best-seller. De livro-reportagem já é o maior best-seller da história do país.

O que o livro traz sobre essas brigas no PT?

É que uma ala do PT de São Paulo criou a história do tal grupo de inteligência, inventou isso para a mídia, justamente porque estava disputando espaço de publicidade dentro do PT. Então tratou de plantar notícias na imprensa, na Veja e tudo, justamente para derrubar o outro lado, o que gerou muita confusão que teria um grupo de inteligência no PT, o que era mentira. Da maneira que eles fizeram brigas internas, acabaram levando mentiras para o outro lado. Isso está bem comprovado com documentos. Uma dessas pessoas citadas no livro é o senhor Gustavo Garreta, ligado ao Rui Falcão e ao (Antonio) Palocci, e que acaba de ter o seu sigilo bancário quebrado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Acho que o livro já está influenciando em algumas coisas que estão paradas na Justiça.

E a forma com que a obra foi recebida pelo PSDB? Serra prometeu processá-lo...

Primeiro que é uma grosseria para responder, e segundo que eles não explicam as acusações. Tem que explicar cada detalhe que está lá. Esperar que ele falasse que o negócio é uma obra prima, isso ninguém esperava. A gente esperava que a única saída que ele tinha, no mínimo, era ele dizer que ia processar. Mas aí está tudo documentado. Temos provas que estão publicadas no livro e temos outras. Então, o processo faz parte. Eu já fui processado várias outras vezes, ganhei todos os processos. Só no Banestado, na época em que eu trabalhei na IstoÉ, foram mais de 20, 30 processos. E a gente está preparado para esses processos. Agora a questão é que há a possibilidade concreta da abertura de uma CPI, que o deputado Protógenes (PCdoB-SP) conseguiu as assinaturas. E aí muitas coisas ainda virão. Se vier uma CPI, eu te garanto, o negócio vai ficar muito feio para eles, vai ficar pior ainda. Porque o que eu consegui mapear foi só uma parte do que foi esse processo de propina nas privatizações. Mas com certeza um bojo maior de dinheiro, de coisas aparecerão com essa CPI. Por isso essa CPI, por isso que eles estão nervosos. Só resolveram responder quando o Protógenes conseguiu as assinaturas para a abertura dessa comissão, que terá amplos poderes para investigar uma página que ainda não foi investigada no Brasil.

No prefácio do livro, o editor fala que o senhor não tem filiação partidária. Mas tem alguma inclinação?
Não. Eu não tenho afinidade partidária nenhuma. Não tenho mesmo, não sou militante de nenhum partido. Tanto é o que o livro critica os dois partidos. Fala do PSDB, mas também mostra as intrigas internas do PT, inclusive do presidente nacional do partido. Se eu tivesse alguma coisa... como você vai bater no presidente do partido se você defende? Obviamente isso aí é uma maneira que eles tentam pegar de me vincular a alguma coisa.

Como o senhor avalia a repercussão que o livro vem tendo na imprensa e nas redes sociais?
Começa a chegar à imprensa agora após uma pressão muito violenta. Isso é um divisor de águas, uma coisa para ser estudada, porque o poder dessas redes sociais, desses blogs é muito maior do que se imaginava. Então, hoje as redes sociais são maiores que a grande imprensa. Hoje, você para lançar um livro, para lançar um disco ou qualquer obra de arte não precisa mais dos grandes veículos. Quem fica nessas redes, como o Twitter, são pessoas esclarecidas. E é uma coisa muito boa porque não tem edição. Acaba sendo uma grande revolução. A repercussão é imediata. O que aconteceu foi que quem divulgou os fatos foram as redes sociais, uma revista e depois a imprensa de alguns Estados , as rádios de todo o país, aí ficou num momento que o negócio ficou tão grande e o livro bombando, em uma semana com 80 mil exemplares. Hoje no mercado nem disco de música sertanteja vende isso.

E sobre as vendas, o que o senhor tem achado desses números?
Saiu a primeira edição com 15 mil, o que para livro de reportagem é uma edição grande, já que para esse tipo normalmente se sai com 5 mil. Saímos com 15 mil só que esgotou em duas horas a edição toda, na sexta-feira(9). Aí estamos lançando a segunda. Tivemos que pedir mais 70 mil, desses 60 mil já tão vendidos. Em algumas livrarias on-line, o livro está batendo inclusive Jô Soares, Steve Jobs e outros. É um fenômeno, por ser um assunto que não é muito fácil de tratar, como a lavagem de dinheiro. O livro não fica só nos tucanos, mas explica como é o mecanismo de lavagem de dinheiro no Brasil, como é o combate, como funcionam as leis. É um fenômeno que nem os donos da editora, nem os donos das livrarias estão acreditando

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