Vivemos tempos das maiores maiores hipocrisias geopolíticas de nossa contemporaneidade e para escrever sobre isso, precisamos
combinar história, estratégia militar,
colonialismo, e o jogo de interesses globais. Vamos por partes:
Israel tem armas nucleares, mas nunca
admitiu oficialmente
Israel segue uma política chamada de "ambiguidade estratégica" (ou deliberate ambiguity).
Nunca confirmou nem negou publicamente que possui armas nucleares. No entanto:
- Estimativas apontam que Israel possua entre 80 e 400 ogivas nucleares.
- As ogivas teriam sido desenvolvidas no centro nuclear de Dimona, no deserto do Neguev, com
apoio secreto da França e, depois,
dos EUA, nas décadas de 1950 e 1960.
- Em 1986, o técnico nuclear Mordechai
Vanunu vazou informações à imprensa britânica, revelando fotos e
dados detalhados do programa nuclear israelense. Ele foi sequestrado pelo
Mossad na Itália, julgado em segredo e preso por 18 anos em Israel.
Israel não assinou o Tratado de Não
Proliferação Nuclear (TNP)
Enquanto países como Irã, Iraque e Síria assinaram o TNP
(comprometendo-se a não desenvolver armas nucleares), Israel nunca assinou. Isso significa:
- Israel não se submete às
inspeções da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica);
- Não é oficialmente responsabilizado ou pressionado pelas potências
ocidentais — principalmente pelos EUA.
A política de “dois pesos e duas medidas”
O Ocidente, liderado pelos EUA, aplica uma lógica seletiva:
- Israel é tratado como aliado estratégico, e sua bomba atômica é ignorada pela
comunidade internacional.
- Irã, Síria, Iraque e outros países
árabes/muçulmanos são pressionados duramente
sempre que demonstram qualquer intenção de desenvolver tecnologia nuclear
— mesmo para fins civis.
- O Irã, por exemplo, nunca
teve uma bomba atômica, mas sofreu sanções severas, sabotagens e ameaças militares constantes
por tentar desenvolver tecnologia nuclear.
O fator colonial e racial
Essa desigualdade também é sustentada por uma lógica colonialista e racista:
- Os países do "Ocidente branco" podem ter bombas nucleares
porque supostamente seriam mais “civilizados” ou “responsáveis”.
- Já os países do Sul Global, especialmente muçulmanos, são tratados
como perigosos, instáveis e indignos de confiança — uma forma disfarçada
de racismo geopolítico.
O papel dos EUA: o "guarda-chuva nuclear"
Os EUA mantêm Israel como posto
avançado militar e estratégico no Oriente Médio. Garantem proteção,
armas de ponta e impunidade:
- Vetos constantes no Conselho de Segurança
da ONU para proteger Israel;
- Fornecimento bilionário anual de ajuda militar (mais de US$ 3 bilhões/ano);
- Blindagem diplomática total, inclusive para crimes de guerra.
E se outro país do Oriente Médio tivesse armas
nucleares?
Seria visto como ameaça ao “equilíbrio regional” — que na prática
significa manter a supremacia militar
de Israel. Se Irã, por exemplo, tivesse bomba atômica:
- Romperia a hegemonia israelense.
- Forçaria negociações mais equilibradas.
- Dificultaria invasões e ocupações.
Por isso, é considerado "inaceitável" — não por razões morais, mas por cálculo
geopolítico.
✅ Conclusão:
Israel pode ter bomba atômica porque é aliado
dos EUA e do Ocidente, e os outros não, porque representariam um desafio à
ordem geopolítica estabelecida.
É uma questão de poder, controle
e imperialismo, disfarçada de “segurança internacional”.