Ao longo da história da humanidade, algumas descobertas tecnológicas contribuíram muito para melhorar a vida do homem sobre a face da terra.
Mas nunca uma máquina tem transformado tanto a vida do homem como o computador. Sua tecnologia tem estado em constante evolução e é tão rápida e abrangente, que novos modelos são lançados em espaços de tempo cada vez mais pequenos, que, hoje, é difícil descobrir uma área onde eles não estejam presentes.
Os computadores se constituíram partes de nossas vidas. Isso implica que não podemos ignorá-los. As questões são: como usá-los na educação? Com que espírito? Entusiasmo ingênuo? Crítico?
O perigo da TE estaria, justamente, no fato de acenar com promessas e mudanças, obscurecendo as questões essenciais, impedindo que apareçam os problemas substantivos. Distraídos com a possibilidade de reformular métodos e formas de educar, com o fascínio da introdução de novos meios e novas técnicas, os educadores anestesiariam a própria consciência, acreditando-se participantes de um processo de renovação da educação. A ilusão estaria no acreditar que, mudando equipamentos e métodos, todo o resto poderia ficar como está (MAZZI, apud OLIVEIRA ,1997, p. 10).
Assim como a revolução industrial, a revolução da informática está implantando uma nova ordem econômica, que é a ordem do conhecimento e da inteligência artificial. Daí, surge a necessidade de dominar esta tecnologia, de tê-la inserida em nossa sociedade. Pois, para Oliveira, os educadores ligados às tecnologias educacionais, buscam uma nova conceituação, que tenha como norte filosófico não uma escola mais eficiente, mas sim uma escola melhor para as classes trabalhadoras. Para o autor, a TE compreendida assim, poderia vir a ser encarada como algo a contribuir no processo de mudança da escola brasileira e que poderá trazer novas motivações para os alunos.
Libâneo propõe os seguintes objetivos pedagógicos do uso das novas tecnologias e dos meios de comunicação:
Contribuir para a democratização de saberes socialmente significativos e desenvolvimento de capacidades intelectuais e afetivas, contribuindo também, para aprimoramento das capacidades cognitivas; possibilitar a todos oportunidades de aprender sobre mídias e multimídias e a interagir com elas, ou seja, às habilidades no uso dessas tecnologias, às atitudes críticas perante a produção social da comunicação humana e o mundo tecnológico; aprimorar o processo comunicacional entre os agentes da ação docente-discente e entre estes e os saberes significativos da cultura e da ciência (LIBÂNEO,1998, p. 68).
O computador mexeu com todas as estruturas de nossa sociedade, penetrando na educação, deixando muitos educadores a se questionarem sobre as reais contribuições que esta ferramenta pode fazer para uma democratização do ensino público e particular. E, em muitas escolas, a informática tem sido apontada como uma espécie de “salvadora da pátria”.
Partilhamos de uma preocupação de fundo: a informática tem sido colocada como a grande panacéia para males atuais da educação, especialmente pelos professores das escolas públicas que ainda não tiveram acesso a esta tecnologia. A própria experiência nas escolas particulares nos aponta, no entanto, que se a informática for introduzida fora de um contexto significativo, fora de um processo de problematização, o que se verifica é que, passado o efeito da novidade, logo está o aluno entediado diante do novo CD-ROM... (VASCONCELOS, 1996, p. 6).
E muitas outras questões são levantadas por outros educadores. De que modo a educação e a informática se relacionam? Essa indagação é relevante, pois é sabido que o computador não foi inventado para solucionar os problemas e nem tão pouco como necessidade da educação, e sim para criar condições para o aumento do capital. Esse novo instrumento tecnológico tem por diversas complexidades mais influência na educação que outras tecnologias educacionais, porque é capaz de inserir na escola novos conhecimentos e de interligá-la ao mundo. Essa nova tecnologia, em sua essência, é um instrumento de comunicação que poderá modificar profundamente as estruturas da escola, ou seja, a mudança paradigmática de ensinar, para a construção do conhecimento. Fundamentalmente não podemos esquecer que, na escola, o computador é um meio para estimular a cultura, o aprendizado e o desenvolvimento das estruturas mentais das crianças. Para isso, é preciso analisar o que podemos fazer com o computador na escola hoje.
... o uso do computador na escola só é eficaz quando norteado por adequado projeto pedagógico. O computador só faz amplificar os processos já existentes. Neste sentido, se a escola é boa, ela pode ficar melhor, mas se a escola é ruim, certamente ficará pior ainda. O computador amplifica os erros e os acertos de quem o usa (ALMEIDA, s. d.).
Como meio, o computador deverá ser usado e inserido nas disciplinas existentes no currículo da escola, através de projetos que envolva a interdisciplinaridade, sendo uma ferramenta de trabalho, mas que tenhamos em mente as metas e objetivos que queremos atingir.
O professor emprega o computador integrado à sua prática pedagógica, o que o ajuda a refletir sobre a própria prática, questioná-la, a identificar suas limitações e seu estilo de atuação. A buscar teorias que lhe permitam compreendê-la e transformá-la. Com essa atuação, o professor assume o seu papel enquanto agente de mudanças comprometido com as transformações que as demandas da sociedade estão exigindo em relação à educação, com a promoção da aprendizagem do aluno com a sua própria formação (ALMEIDA, s. d.).
Pensar em informática na escola é pensar principalmente em novas formas e estratégias educacionais, buscando um novo paradigma educacional, visando uma sociedade mais humanizada, repensando os seus valores culturais e éticos como justiça e igualdade social.
Caso não sejam desenvolvidas experiências que possibilitem, num futuro próximo, a disseminação realista de microcomputadores nas escolas públicas, este fato será mais um elemento de desigualdade social, com o acesso ao conhecimento da informática restrito a determinadas classes (CYSNEIROS, apud OLIVEIRA, 1997, p. 15).
Mas, por outro lado, tememos por um fracasso geral do computador na escola pública, se essa ferramenta não for colocada dentro do seu contexto. A escola tem muitas opções de escolha para combater a obsolescência do ensino, o que falta é decisão política. O modelo educacional proposto pelos atuais dirigentes do nosso país é para se agarrar a esses novos recursos tecnológicos, pois cultuam a organização de uma sociedade cada vez mais racionalista, com finalidade de preparar nossos alunos para a nova ordem econômica, política e social (o neoliberalismo).
OLIVEIRA, citando SAVIANI (1997, p.10), analisando a escola como instrumento para a ordem econômica afirma que
...esta forma de conceber a escola tem um funcionamento próximo à organização do setor fabril. Desta forma, os instrumentos passam a ter destaque em relação aos sujeitos que compõem o processo de ensino-aprendizagem, terminando por reforçar mais ainda a má qualidade das escolas públicas, posto que seus problemas estruturais haviam sido relegados a um plano secundário.
Desta forma, a TE não poderá ser vista como redentora da educação, mas sim como um elemento a mais a contribuir na construção de uma escola que, embora se perceba determinada, pode desenvolver mecanismos que contribuam na superação de suas limitações (OLIVEIRA,1997, p. 12).
Partindo do conhecimento que o computador é uma máquina que faz parte em todas as atividades dos seres humanos, como: comércio, indústria e que já chegou às escolas, pensamos que a educação tem que ser desenvolvida para inserir os jovens nesta sociedade tecnológica e cada vez mais informatizada, ao mesmo tempo, servir-se como ferramenta no processo aprendizagem. E sendo a escola parte integrante da sociedade, é óbvio que ela queira acompanhar as novas tecnologias e mudar sua maneira de processar conhecimentos. Isso nós verificamos quando no limiar do século XXI a escola continua dependendo da sala de aula, do quadro verde, dos cadernos e da fala do professor.
...as crianças vivem numa época de estimulação ímpar, em que inclusive os menos privilegiados estão diariamente expostos à mídia e tecnologias atraentes, variando de videogames à exploração espacial, do transporte em alta velocidade aos meios de comunicação diretos e imediatos (GARDNER, 1993, p. 172).
Nesse aspecto, cogitamos os recursos multimídias para o encontro mais profundo, no processo da aquisição da leitura e escrita. Assim, as crianças terão contato com esta ferramenta na construção da palavra escrita, em um ambiente de aprendizagem, onde possam brincar de aprender e de trabalhar. Assim, a educação seria essencialmente:
para formação de pessoas críticas, conscientes e atuantes, estabelecendo com outros homens relações de reciprocidade, para construir sua cultura e história (VIANA, apud OLIVEIRA,1997, p.65).
O atual quadro da educação, com altos índices de repetência, evasão escolar, deficiência de aprendizagem e a confirmada obsolescência do ensino, exige a tomada de atitudes para reverter a atual realidade educacional. Mas, uma educação de qualidade entre outros fatores depende da qualidade e do compromisso das pessoas envolvidas nela. Isso nos remete as palavras de GARDNER (1993,p.176), quando ele fala que “o professor talentoso é alguém capaz de abrir várias janelas diferentes num mesmo conceito, que funciona como um “agente organizador do currículo para o aluno”, sempre atento aos instrumentos educacionais, como: textos, filmes, software que podem ajudar a transmitir os conteúdos relevantes da maneira mais atraente e efetiva possível”.
Freire fala que nunca foi ingênuo apreciador da tecnologia; não a diviniza de um lado; nem diaboliza, de outro. Por isso o autor observa:
...Não tenho dúvida nenhuma do enorme potencial de estímulos e desafios à curiosidade que a tecnologia põe a serviço das crianças e dos adolescentes das classes sociais chamadas favorecidas (FREIRE,1996, p. 98).
Portanto, aos professores estão as responsabilidades de plantar as sementes e criar meios para que estas dêem bons frutos. Dessa forma, aos professores alfabetizadores estão as responsabilidades de educar crianças para que sejam autônomas, criativas e principalmente seres pensantes cada vez mais em falta em nosso meio social, pois precisam estar atentos às possíveis mudanças ocorridas no mundo.
Dar condições a que o maior número possível de indivíduos de classes sociais mais baixas tenham acesso a tal tecnologia, pode constituir um ato de extrema contribuição democrática (ALMEIDA, apud OLIVEIRA, 1997, p. 16).
Para isso, é preciso capacitar os professores no sentido deles adquirirem habilidades e usarem todas os recursos possíveis desta máquina do conhecimento para tornar suas aulas mais dinâmicas, transformando-as em “oficinas de trabalho” que tanto almejou Freinet.
Muito mais do que “treinamento”, é necessário que os professores desenvolvam a habilidade de beneficiarem-se da presença dos computadores e de levarem este benefício para seus alunos (PAPERT, 1994, p. 70).
VIANA, apud OLIVEIRA (1997, p.65), analisando as relações entre educando, família e comunidade, escreve que
...o trabalho escolar participativo garante a formação integral do aluno, posto que, pela ação conjunta da família, escola, comunidade, este é educado para a responsabilidade, a mudança, o conflito, a criatividade e todos os demais aspectos que devem caracterizar a ação do homem.
Para a autora ainda, este processo é um ato eminentemente político e social, pois permite que haja uma ação crítica sobre a realidade, na expectativa de sua transformação.
... O ambiente escolar é pouco ágil em relação comparativa aos estímulos externos dos meios sociais, pois ainda a escola se detém na utilização de recursos lentos e desmotivadores, por exemplo: utilizar-se somente do giz e do quadro negro (NOGUEIRA, 1998, p. 16).
Isso se traduz quando analisamos os problemas da aprendizagem, a total falta de interesses dos alunos em participar das atividades em sala de aula, sua desmotivação, levando ao fracasso e evasão escolar. As escolas e os professores não podem mais ignorar as variedades de multimídias, como: televisores, rádios, fax, computador, que são ferramentas de informação, de aquisição de conhecimento, de comunicação, de aprendizagem, de lazer, mesmo porque, há tempos que perderam o monopólio do conhecimento, ou seja, o professor e seus recursos didáticos deixaram de ser as únicas fontes de conhecimentos. Na maioria das vezes, os alunos já chegam às escolas com mais conhecimentos que os próprios professores. É por isso que a escola deve aproveitar as riquezas de conhecimentos que os alunos trazem de um meio cada vez mais tecnológico e informatizado para dentro da sala de aula. Dessa forma, eles poderão ser polidos de maneira crítica pela intervenção do professor. Neste prisma, de acordo com o pensamento de Libâneo:
As novas tecnologias da comunicação e informação seriam aplicadas para desenvolver por meio de uma nova racionalidade nos processos de aprendizagem baseada na informática. Surgiria daí o paradigma da qualidade em que o conhecimento implicaria mais o saber fazer do que o saber, ou seja, o pensar eficientemente seria uma questão de “saber como se faz algo (LIBÂNEO, 1998, p. 78).
...o valor da aprendizagem escolar está justamente na sua capacidade de introduzir os alunos nos significados da cultura e da ciência por meio de mediações cognitivas e interacionais, providas pelo professor. (LIBÂNEO,1998, p. 28).’
Essa escola, para o autor, concebida como espaço de síntese, estaria buscando a formação geral e preparação para o uso da tecnologia, desenvolvimento de capacidades cognitivas e operativas, formação para o exercício da cidadania crítica.
Para VALENTE, apud OLIVEIRA (1997, p.17), preocupado com os aspectos pedagógicos,
...o papel do computador na educação vem se definindo na medida em que se questiona a função da escola e do professor, uma vez que, para o autor, a função do aparato educacional não deve ser a de ensinar, mas de promover o aprendizado.
Ainda segundo o autor, modificando esta concepção da escola, modifica-se também o papel do professor, que passa a ser, não mais o repassador de informação, (papel que pode ser melhor desempenhado pelo computador), porém o facilitador no processo de ensino-aprendizagem. Dessa forma, de acordo com o pensamento de ASASONE E CAMPOS, apud OLIVEIRA.
Ocorrerão modificações no relacionamento professor-aluno, nos objetivos e nos métodos de ensino(...) ao professor cabe, neste momento, buscar o seu papel de forma crítica, consciente e participativa (ASASAONE, CAMPOS, apud OLIVEIRA, 1997, p. 92).
O medo é que ocorram equívocos na metodologia empregada nos laboratórios de informática, que sejam utilizados como perguntas e respostas, com aplauso ou reprovação pelo erro. Isso aconteceu e está acontecendo nas escolas particulares em que o computador está sendo usado para reforçar os meios da escola através de softwares que estão dando uma nova roupagem ao ensino tradicional, reforçando o velho paradigma de transmitir conhecimentos, sem um processo de formar idéias, de desenvolver cabeças pensantes, sem um processo reflexivo, depurativo de reconstrução do conhecimento, onde o ambiente computacional se caracteriza mais pelas categorias de tutoriais, exercício-e-prática, jogos e programas de simulações.
O uso dos computadores no ensino tradicional de conteúdos não inova em nada a educação. Nesse sentido, não se trata de utilizar o computador como um recurso didático, como: o televisor, o vídeo. Isso confirmamos nas palavras de PAPERT (1994, p.41), “...as características subversivas do computador foram desgastadas. O que começara como um instrumento subversivo de mudança foi neutralizado pelo sistema e convertido em instrumento de consolidação e se pergunta por que os computadores causaram tão poucas mudanças nos problemas enfrentados pela educação.” Será que as escolas não sabem como usar o computador?. Para este matemático, simplesmente a escola reagiu de forma natural a este objeto estranho como qualquer organismo vivo reagiria a um corpo estranho em seu organismo. Parafraseando Piaget, o autor diz que a primeira resposta da escola ao computador foi muito naturalmente de assimilação.
Nas palavras de VALENTE, apud OLIVEIRA (1997, p.94-95), “as atividades com o computador podem ser inseridas na escola em duas modalidades: ensino de informática e ensino pela informática”. A primeira tem por finalidade introduzir noções superficiais ao estudante de conceitos de programação, princípios de funcionamento do computador, etc. Para o autor supracitado, esta forma contribui muito pouco para a melhoria da qualidade de ensino, sendo na maioria das vezes usada pelas escolas visando atrair a atenção dos alunos, objetivando uma procura maior destas instituições nos momentos de matrícula. Esta forma de ensino se contrapõe, segundo o autor, o ensino pela informática, sendo mais conhecida por nós como informática educativa, pois o aluno poderá desenvolver diversas atividades no computador, tais como: programação, simulação, uso de softwares educativos etc. Poderá ainda desenvolver estratégias de aprendizagem que contribuam na assimilação dos conteúdos trabalhados em sala de aula. Ainda nesta abordagem, concordamos com o autor quando alerta para a capacitação de professores:
... sendo o professor capaz de avaliar os melhores programas educativos que podem ser utilizados em sala de aula, também lhe caberá a definição da melhor maneira de empregar essa tecnologia de forma que a informática na educação seja vista, não como uma panacéia para os problemas escolares, mas, antes de tudo, como um novo recurso didático que pode contribuir na melhoria da qualidade do ensino (OLIVEIRA, 1997, p. 95).
Em nossa concepção, a finalidade principal e restrita do computador é de ser usado para desenvolver o raciocínio. A abordagem construcionista de Papert propõe o uso do computador para a construção de conhecimentos significativos. Ele é um importante instrumento de construção da aprendizagem auxiliar na solução de problemas. Para tanto, favorece a criação de um ambiente de aprendizagem propício para descobertas, sendo que os sujeitos da aprendizagem estão em constante processo de investigação, reflexão e cooperação, buscando novas formas de conhecimento, promovendo o “ensinar a aprender a pensar.
O ensino deve ser entendido (...) como uma ajuda ao processo de aprendizagem. Ajuda necessária, porque sem ela é muito pouco provável que os alunos cheguem a aprender, e a aprender da maneira mais significativa possível, os conhecimentos necessários para seu desenvolvimento pessoal e para sua capacidade de compreensão da realidade e de atuação nela. Entretanto, só ajuda, porque o ensino não substitui a atividade mental construtiva do aluno, nem ocupa seu lugar (ONRUBIA, apud LIBÂNEO, 1998, p. 30).
Em acordo com o pensamento de CHAVES, citado por OLIVEIRA (1997, p.17), “o contato regrado e orientado da criança no trabalho com o computador pode contribuir, positivamente para acelerar seu desenvolvimento cognitivo e intelectual, em especial no que concerne ao raciocínio lógico, à capacidade de pensar com rigor e de encontrar soluções para os problemas”.
Mas apesar das inúmeras vantagens desta máquina, o professor deve ter em mente sempre a preocupação: como o computador pode ser uma resposta aos inúmeros problemas da educação? Sem termos uma resposta mais salutar para esta questão, defendemos que os professores conheçam as necessidades reais da escola, diagnosticar os maiores problemas dela e da comunidade onde ela está inserida. Pois há também, o risco de os computadores serem modismos, como foi o construtivismo até certo tempo atrás. Isto pode ser aplicado indiscutivelmente às escolas particulares repletas de computadores com o objetivo de atrair mais alunos para suas escolas, mas não passando o laboratório de informática de uma sala sem utilidades em termos educacionais. Essa preocupação está nas palavras de (MARQUES, MATTOS, TAILLE, 1986, p. 20).
Não devemos nos equipar com micros por modismos, sem antes se ele pode modernizar o ensino. Nem devemos recusá-lo com base em alguma antipatia nostálgica. Finalmente, não devemos adotá-lo pensando que sairemos ilesos da aventura e que prosseguiremos com nossas boas e velhas aulas, com alguns passeios para ver computadores como se fazem excursões ao zoológico para ver bichos estranhos.
Na relação informática e escola, é necessário repensarmos as metodologias e estruturas tradicionais de ensino-aprendizagem e verificarmos a capacidade do computador como ferramenta de construção do conhecimento, transformando o processo de aprendizagem em mais prazeroso para as crianças. Com os resultados em mãos, certamente haveremos de procurar o melhor caminho para sabermos se o emprego do computador na escola é válido ou não. No momento, o que nós sabemos é que este instrumento é muito novo na educação e que poderá fornecer novos conhecimentos. Além disso, pode abrir as portas para o raciocínio dos alunos, como também as variadas formas de sua utilização, tendo como pano de fundo a melhoria do ensino, o que pode ser transcrito por um melhor rendimento escolar dos alunos e, ao mesmo, tempo, familiarizá-los com uma nova tecnologia. No momento, o que está em análise e passa por vários questionamentos de muitos educadores, não é o computador em si, mas a maneira como está sendo e vai ser utilizado nas escolas. Uns, muitos otimistas, achando que tudo de agora em diante será diferente nas escolas; outros, com o pessimismo declarado, acham que nada vai mudar.
Os otimistas reconhecem na informática uma nova revolução social. Tudo parece lhes dar razão: os computadores invadem literalmente todos os setores da atividade humana, até a arte.
Eles vêem uma nova revolução igual no ensino com o emprego destas novas máquinas inteligentes.
Os pessimistas o são pelo mesmo motivo: a invasão da informática em todos os setores representa um perigo para o homem que se vê cada vez mais subjugado à máquina; e, pior ainda, substituído por ela. E eles têm medo de que, na educação, os computadores substituem os professores, apaguem a relação humana e transformem os alunos em robôs (MARQUES,MATTOS, TAILLE, 1986, p.22).
A dicotomia existente entre várias posições de educadores sobre estas novas tecnologias educacionais nos leva a refletir sobre questões teóricas sobre a metodologia de melhor se aprender. Será que o computador, como ferramenta pedagógica indispensável, fornecerá ao professor subsídios importantes para motivar seus alunos, incentivá-los a tomar parte ativamente do processo de aprendizagem?
Para CHAVES apud OLIVEIRA (1997, p. 127), “...esta máquina traz o elemento motivacional tanto para os alunos quanto para os professores”.
O computador como recurso de aprendizagem tem como finalidade fazer com que o aluno pense, crie idéias, construa seu próprio conhecimento, ou seja, ele dirige a aprendizagem do aluno para a sua autonomia, conforme Freire:
...É nesse sentido que uma pedagogia da autonomia tem de estar centrada em experiências estimuladoras da decisão e da responsabilidade, vale dizer, em experiências respeitosas da liberdade (FREIRE, 1996, p.121).
Nessa perspectiva, a Informática Educativa é utilizada de maneira que a criança seja o sujeito construtor de seu conhecimento e na elaboração de suas hipóteses. Entretanto, podem ocorrer riscos se o professor não tiver estabelecido claramente seus objetivos. Para tanto, concordamos com o pensamento de WEISS (1998 p. 25): ”...As formas de utilização da Informática dependerão de como a escola entende e operacionaliza educação, aprendizagem e construção do conhecimento”.
O computador como instrumento de ensino oferece inúmeras vantagens, principalmente a introdução de praticamente qualquer área do currículo, em qualquer momento do processo de aprendizagem. Porém, esse não é o foco que defendemos como ferramenta no processo de aprendizagem, mas como auxiliar na construção do conhecimento. Portanto, o computador, como recurso didático, pode ser de grande valia para o professor, embora não tenha sido concebido para fins educativos. Mas as opções como instrumento educativo são grandes: proporcionar diversas situações visando ao desenvolvimento integral das possibilidades das crianças e de suas inteligências múltiplas (Gardner) compatíveis com a faixa etária entre 6 a 8 anos; oferecer os primeiros contatos com a máquina para que as crianças possam ter possibilidades de fazer descobertas, de tateamento experimental (Freinet), de construção de conhecimentos que signifiquem pré-requisitos para aprendizagens futuras; realizar atividades exploratórias(Freinet e Gardner) de uso da máquina, objetivando as possibilidades de desenvolvimento das noções básicas de tempo, sentido, quantidade, tamanho, forma, cor e outros; com o computador, desenvolver um processo de construção da escrita, isto é, permitir que a criança comece a construir o desenho da letra, tentando fixá-la, atribuir-lhe significado, identificá-la como um elemento que faz parte da escrita que combinado com outros, faz parte de uma palavra, como um sinal que pode ser utilizado para representar graficamente a fala.
Portanto, a criança, interagindo com o computador, pode desencadear um processo da aquisição da leitura e escrita com o professor mediando este processo. O computador, como ferramenta de uma nova Pedagogia, pode contribuir para que a criança construa a escrita e, simultaneamente, o processo da leitura. Nesse sentido, o surgimento da escrita vai surgindo ao mesmo tempo em que a criança vai aprendendo informática, interagindo com o computador de maneira dinâmica, cheia de autonomia, uma relação de ação e reação, na qual a criança vai testando todas as suas hipóteses. Certamente, o computador é um instrumento que auxilia no raciocínio e muito mais valioso do que a forma mais tradicional de se trabalhar o alfabeto, já que a criança pode trabalhar pequenos textos em computadores, corrigindo e aperfeiçoando ao longo da construção e reconstrução. Para isso, o bom professor:
É o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento de seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma “cantiga de ninar”. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas (FREIRE, p. 96,1996).
Para OLIVEIRA, citando PAPERT (1997, p.123):
...aquilo que é aprendido pelo esforço próprio da criança tem muito mais significado para ela e se adapta melhor às suas estruturas mentais, uma vez que o processo de aprendizagem requer para as informações novas, uma estrutura anterior que permita que estas possam ser melhor assimiladas. Nessa filosofia, não encontramos respaldo à aprendizagem passiva, caracterizada apenas pela absorção de informações. O mais importante é a investigação, o processo exploratório ao qual é induzido o aluno, levando este a desenvolver um verdadeiro processo de descoberta.
Como tão bem observa PAPERT (1994, p. 22) o uso mais poderoso feito para mudar a estrutura epistemológica da aprendizagem das crianças até o momento foi
...a construção de micromundos, nos quais as crianças exercerão atividades matemáticas, porque o mundo para o qual elas sentem-se atraídas requer que elas desenvolvam habilidades matemáticas particulares (PAPERT, 1994, p. 22).
A escola pode conectar todos os computadores do laboratório em rede interna ou a rede mundial de computadores (a Internet). Isso vai facilitar algumas atividades, como: as crianças tímidas são estimuladas, via computador, a enviar mensagens, pequenos recados de forma lúdica para seus colegas. Dessa maneira, serão também estimuladas na linguagem escrita e na comunicação e irão procurar se expressar. Aos poucos, vão perdendo medo e liberando toda a sua criatividade espontânea de aprender. Nesse enfoque, são desenvolvidas as inteligências intra e interpessoal.
A Internet pode ampliar o mundo dessas crianças, por meio de conexões entre escolas, construção de projetos em comum e também na extensa fonte de pesquisa que chega de todo o planeta. Sair virtualmente da sala, “navegando” por outras instâncias e lugares, já é, em si, uma situação desafiadora que poderá exigir dos alunos mais reflexão, mais discussões entre os membros do pequeno grupo. Enriquecer o projeto do grupo com o material pesquisado através da Internet, é uma oportunidade incrível para trabalhar expectativas, ansiedades, coragem de enfrentar o novo, essenciais no processo de aprender (WEISS, 1998, p. 74).
... a escola pode equipar-se com microcomputadores sem integrá-los às atividades normais do currículo, deixando seu uso à margem das aulas habituais, ou, pelo contrário, integrá-lo às atividades normais, modificando, pois, as estratégias habituais de ensino (MARQUES, MATTOS, TAILLE, 1986, p. 39).
É claro que a segunda alternativa é mais viável quando for o computador integrado à metodologia de ensino da escola como ferramenta auxiliar nas atividades escolares de grande versatilidade. Pois possibilita inúmeras oportunidades de situações de aprendizagens, ressaltando suas limitações, como por exemplo, a substituição da relação professor-aluno.
Nessa ótica, a introdução do computador, como ferramenta na metodologia de ensino, implicará em mudanças radicais no próprio ensino, porquanto os conteúdos programáticos não serão transmitidos apenas pelo método tradicional (tradicional tem o sentido de antes do computador) e que algumas atividades serão substituídas por algumas no computador.
Chamaremos, portanto, de atividades integradas aquelas que prevêem o uso do computador na metodologia de ensino e de não-integradas aquelas que prevêem seus usos apenas como complementação optativa (MARQUES, MATTOS, TAILLE,1986 p. 40).
Para PAPERT (1994, p.22) “o propósito da Máquina do Conhecimento se perderia se ela tivesse como objetivo único, ser apenas um mecanismo para ensinar as crianças a lerem”. Para o autor ainda, é necessário questionar não só o que a escola ensina, mas também sobre como a escola ensina. Portanto, a escola deveria mudar seus paradigmas, ou seja, permitir uma educação em que as crianças assumam o seu próprio desenvolvimento no sentido de se formar jovens pensadores e cheios de idéias, nos quais eles tenham que definir e redefinir seus papéis ao longo de suas vidas no mundo cada vez mais tecnológico. Por isso que Papert critica a ineficácia do sistema escolar em propiciar um ambiente de aprendizagem que realmente não o considera como o sujeito histórico e construtor do conhecimento.
Em total contraste com a imagem de Piaget criança construindo Piaget adulto, a Escola possui uma inerente tendência a infantilizar as crianças, colocando-as numa posição de ter que fazer conforme são mandadas, a ocupar-se com trabalhos ditados por alguém mais e que, além disso, não possuem qualquer valor intrínseco – o trabalho escolar é feito apenas porque o planejador de um currículo decidiu que fazer o trabalho moldaria quem o fizesse numa forma desejável. Considero isto ofensivo, em parte porque lembro o quanto objetei, quando criança, a ser colocado nesta situação, mas principalmente porque estou convencido de que a melhor aprendizagem ocorre quando o aprendiz assume o comando, como o jovem Piaget o fez. Assim, estou sempre atento para iniciativas que permitirão que a finalidade da Escola como um local para aprender coexista com uma cultura de responsabilidade pessoal (PAPERT,1994, p. 29 ).
Sob essa perspectiva, a criança, ao ter contato com a escrita antes mesmo de entrar na escola e já se manifestar pela fala, passa a reconhecê-la também como um objeto desta realidade. Além disso, possibilitar-lhe-á todo o pensamento humano acumulado ao longo da história. Quanto à escola cabe, através dos seus recursos (computador), encorajar a escrever, despertar sua curiosidade por saber o que está escrito nas paredes através de cartazes espalhados pelo ambiente de aprendizagem e nos livros. Portanto, são as crianças (alunos) que mostram os caminhos que os professores poderão seguir dentro da pertinência de seus planejamentos. Assim, ao mesmo tempo em que as crianças vão dominando o processo da leitura e escrita, vão também fazendo descobertas para melhorar a qualidade desta mesma linguagem, melhorando seu vocabulário e ampliando seu universo de comunicação, interagindo por um número maior de pessoas e objetos, que não acontece no ensino tradicional.
Um dos maiores defeitos do ensino “tradicional” (além de ser um mero rotulador) é que, ao colocar o aluno em contato com estes novos aspectos da língua (leitura e escrita), tende a pô-los, por fatores eminentemente ideológicos, num pedestral, esquecendo que leitura e escrita são apenas facetas desse instrumento de interação com o mundo, que é a língua materna; cada faceta – fala, leitura, escrita etc. – tem a sua hora e a sua vez, dependendo do uso que se faça necessário (MARQUES, MATTOS, TAILE, 1986, p. 44).
Para as autoras supracitadas, não se pretende ensinar a ler e escrever usando o computador, mesmo que isso seja possível. Mas, uma vez alfabetizado o aluno, nada impede que este instrumento seja utilizado para o que, a nosso ver, seria a finalidade do ensino da língua materna: a tomada de consciência dos “mecanismos ”lingüísticos léxico-semânticos, morfossintáticos e gráfico-fônicos, que fazem de uma língua o que ela é. Sem esquecer, nunca, o variado contexto sociocultural em que a língua está imersa e do qual é um fator formador-informador essencial. Para as autoras:
Ensinar uma língua enquanto língua materna é, então, tornar consciente o que é intuitivo, isto é, os modos de significação e os elementos formais que, nas variedades do uso social desta língua, produzem o sentido (MARQUES, MATTOS, TAILLE, 1986 45).
O emprego do computador na escola deve ser mais um elemento que vai contribuir para a renovação do processo de aprendizagem e deve ser para o professor, um mecanismo problematizador da relação professor-aluno-instrumento, ou seja, um agente facilitador de uma análise sobre os objetivos e metodologia da educação. A participação do professor no processo de aprendizagem como orientador é imprescindível, pois ele terá que estimular, incentivar a metacognição, ou melhor, o “pensar sobre o pensar” seja no “acerto” seja no “erro”, pois nas palavras de Piaget, a criança aprende mesmo sem ser ensinada, daí o autor afirmar que quando o professor ensina a criança, ela não aprende por não ter tido oportunidades de construir suas próprias estruturas intelectuais.
Dizer que estruturas intelectuais são construídas pelo aluno, ao invés de ensinadas por um professor não significa que elas sejam construídas do nada. Pelo contrário, como qualquer construtor, a criança se apropria, para seu próprio uso, de materiais que ela encontra e, mais significativamente, de modelos e metáforas sugeridas pela cultura que a rodeia (PAPERT, apud WEISS, 1998 p. 34).
Para o epistemólogo suíço, a criança formula hipóteses quando colocada em certas situações, tenta resolvê-las mediante estímulos a partir de seus esquemas mentais. Quando não consegue resolvê-las, passa por conflitos cognitivos que a leva a elaborar e reelaborar essas hipóteses. Isso faz com que ela aumente mais seu sistema de compreensão em uma constante procura pelo equilíbrio de suas estruturas cognitivas. Nesse sentido, a escola deve ter em vista, que o computador é um instrumento que pode facilitar o aprendizado, embora seja complexo e rico em recursos, que para ser bem utilizado, alunos e professores devem conhecer os programas básicos, como também, desenvolver nos seus alunos a percepção das inúmeras aplicabilidades de seus recursos na educação e que portanto, se beneficie deles na escola. E na perspectiva piagetiana, o professor desenvolverá um ambiente de aprendizagem, que possa oferecer situações para que a criança possa se desenvolver de forma ativa, realizando descobertas, ao invés de absorver conhecimentos prontos e acabados, tendo por base a memorização.
A postura do professor facilitador deve ser a de observador atento e participante, uma vez que deve propor desafios e também incentivar o grupo. Ele deve estar sempre por perto, não só para tirar dúvidas, mas também para, através de questionamentos, levar o grupo a refletir sobre o que produz – levantar hipóteses, testar alternativas, sistematizando seu próprio conhecimento (WEISS, 1998 p. 84).
Dessa forma, acreditamos que o professor não deve ensinar o “como fazer” as coisas para seus alunos, pois estará tirando a oportunidade deles explorar, experimentar e descobrir sozinhos. Seu papel consiste em levantar hipóteses, propor situações para que as crianças sozinhas busquem seus conhecimentos e aprendem pela interação sujeito-máquina. Com essas funções, o professor dentro de uma visão vygotskyana no ambiente computacional orienta, observa, ouve mais do que fala, faz pequenas intervenções, estimula a criança a oralizar o que sabe e como chegou em suas conclusões, parte das vivências dos seus alunos (crianças), sistematizando suas experiências, abrindo espaço para as experiências e descobertas, ou seja, ele (o professor facilitador) cria todo um ambiente de aprendizagem computacional prazeroso, lúdico, motivador, favorável às descobertas e que facilita o desenvolvimento da sua linguagem oral e escrita, como também o raciocínio lógico. Nesse ponto, Piaget enfatiza:
...é importante que os professores proponham às crianças materiais, situações e ocasiões que lhes permitam progredir. Não se trata de deixar as crianças fazerem tudo o que quiserem. Trata-se de colocá-las diante de situações que coloquem novos problemas e de encadear essas situações umas às outras. É preciso saber dirigi-las deixando-as livres ao mesmo tempo. (PIAGET, apud LERNER, 1997, p. 88).
O professor deve perceber que neste novo paradigma educacional, ele não é neutro no processo de aprendizagem, devendo ter em mente que sua intervenção é imprescindível na ZDP (Zona de Desenvolvimento Proximal) e estar seguro de seu prazer de aprender e de ensinar para que possa proporcionar o mesmo para seus alunos. Pois o processo de aprendizagem deve ser iniciado através de uma situação de comunicação entre ele e suas crianças (alunos), para que possa conhecê-las melhor e levantar dados sobre cada uma delas, suas preferências, suas aparentes habilidades que já podem ser estimuladas através de jogos e atividades específicas. Isso pode ser feito através de roda de conversa, cantigas, histórias, poemas, adivinhações.
O professor alfabetizador pode fazer perguntas, levantar questões que podem orientar e introduzir um assunto ou um tema e dar início a uma atividade. A partir da reflexão do tema, podem ser desenvolvidas várias atividades através de diálogos bem conduzidos, pois sabemos que a realidade da criança é cheia de significados que podem ser explorados em sala de aula, em correlação com o objeto de conhecimento, ou seja, contextualizando os conhecimentos dentro daquilo que a criança já carrega dentro de si, que são seus conhecimentos espontâneos adquiridos em suas experiências com o mundo ao seu redor. Embora a palavra seja de enorme significância para a compreensão da realidade, é considerada apenas um dos instrumentos que fazem parte do processo de alfabetização. Na visão de Vygotsky e Freinet, a criança começa a se alfabetizar muito antes de entrar na escola e a partir daí começa a usar a palavra de forma satisfatória em seu contexto social. Isso acontece quando ela começa a interagir com o meio, identificando os objetos de sua realidade, iniciando processos de leitura que lhe permitem conhecer tudo aquilo que está ao seu redor e, a partir desse momento, passa a perceber a relação que existe entre os objetos e a compreensão de uma rede de relações possíveis.
O que é essencial e importante na perspectiva piagetiana é o desenvolvimento cognitivo que deve ser parte de um processo de criação de novas relações e desafios que favoreçam diferentes maneiras de perceber a realidade dentro de um ambiente de aprendizagem instigador, onde as crianças se sintam livres e sejam ativas, acertando ou errando, sendo os agentes únicos de seu próprio desenvolvimento. É esse ambiente de aprendizagem que sonhamos para nossas crianças, que estabeleça limites para que elas possam sentir livres, seguras e protegidas, baseados no afeto, na compreensão, na confiança, no respeito, facilitando a autonomia e independência e o desenvolvimento de seu senso crítico. Nesse sentido, GARDNER (1995,p. 54) explicita que os seres humanos
...são considerados as criaturas da comunicação, que armazenam significados através das palavras, pois as crianças a partir dos 5 aos 6 anos já adquiriram um conhecimento “esboçado” de como criar e compreender histórias, trabalhos de música, desenhos e explicações científicas simples. Portanto, as crianças já avançaram nas suas possibilidades no conhecimento dos mundos físico e social e no mundo de símbolos através dos processos naturais de aprendizagens, portanto, prontas para serem alfabetizadas.
Assim, a linguagem escrita deve vir acompanhada da linguagem oral para se chegar a um entendimento integrado - então nada mais importante que desenvolvermos uma educação voltada a formação de bons leitores e escritores, que se traduzem nos objetivos da alfabetização e não decodificadores de símbolos lingüísticos que se têm caracterizado em nossas escolas.
Sobre essas questões, Papert anseia por uma nova forma de aprender, na qual, as crianças são ativas e criadoras, ao invés de consumidoras de conhecimentos.
Minha meta tornou-se lutar para criar um ambiente no qual todas as crianças – seja qual for sua cultura, gênero ou personalidade – poderiam aprender álgebra, geometria, ortografia e história de maneiras mais semelhantes à aprendizagem informal da criança pequena pré-escolar ou da criança excepcional do que ao processo educacional seguido nas escolas (PAPERT, 1994, p. 19).
Essas questões são melhores analisadas por Freinet quando critica a escola desvinculada da realidade das crianças e que prioriza a transmissão de conteúdos não significativos para elas. Portanto, estamos cientes que o computador poderá transformar a sala de aula em uma oficina de descobertas que tanto almejou o Educador do Bom Senso, favorecendo a expressão e a comunicação pelo trabalho cooperativo, tornando as crianças mais confiantes nas suas possibilidades de pensar, criar e construir conhecimentos. Pensamos ainda que o erro se torne uma busca incessante de outro caminho, de outras hipóteses, e não o fracasso escolar que maquiavelicamente se tem manifestado na prática de nossas escolas públicas. Nesse caso, estamos falando do “erro construtivo” que é muito mais relevante nas pesquisas de Piaget, pois poderá conduzir novas situações de aprendizagem. Tudo isso, remete a finalidade do computador como ferramenta pedagógica, que possa intermediar a construção do conhecimento pelas crianças, na medida em que desenvolve o raciocínio lógico, a atenção e concentração, favorece a flexibilidade do pensamento e principalmente a expressão emocional quando leva a criança ter prazer nas suas descobertas, vencendo desafios em situações desafiadoras na produção de textos ou desenhos. Tudo isso se traduz nas palavras de Weiss:
O uso do computador só funciona efetivamente, como instrumento no processo de ensino-aprendizagem, se for inserido num contexto de atividades que desafiem os alunos a crescerem, construindo seu conhecimento na relação com o outro ( o professor e os colegas), além de utilizar a máquina. Acreditamos na necessidade de uma postura em que o aluno seja ativo, responsável pela construção de seus conhecimentos, de sua aprendizagem, e não será a mera entrada da Informática, e sua transformação em disciplina curricular, que alterará o curso do processo de ensino-aprendizagem. Mas sim, sua utilização como uma nova mídia educacional, servindo como ferramenta dentro de um ambiente de aprendizagem, por intermédio de conteúdos significativos e integrados (WEISS , 1998, p. 93).
Para Valente, o computador pode provocar uma mudança de paradigma pedagógico, ou seja, um paradigma construcionista, onde a ênfase está na aprendizagem ao invés de estar no ensino; na construção do conhecimento e não na instrução.
... o computador pode enriquecer ambientes de aprendizagem onde o aluno, interagindo com os objetos desse ambiente, tem chance de construir o seu conhecimento. Nesse caso, o conhecimento não é passado para o aluno. O aluno não é mais instruído, ensinado, mas é construtor do seu próprio conhecimento (VALENTE, s. d.).
A criança em situação de aprendizagem, tanto mais vai aprender, quanto mais for capaz de indagar, de fazer perguntas à realidade e sobre ela. Daí, a necessidade de criarmos um ambiente de aprendizagem prazeroso, cheio de desafios no sentido de criar condições para que mais conhecimentos possa a criança adquirir.
Portanto, cabe a escola ampliar os conhecimentos sobre a língua, corrigir alguns erros e estudar as estruturas da língua em que o processo de alfabetizar se estenda a todas as séries para que os alunos tenham um domínio sobre ela, levando-se em conta que a criança quando chega à escola, já tem aprendido grande parte da língua antes mesmo de ser alfabetizada. Portanto, faz-se necessário que a escola torne o momento da aprendizagem da leitura e escrita, o momento mais importante da criança quando ela começa a ler e a escrever. E essas idéias são retratadas nas palavras de WEISS (1998, p. 45).
A criança percorre um longo caminho de elaboração de suas dúvidas e angústias até poder, por exemplo, desejar ter acesso ao mundo letrado dos adultos, que é o marco que caracteriza a alfabetização.
Pensamos que, ao introduzir o computador em suas atividades pedagógicas, o professor pode contribuir para que as crianças com dificuldades de aprendizagens tenham um melhor relacionamento com seus colegas, na medida em que elas trocam descobertas, principalmente as crianças com falta de concentração, dificuldades de compreensão e desenvolver textos por escritos e outros que Weiss ressalta:
A criação deste tipo de ambiente de aprendizagem não é nenhuma novidade no meio educacional. Defendemos que a informática em nossas escolas pode dar ânimo para que se promovam essas transformações. Atuando num ambiente estimulante, de respeito e troca, o professor estará não só favorecendo ao grupo como um todo, mas também ajudando aos que têm, por exemplo, dificuldades de expressão, de sistematização de idéias, de generalizações e de reflexões mais profundas. Os alunos que têm menos facilidade de concentração, tentarão estar mais atentos para poder participar em igualdade com os colegas. Os mais tímidos poderão ser incentivados pela produção grupal a dividir seus sucessos e insucessos (WEISS, 1998, p. 94).
Em nosso entender, o trabalho de Informática Educativa no processo da leitura e da escrita pode ser começado, depois de trabalhado o “paint” na construção de desenhos e montagens de estórias através do editor de texto com pequenas experiências, no apoio à alfabetização e no desenvolvimento da escrita e da leitura. Em trabalho de grupo, podemos desenvolver projetos de construção e produção de pequenos textos com ilustrações que explorem todas as ferramentas do word, como apagar, mover cursor, ampliar e reduzir letras, o que se escreve favorecendo a fluência da escrita.
Para KOCHAN, apud OLIVEIRA (1997, p.26-27), a utilização do processador de texto deve
...ser acompanhada por uma nova forma de pensar a produção de textos. É necessário que os professores passem a não ter preocupação apenas com a escrita, mas busquem estimular a produção de palavras, frases e textos, em que o mais importante será a forma de construção desenvolvida pela criança, uma vez que os erros constituem material para compreensão do estágio em que se encontra o aprendiz. Além disso, a correção no processador torna-se algo menos traumático do que quando é feita na produção com lápis e papel.
Segundo Oliveira, para os que defendem esta forma de utilização do computador no ensino, a maior justificativa se encontra
... na possibilidade de os alunos desenvolverem o interesse pela produção de textos, uma vez que, ao utilizar o computador em sua elaboração, esta atividade torna-se muito mais rica, quando a comparamos com a forma tradicional de escrita ( OLIVEIRA, 1997, p. 126).
Depois do texto produzido com ilustrações, ele pode ser impresso e exposto, pois, para a criança, é muito significativo ver o resultado de seu trabalho produzido através do monitor e depois impresso. E a partir daí, o professor poderá através da escolha dos melhores trabalhos feitos pelas crianças, expô-los para toda a escola. Contribuindo-se assim, para a formação de bons escritores e leitores, o que é essencialmente importante para a nossa sociedade que não tem o hábito de ler. Para isso é importante o professor ter o domínio do que vai ser trabalhado em sala de aula, principalmente do software a ser utilizado, acompanhando constantemente todas as crianças na execução da atividade, tendo consciência que cada criança tem um ritmo próprio na aquisição do conhecimento e que surgirá casos que algumas crianças irão sobressair sobre outras. No caso de crianças que se encontram com mais dificuldades do que outras, o professor deverá ter cuidado, para que elas não se sintam muito cobradas na produção da escrita e na construção de pequenas estórias a partir dos próprios desenhos. Esse processo requer muita dedicação dos professores e acompanhamento sistemático.
É inegável o fascínio que o computador provoca na criança, talvez por causa da possibilidade de interação que pode proporcionar para ela, provocando desequilíbrios na medida em que a criança, por meio da busca de equilibração, motiva-se e permanece ativa ao meio e ao objeto. Pois, no computador, o erro é analisado como mais um desafio (desequilíbrio), que continuamente leva a criança a buscar as novas descobertas, formulando, portanto, novas hipóteses, respeitando o nível individual de cada uma de maneira que a aquisição e as descobertas no computador são tão velozes e desafiadoras que ela aceita novos desafios.
Segundo CYSNEIROS, apud OLIVEIRA (1997, p.135), “há uma necessidade de que educação e trabalho formem um binômio inseparável, podendo a informática dar uma grande contribuição nesse sentido”. Para isso, segundo o autor supracitado, faz-se necessário um:
trabalho criativo com ferramentas computacionais de uso universal, principalmente planilhas eletrônicas e processadores de texto, utilizando conteúdos curriculares, da comunidade, do cotidiano dos alunos (CYSNEIROS, apud OLIVEIRA, 1997, p. 135).
Voltando a Vygotsty e Piaget, estes autores vêem a necessidade de estudar e de conhecer a origem dos processos mentais, isto é, como esses processos são construídos ao longo da vida das crianças. Para Piaget, essa construção ocorre a partir do mecanismo de equilibração e seus dois componentes: a assimilação, no qual o sujeito atua sobre o meio, transformando-o, a fim de adequá-lo às suas estruturas mentais; e a acomodação, no qual o indivíduo é modificado para se ajustar às diferenças impostas pelo meio. Já para Vygotsky, a construção se dá pelo mecanismo da internalização e enfatiza que no desenvolvimento cultural da criança, todas as funções ocorrem duas vezes: primeiro no nível social e depois no nível individual; primeiro entre pessoas (interpsicológica) e depois no interior da criança (intrapsicológica).
Da análise anterior, entendemos porque os dois são chamados de interacionistas, posto que ambos consideram essa construção como ocorrendo a partir da interação do sujeito com o meio. A diferença é que enquanto Piaget enfoca a interação com o meio físico, Vygotsky dá total importância à interação com o meio sócio-cultural. Suas congruências estão no entendimento que têm da criança como sujeito construtor do próprio conhecimento, que constrói ou reconstrói esse conhecimento, participando ativamente como arquiteto da aprendizagem.
O computador como máquina do conhecimento pode levar o aluno (criança) na busca pela conexão entre idéias e conceitos. Para tanto, urge a necessidade de criarmos uma pedagogia em que os alunos (crianças), estruturem perguntas e procurem respondê-las, analisando-as e assumindo a responsabilidade de seu próprio aprendizado. E que de acordo com Libâneo:
...implica saber discutir soluções para problemas a partir de diferentes enfoques (interdisciplinaridade), contextualizar o objeto de estudo (em nossa visão: a leitura e escrita) em sua dimensão ética e sociocultural, ter capacidade de trabalhar em equipe. (...) que desafiam a atuação dos cidadãos: a educação ambiental, a educação para o consumo, a busca da paz, da solidariedade, da justiça, da saúde pública(LIBÂNEO, 1998, p. 44).
Concordamos com as idéias de Piaget e Vygotsty, quando temos a consciência de que o desenvolvimento não é um acúmulo quantitativo de aquisições em que ambos estudiosos repelem criticamente. Isso nós verificamos na aquisição da leitura e escrita, quando a criança vai passando de um estágio para outro, porquanto Piaget considera que ocorre rupturas no seu pensamento nesse processo. Daí, podermos afirmar que a criança não é um adulto em miniatura, como muitas pessoas de sua época pensavam e imaginavam, pois ela possui concepções sobre o mundo distintas.
Nesse contexto, podemos analisar o computador como recurso auxiliar na aprendizagem, oportunizando aos alunos (crianças) o poder de construir seus próprios entendimentos, tendo como referencial teórico esses dois psicólogos clássicos (Vygotsky e Piaget). Dessa forma, os professores poderão desenvolver atividades que sem os computadores não poderiam desenvolvê-las. Atividades que constituem oportunidades especiais para a criança aprender de maneira interdisciplinar por projetos em qualquer conhecimento, procurando soluções de problemas, desenvolvimentos de conceitos e a construção de soluções, experimentações, investigações, levantamentos de hipóteses e conectando teoria e prática. Nesse sentido: “...ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua própria produção ou a sua construção” (FREIRE, 1996, p. 52).
...O exercício do trabalho docente requer, além de uma sólida cultura geral, um esforço contínuo de atualização científica na sua disciplina e em campos de outras áreas relacionadas, bem como incorporação das inovações tecnológicas (LIBÂNEO, 1998, p. 43).
A partir desse processo com o desempenho do professor e as condições ambientais de aprendizagem computacional, é necessário valorizar os estudantes como pensadores emergentes. Para isso, o papel do professor no ambiente computacional é crucial, sendo preciso:
... lançar desafios e ser facilitador, por vezes tem que encorajar a perseverança, outras vezes deve ainda tentar clarificar como os projetos/trabalhos podem ser levados por diante (BELCHIOR, apud OLIVEIRA,1997, p. 150).
No processo da aquisição da leitura e escrita, é importante que os professores se engajem na construção do significado, pois as palavras não podem ser mais trabalhadas de maneira isoladas, dissociadas de seu contexto lingüístico. A criança não fica mais escrevendo letras desconexas, como aaaa, gggg, ou a bola é bonita, porque isto não significa nada para elas, pois não lhe desperta o interesse e a vontade de aprender. Portanto, para ensinar a criança a usar o computador, podemos interligar a aprendizagem das disciplinas curriculares com informática desde o início, propondo tarefas que lhe sejam significativas. A aprendizagem ocorrerá simultaneamente, a criança aprenderá, aos poucos, Informática dentro de uma perspectiva interdisciplinar e a aprendizagem da leitura e escrita de forma significativa. Dessa maneira, os professores desenvolvem nos alunos senso de responsabilidade pelo seu próprio aprendizado. Inclusive, sejam pensadores autônomos, desenvolvendo a aprendizagem integrada de conceitos e fazendo com que seus alunos pesquisem, apresentem idéias, respostas e perguntas importantes.
Portanto, fica implícito, aqui, que as práticas construtivas ajudam os que aprendem a internalizar e reordenar ou transformar as novas informações. Essas transformações com a interação da máquina do conhecimento, ocorrem através da criação de novos entendimentos, que resultam da emergência de novas estruturas cognitivas. É nesse paradigma que pensamos a finalidade do computador como ponte da compreensão mais profunda de uma nova informação, incitando ao ressurgimento ou estímulo de estruturas cognitivas que capacitem nossas crianças a virtude de pensar sobre novas idéias.
As crianças também deverão ter em mente as multifunções do computador na vida das pessoas, sabendo usar seus programas no aprendizado de outras coisas, sendo visto como um meio em que o processador de texto pode ser usado para redigir pequenos textos até que a criança possa dominá-lo nas suas diversas ferramentas e recursos.
Para NIDELCOFF (1986, p. 43), se a criança não começa a perceber e a viver a escrita como um instrumento para expressar a si mesma, então as coisas já começaram mal e enfatiza que:
... na escola, se escreve como um dever, sem se perceber que a linguagem escrita é uma expressão de si mesmo, do que se vive e do que se descobre (...) e cita um exemplo – desvinculação entre o que se escreve e se diz na escola, e o que se vive em casa e no bairro (NIDELCOFF, 1986, p. 43).
Os estudos em grupo poderão favorecer a troca de experiências e de conhecimentos entre professores, buscando um melhor entrosamento entre eles e um possível trabalho interdisciplinar, já que a informática educativa segundo Oliveira é vista:
... como cumprindo sua função de ser mais uma ferramenta à disposição do professor, ao mesmo tempo em que se permitirá um avanço pedagógico da escola na garantia da interdisciplinaridade tão almejada entre os educadores (OLIVEIRA, 1997, p. 154).
O motivo pelo qual defendemos as novas tecnologias na educação está exatamente nessa questão, que possam servir de ponte para quebra dos velhos paradigmas na educação que não cria, que não transforma, mas que faz perpetuar o poder nas mãos de quem sempre acostumou ver o povo vivendo de migalhas. Por essas questões concordamos com Valente quando afirma:
os homens vão se tornando desiguais pela diferente apropriação que fazem do conhecimento tecno-científico. Já não é mais a desigualdade hereditária de talentos que se apresenta como origem das desigualdades sociais. A divisão e especialização do trabalho também aprofundam mais o fosso da divisão entre os que fazem, sem dominar o saber, e os que sabem, decidem e têm o poder. ( ALMEIDA, apud OLIVEIRA, 1997, p. 16).
De acordo com LIMA e ROCHA (1996, p.79), “o primeiro e principal objetivo da informática educativa é saber pensar o ser humano”. O saber pensar surge como uma necessidade do homem para viver em uma sociedade cada vez mais exigente a partir do saber fazer que em um determinado momento adquire contornos próprios.
O saber pensar separa-se do saber fazer não apenas na dimensão intelectual, mas também e principalmente, na social : um pequeno grupo de homens é separado dos demais e a eles é atribuída a função de pensar sem fazer, enquanto às grandes massas fica a tarefa de fazer sem pensar (LIMA, ROCHA, 1996, p. 79).
Piaget postulou que em diferentes períodos, as crianças usam diferentes estruturas mentais para pensar e sentir seu próprio mundo. Por isso é importante o professor estar atento, devendo questionar sempre o que elas estão fazendo e observando.
Nesse sentido, faz-se necessário criar zonas de desenvolvimento proximal e nelas intervir, ou seja, devido à peculiar natureza social e cultural em que as crianças estão inseridas e a forma como os saberes são processados, há necessidade de uma mediação externa que guie as crianças na direção prevista nas intenções educativas. Para tanto, os professores criarão desafios, abordagens para além desse nível e a utilização de diversos meios e instrumentos de apoio e suporte como o computador, que pode intermediar o ensino associado à noção de ZDP. Isso é enfatizado por Vygotsky, quando ele fala que a ZDP pode proporcionar novas maneiras da criança “menos competente”, enfrentar desafios e atividades, graças à ajuda oferecida pelo seu professor ou por pessoas mais experientes (seus colegas) ao longo da interação. Nessa perspectiva, o psicólogo bielo-russo, coloca que a ZDP é um espaço sempre em processo de mudança com a própria interação, que pressupõe um relacionamento constante e contínuo entre o que os alunos sabem previamente e aquilo que têm de aprender. Nesse ponto Oliveira destaca:
O conceito de zona de desenvolvimento proximal está estreitamente ligado à postulação de que o desenvolvimento deve ser olhado prospectivamente: marca como mais importantes, no percurso de desenvolvimento, exatamente aqueles processos que já estão embrionariamente presentes no indivíduo, mas ainda não se consolidaram. A zona de desenvolvimento proximal é por excelência, o domínio psicológico a constante transformação. (OLIVEIRA, 1997, p. 60).
VYGOTSKY, apud OLIVEIRA (1993, p.60), “atribui importância extrema à interação social no processo de construção das funções psicológicas humanas”. Nesse sentido, o desenvolvimento individual se dá num ambiente social determinado e a relação com o outro, nas diversas esferas e níveis da atividade humana, é essencial para o processo de construção do ser psicológico individual.
A ZDP também tem uma característica fundamental que é proporcionar às crianças com dificuldades de aprendizagem avançar para maneiras de compreender e representar determinadas atividades mais elaboradas e ricas do que as possuía inicialmente. Portanto, partimos do princípio que se o computador é trabalhado dois a dois, pode servir também como elo de cooperação entre eles, sendo uma base adequada para criar uma ZDP e fazer com que eles caminhem em troca de experiências e descobertas na aprendizagem através desta ZDP.
Além disso, ao longo desta interação, eles vão trocando hipóteses, recebendo e oferecendo ajuda de maneira contínua nas descobertas das ferramentas computacionais. Isso é fundamental para uma construção de uma ambiente de aprendizagem afetivo, cheio de relações, adequado para a existência de ZDP como função básica do trabalho do professor, já que muitas vezes nos deparamos com alunos desmotivados, que se sentem poucos estimulados para a aprendizagem devido a conflitos familiares e a problema de ordem social mais amplo, estando apáticos para a atividade escolar.
A ZDP, nesses casos fundamentais, resgatará o vínculo afetivo e emocional, servindo de suporte ao desenvolvimento cognitivo da criança. Isso nós verificamos a propósito na UNECIM, na sala de aula observada, quando o professor, utilizando “fichas de leitura”, umas contendo a letra do alfabeto, outras contendo a letra do alfabeto e uma figura relacionada a esta letra, utilizava estas fichas para verificar se a criança já conhecia todas as letras do alfabeto. Primeiro, o professor apresentava só a ficha contendo a letra, quando a criança não sabia que letra era, o referido professor apresentava outra ficha contendo além da letra, a figura correspondente a esta letra (isso pode ser feito com o computador). Por exemplo: foi apresentada a criança a letra “m”, a criança não soube responder que letra era essa, então, o professor apresentou outra ficha contendo a letra m e a figura de uma mesa. Em todos os casos em que a criança não soube reconhecer a letra, mas que a partir do momento em que o professor apresentou a “pista”, ou seja, a ficha de leitura, a criança soube responder a letra associada a figura. E a cada resposta certa sob esta intermediação do professor com pistas, sentimos o quanto a criança ficava satisfeita e quanto isso era válido em um relacionamento de afeto entre professor e criança. Vale ressaltar, que o professor só aplica estas fichas de leitura para crianças que estão com dificuldades de aprendizagem, para as outras crianças que estão já dominando os rudimentos da leitura e escrita – nível de desenvolvimento real - ela utiliza outras fichas de leituras, que são confeccionadas por ele e seus colegas. Para OLIVEIRA ( 1997, p. 59) “o pesquisador seleciona algumas tarefas que considera importantes para o estudo do desenvolvimento da criança e observa que coisas ela já é capaz de fazer”.
Esse trabalho de ZDP, realizado pelo professor, pressupõe um relacionamento constante e contínuo entre seu aluno no nível de conhecimento que já sabe previamente e aquilo que tem de aprender, fazendo-o avançar em suas dificuldades para uma melhor compreensão cognitiva. Essa questão é bem ressaltada por OLIVEIRA (1997, p. 59): “Quando dizemos que a criança já sabe realizar determinada tarefa, referimo-nos à sua capacidade de realizá-la sozinha”. Nesse sentindo, o professor estabelece a aprendizagem como uma construção pessoal em que a criança realiza com sua ajuda e que Libâneo enfatiza:
... a tarefa de ensinar a pensar requer dos professores o conhecimento de estratégias de ensino e o desenvolvimento de suas próprias competências do pensar. Se o professor não dispõe de habilidades de pensamento, se não sabe “aprender a aprender”, se é capaz de organizar e regular suas próprias atividades de aprendizagem, será impossível ajudar os alunos a potencializarem suas capacidades cognitivas (LIBÂNEO,1998 p. 36).
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