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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Rede Globo, desesperadamente atrás de um Ayrton Senna ou um novo "fenômeno".

É até irritante e ao mesmo tempo hilariante ver o desespero da mídia brasileira, especialmente da Rede Globo na tentativa criar ídolos no esporte. 

Rubens, Massa e Bruno Senna são fracassos na Fórmula 1, apesar dos apelos e das forçadas de barra da mídia e do "ufanismo" do "Gavião Bueno".

Robinho, Ronaldinho, Ganso e Neymar parecem que caminharão nas trilhas desse desespero e na Ilha da Fantasia da mídia brasileira. 

Enquanto isso, o futebol brasileiro é escravizado aos interesses da Rede Globo e dos cartolas. 

E parece que vai ser bem mais fácil criar a infra-estrutura para a Copa do que fazer um "time", uma "seleção" com as características naturais do futebol brasileiro que parecia jogar fácil, hoje "joga complicado" nos esquemas táticos europeus. 

O técnico que foi escolhido e outro que foi demitido pela Rede Globo não têm uma dimensão do que é construir um time que possa ser regido como orquestra na relação entre melodia e harmonia, com jogo eficiente e eficaz. 

Infelizmente, tenho mal presságios sobre a sorte da seleção brasileira em 2014. 

Se um time com toda a sorte de craques perdeu o título no Maracanã em 1950, esse talvez não passará das quartas. 

Não, não aprendemos as lições que o futebol, especialmente a derrota humilhante do Santos no , Japão, nos tem ensinado. 


Onde está o toque de bola do futebol brasileiro? 


O futebol brasileiro não pratica o esporte em conjunto. O que a mídia pede é um craque, um herói. Como Neymar. Foto: AFP

Precisamos aprender a lição

Por Menalton Braff*

Há poucos dias fomos alvo de brincadeiras nos jornais do mundo todo, principalmente nos espanhóis. E mexeram justamente em nossa ferida, ou aquilo que a grande mídia elegeu como tal: o futebol. Numa das manchetes publicadas em Barcelona, lia-se o belo trocadilho “Deuses e Santos”.

Bem, o fato de o Santos Futebol Clube, ou seja lá qual for seu nome completo, ter perdido para uma equipe espanhola, teria sido digerido com a maior facilidade, não fôssemos o “país do futebol”. A mídia, sobretudo a grande mídia, que em um de seus segmentos vive à custa do esporte, cria uma expectativa, forjada à base da repetição (técnica do Goebels?), que muitas vezes não encontra base na realidade.

Primeiro, nos convencem de que o Santos é o Brasil. E não é. Depois vão formulando por vias indiretas o silogismo “se o Brasil é o melhor do mundo (a premissa maior já é uma falácia) e o Santos é o Brasil (premissa menor é outra), (conclusão), o Santos é o melhor do mundo”. Ora, com duas premissas falsas, eles criam a tal da expectativa que só pode redundar na frustração dos torcedores, pois não acontece o que se espera.

Mas deixando a lógica menor de lado, o fato é que perder para o Barcelona, como muita gente assinalou, não é desdouro nenhum. Concordo. Mas perder de 4 a 0, bem, amigos, aí já é mais difícil de engolir a pílula. Já me parece um caso de humilhação.

E não vamos cair na besteira de pensar no Brasil de joelhos perante a Espanha. Calma lá. Isso é só o futebol. Se a competição tivesse como objeto o analfabetismo, o desemprego, o desenvolvimento das ciências, o nível da saúde pública e do desenvolvimento intelectual de seu povo, sei lá, se fosse algo mais sério, então seria o caso de nos preocuparmos.

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Pois bem, mas se o esporte não tem a mesma dimensão de outros setores de nossa vida social, por que então falar sobre ele? Porque o bombardeio diário daqueles que vivem à custa do esporte acaba penetrando insidiosamente na mentalidade popular de que o futebol é o que temos de mais importante.

Vocês devem ter observado que muito antes de se encontrarem os dois clubes, a guerra midiática já começou a cotejar o argentino Messi com o brasileiro Neymar. A guerrinha, que só tem o sentido de aumentar a audiência daqueles que vivem do futebol, é, pelo processo da pressuposição, transformada em guerra de todos nós. Basta um pé atrás, no que se ouve e se vê, para entender o mecanismo da transferência.

Ficando apenas com o futebol que se viu. A Espanha, hoje, pratica um futebol em que não existe lugar para estrelas. Em que pese o fato de um Messi, um Xavi serem craques de técnica muito acima da média, observa-se que mesmo seus melhores jogadores jamais esquecem que futebol é um esporte coletivo. E é a oposição entre essas duas escolas o que se viu no Japão.

O futebol brasileiro não pratica mais a tabelinha, o passe curto, o conjunto. Não. O que a mídia pede é um craque que desequilibre, ou seja, um herói. E este é um capítulo muito importante da matéria. Os heróis é que garantem os altos índices de audiência. E a que assistimos? Não há dúvida de que o Neymar é um craque, mas acabou não fazendo nada, a ponto de alguém ter perguntado se de fato Muricy o escalou para o jogo.

O futebol individualista, de craques que desequilibram, saiu humilhado pelo futebol alegre, de fundamentos muito bem treinados, mas que conta com o fator coletivo. Claro que o Messi é um craque, que marcou dois gols, mas ele não joga sozinho. E foi o próprio Muricy que, em uma entrevista, declarou que, adotadas as táticas do Barcelona no Brasil, o treinador seria preso. Por quem? Por quê? Pela crônica esportiva brasileira, que precisa de ídolos que mantenham a audiência, logo, seus salários.



*Menalton Braff, autor de À Sombra do Cipreste, livro vencedor do Prêmio Jabuti em 2000, é professor, contista, romancista e um dos mais importantes nomes da Literatura Brasileira atua

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