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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Que ambiente de aprendizagem devemos construir para os nossos alunos?



Os novos paradigmas educacionais falam insistentemente na construção do conhecimento pelo aluno em que o ambiente de aprendizagem é fundamental para que isso possa acontecer. 


Nesse sentido, o ambiente de aprendizagem ganha uma nova dinâmica, com espaço para discussões e descobertas em grupo, valorizando a palavra escrita, desde o início do ano letivo, sendo a criança encorajada a escrever, despertada em sua curiosidade por saber o que está escrito nos livros, cartazes e materiais espalhados pelos cantos da sala. 

Nesse processo, a criança é quem vai mostrando os caminhos da leitura e escrita segundo Ferreiro, já que a autora considera que não é o professor que ensina a criança a ler e escrever, mas a criança que constrói seu próprio processo de leitura e escrita. 

Tudo isso baseado nos estudos da psicogênese da escrita e em uma proposta construtivista para a construção da escrita e que tão bem destaca FERREIRO (1994, p.20-21), em uma das suas maravilhosas teorias: “Uma verdade elementar: a escrita é importante na escola porque é importante fora da escola e não o inverso”.


Isso pode ser melhor analisado quando observamos o ambiente da sala de aula, no qual nossas crianças (alunos) passam um bom tempo de suas vidas. 

Necessariamente, ele precisa ser organizado de uma maneira que possibilite uma melhor interação aluno-a-aluno. Se for um ambiente computacional, essa análise também é válida para que haja o encorajamento da interação tanto aluno-aluno e aluno-máquina. 

Nesse sentido, a cooperação é valorizada, tarefas e materiais são interdisciplinares. A liberdade das crianças (alunos) para buscar novas formas de aprender é abundante e pressupõe que essas crianças estarão mais dispostas a assumir erros e a encarar desafios com mais otimismo aos seus conhecimentos prévios. 

Observamos portanto, que esse novo paradigma, em que o professor como mediador é peça fundamental tanto quanto o ambiente de aprendizagem, possibilitará restaurar uma educação para a formação de cidadãos e pensadores emergentes.


Pensamos que é possível desenvolvermos um ambiente de aprendizagem em que os questionamentos das crianças são altamente valorizados. 

Além disso, elas são colocadas como pensadoras com suas imaginativas teorias sobre o mundo em que as rodeia, tendo professores que possam mediar e entender suas concepções de vida. Para tanto, o professor poderá trabalhar as atividades científicas em que as tecnologias da informática são utilizadas para restaurar o prazer de aprender e pensar como um trabalho interativo de descoberta e redescoberta da formação da mente. Essas questões são enfatizadas por Moraes:

Ao invés de dar uma tarefa às crianças e medir quão bem elas fazem ou quão elas erram, pode-se dar uma tarefa às crianças e observar quanta ajuda e de que tipo elas necessitam, para completar a tarefa de maneira bem-sucedida. 

Sob este enfoque, a criança não é avaliada sozinha. Antes, o sistema social do professor e da criança é avaliado dinamicamente para determinar quanto ele progrediu ( MORAES, 1997, p. 77-78).

Para muitos pesquisadores e educadores, vivemos em uma era da mente, onde novas informações são processadas constantemente, onde o conhecimento está sendo construído continuamente, onde as verdades deixaram de ser absolutas. 

E segundo Moraes, estamos em movimento rumo ao desenvolvimento da compreensão, da autoridade interior, que implica o desenvolvimento da inteligência, do pensamento de qualidade superior, que envolve criatividade e racionalidade em direção à evolução da consciência individual e coletiva, em busca de justiça, paz e harmonia.


Partindo dessas idéias de Moraes, pensamos que o ambiente de aprendizagem é fundamental como fator de estímulo e objetos que as crianças possam manipular física e mentalmente, já que elas manipulam os objetos de todas as formas. Por isso, pressupomos que a aquisição da leitura e escrita possa ser entendida como um objeto, como um brinquedo a ser explorado da mesma forma que os outros objetos do ambiente de aprendizagem. 

Isso nós comprovamos quando analisamos uma sala de aula de uma escola da rede pública, onde o ambiente de aprendizagem apresentou-se de maneira pobre, sem objetos para a criança manipular, em síntese, um ambiente não letrado, já que a leitura e a escrita não estava nas mãos das crianças. 

Um ambiente letrado, certamente levará a criança a se empenhar a descobrir esta importante invenção da humanidade, que é a escrita.

...Ambientes que favoreçam a mobilização dos recursos internos dos indivíduos, o contato com a luz interior, que favoreçam não apenas seus equilíbrio pessoal, por meio de vivências que possibilitem a integração corpo-mente, mas também a expressão de novas formas de solidariedade e de cooperação. 

Esses ambientes deverão colaborar tanto para uma nova construção do conhecimento quanto para promover o desenvolvimento das inteligências pessoais, e também para uma revisão nos princípios éticos presentes nas relações humanas (MORAES,1997, p. 111).


O ambiente de aprendizagem, tendo o computador como uma nova tecnologia educacional no sentido de permitir que a criança possa desenvolver o próprio pensamento na ação e reflexão com a máquina, propicia condições para os alunos exercitarem a capacidade de procurar e selecionar informação, resolver problemas e aprender independentemente. 

Isso se traduz nas palavras de Piaget, quando o autor fala que a criança desenvolve as suas estruturas mentais e sua capacidade intelectual interagindo com objetos do ambiente onde ela se encontra inserida, utilizando os seus mecanismos de aprendizagem. Portanto, a criança aprende fazendo e testando hipóteses.

O computador, independentemente do ambiente onde está inserido, altera, portanto, o meio ecológico em razão da linguagem de programação subjacente ao refletir posturas filosóficas, psicológicas e metodológicas do fenômeno educativo, geradoras de uma determinada ecologia cognitiva que afeta a maneira como as pessoas pensam e aprendem. 

Cada linguagem possui determinados componentes que facilitam ao usuário a formação de um modelo mental de si mesmo, do funcionamento da máquina e do ambiente no qual está inserido (MORAES, 1997, p. 218).


Logo é preciso desenvolver um ambiente de aprendizagem que estimule a interação entre criança-criança, a discussão, o trabalho em equipe para trocarem descobertas e experiências (Vygotsky). 

Nessa caminhada, as contribuições de Piaget, Freinet, Vygotsky e Ferreiro são fundamentais para que professores caminhem juntos com suas crianças nas descobertas com a leitura e escrita. 

Para isso é fundamental que os professores, segundo Ferreiro, trabalhem com textos, antes mesmos da competência alfabética das crianças. O paradigma tradicional da soletração, letra, sílaba, palavra, texto, não é mais aconselhado pela sua contradição, pois para Ferreiro não existe letra sem texto e nem contexto para a criança.


Para GARDNER (1995, p. 31) “o ambiente em que as crianças vivem e se desenvolvem, as primeiras experiências da vida são tão importante que podem determinar por completo a maneira como as pessoas se desenvolvem.” Ainda segundo o autor, as crianças desenvolvem poderosas teorias e conceitos sobre como o mundo funciona - o mundo físico, o mundo das pessoas desenvolvendo pelo menos um nível de competência em relação aos sistemas simbólicos humanos básicos que são a linguagem, número, música, etc., e que se traduz em suas palavras:

o que nos surpreende nessas aquisições é que elas não dependem de instrução explícita. As crianças desenvolvem essas habilidades simbólicas e estes conceitos teóricos principalmente por meio de suas interações espontâneas como o mundo no qual vivem (GARDNER, 1995, p. 54).


Hoje, sabemos que as novas tecnologias educacionais podem gerar novos ambientes de aprendizagem ricos em representações de imagens, sons, podendo as crianças interagir entre si, formular e testar hipóteses, construir novas formas de pensar e compreender os fenômenos da natureza e os fatos da vida.

Com esses novos instrumentos, podemos criar micromundos de matemática, comunicação, arte, história, ciências, dentre outras áreas, como incubadoras de conhecimento interdisciplinar, com base em problemas , atividades, vivências, projetos contextualizados, individuais e coletivos, vivenciando interações sociais mais ricas, que também constituem novas fontes de informação. 

Surge, então, uma ecologia cognitiva que favorece a aprendizagem natural, lúdica, espontânea, desafiadora e sintonizada com o ego, com os interesses e as necessidades dos aprendizes (MORAES, 1997, p. 220).


Para integração do computador no ambiente de aprendizagem, segundo a autora, é preciso que a criança tenha o comando de suas ações, que ordena os procedimentos, que reflete sobre os erros, que manipula as representações, que propõe os projetos que vão ser trabalhados, que organiza as suas próprias experiências.

Nesse ambiente, o conhecimento é construído com base na ação do sujeito sobre o objeto de conhecimento, compreendendo que nada é transmitido, mas sim, reconstruído internamente pelo indivíduo por meio da ação, da interação e da transformação dos objetos; o diálogo entre sujeito e ambiente é intermediado pela linguagem de programação utilizada. Mesmo em idade pré-escolar, é a criança quem deve assumir o controle do processo, quem programa o computador e que, ao ensiná-lo a “pensar”, embarca numa exploração sobre a maneira como ela própria pensa, tornando-se assim uma pequena epistemóloga, fato decorrente da possibilidade oferecida pela máquina de explicitar o raciocínio e de poder executá-lo (MORAES,1997, p. 220).


O ambiente de aprendizagem, em que as crianças vão trocando experiências, voltado para a socialização, a solução de problemas, compartilhando informações com a introdução da informática educativa, está nas preocupações de Moraes:

... devemos lembrar que um ambiente de aprendizagem informatizado, como qualquer outro, deve reconhecer a importância do papel da cultura e do contexto na construção do conhecimento, compreender que a construção de conceitos ou o desenvolvimento de quaisquer outras habilidades intelectuais estão diretamente relacionados com a riqueza ou a pobreza de materiais existentes na cultura e no contexto, são dependentes de certos tipos de modelo fornecidos e reforçados pela cultura (MORAES, 1997, p. 222).


Por isso, entendemos que a tarefa de alfabetizar exige profissionais especialistas, que possam compreender o processo da leitura e escrita como um sistema de representação, de interação e mediação, cheio de significado de vida para as crianças. Que além desses aspectos, entendam a função social de “ler e escrever”, desenvolvam a criatividade da criança, mudando sua maneira de compreender os fatos da vida e de se relacionar com ela.

Dessa forma, os novos ambientes de aprendizagem, ao utilizar o enfoque reflexivo na prática pedagógica, podem colaborar para o desenvolvimento de pensadores autônomos, de indivíduos que pensam por si mesmos, o que não significa qualquer tipo de individualismo acentuado, mas relações de cooperação, parceria e compartilhamento entre os diferentes aprendizes, ou seja, interações individuais num contexto de cooperação, de diálogo, mediante o desenvolvimento de operações de reciprocidade, complementaridade e correspondência, o que pode ser incentivado com vivências de trabalho e em grupo na busca de soluções para os problemas propostos, que reconheçam a importância da experiência e do saber de cada membro do grupo na construção do saber coletivo (MORAES,1997, p. 223).


Analisando as idéias de Moraes, entendemos que a alfabetização é um longo processo, em que o ambiente de aprendizagem é fundamental, já que a criança neste ambiente, observa, estabelece relações, levanta hipóteses, constrói e reconstrói conhecimentos, organiza, interioza, reelabora até chegar ao código alfabético usado no meio cultural em que elas estão inseridas. Com a informática educativa, esperamos que este processo complexo por que passam as crianças, faça com que elas busquem novas formas de pensar, de procurar e selecionar novas informações, de construir a seu jeito próprio os significados de novos conhecimentos e reconstruí-los continuamente, despertando-lhes o prazer pelas descobertas das habilidades da escrita.

Com esses recursos informáticos, podem-se desenvolver sistemas que sirvam à construção direta pelo aluno do conhecimento lógico-matemático, sistemas que devolvam ao homem comum a confiança em sua capacidade de pensar (...) livre do medo de errar, livre do castigo por não saber o que os outros decidem que se saiba (FAGUNDES, apud MORAES, 1997, p. 225).


Para isso, a escola precisa desenvolver em seus alunos, a capacidade de pensar, vislumbrando uma concepção de um ser social que pensa, raciocina, emociona-se para as descobertas, para a vida, para o conhecimento, para a vontade de aprender e de ser feliz. Além disso, é preciso um “fazer pedagógico” em busca de construir um mundo melhor para a humanidade, desenvolvendo um ambiente de aprendizagem que propicie a exploração e a criatividade das crianças. Para tanto, é necessário ter o sentido político da alfabetização, já que para Bretch, o pior analfabeto é o analfabeto político por não saber ler o seu mundo, sendo, por isso, necessário desenvolver uma educação crítica que promova seres humanos que tenham como filosofia o bem estar social de sua comunidade.

Uma educação para a Era das Relações almeja uma proposta educacional que reflita e englobe tanto as dimensões materiais quanto espirituais da sociedade, que busque a superação de metas voltadas para a erradicação do analfabetismo, a melhoria da qualidade com eqüidade, a superação dos índices de evasão e repetência, mas que, simultaneamente, favoreça a busca de diferentes alternativas que ajudem as pessoas a aprender a conviver e a criar um mundo de paz, harmonia, solidariedade e fraternidade (MORAES, 1997, p. 226).


Segundo a autora, a importância dessa reflexão é relevante para que o indivíduo aprenda a conhecer, aprenda a aprender, aprenda a fazer, aprenda a conviver, aprenda a amar para que possa aprender a ser e estar com consciência, autonomia e responsabilidade.

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