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domingo, 15 de junho de 2025

Quando o mundo arde, o sertão também sente: a guerra, o medo e a falência da humanidade

“O sertão é dentro da gente.” Guimarães Rosa
“Todas as guerras são guerras sujas. Mas umas são mais sujas que outras.”  Eduardo Galeano

Numa segunda noite de guerra total entre Irã e Israel, o que ruía não era apenas a arquitetura das cidades, mas os pilares da humanidade. As imagens de Tel Aviv e Haifa em chamas, o colapso do tão celebrado “Domo de Ferro”, os destroços de Teerã cobertos de poeira e corpos, revelam o que já não se consegue esconder: o mundo não está em paz, e as máscaras diplomáticas caíram.

Mas o que essa guerra tem a ver com o sertão? O que tem a ver com o semiárido, com nossas escolas, com os olhos dos jovens que olham pro céu na esperança de uma chuva e não de um drone?

Tem tudo a ver.

Essa guerra, como tantas outras, não é feita só de foguetes e discursos. Ela é feita de interesses ocultos, de indústrias que lucram com o medo, de impérios que negociam a paz enquanto armam o ataque. O que vemos hoje é uma operação não apenas militar, mas simbólica: um ataque à inteligência do mundo, à sensibilidade dos povos, à esperança de justiça global.

A guerra que não é só deles

Dizem que é entre Irã e Israel, mas basta puxar a cortina que se vê: os Estados Unidos estão lá, de botas sujas, como sempre, plantando incerteza em solo alheio. Não negociavam em boa-fé com os iranianos, como muitos imaginavam. Estavam apenas distraindo, enganando, preparando o bote, como quem acende a fogueira enquanto finge estar molhando a terra.

Enquanto isso, empresas trilionárias que produzem tanques, mísseis e softwares de espionagem veem suas ações subirem nas bolsas. A guerra virou investimento. A paz, um entrave nos lucros. Não há disfarce possível. Já não se trata de religião ou ideologia. Trata-se de poder, controle e dinheiro.

O sertão que vê e sente

E aqui, nos sertões do mundo, nós vemos. Com olhos que aprenderam a enxergar a vida até na queimada. Nós sabemos o que é ter o mundo nos ignorando, como Gaza é ignorada. Sabemos o que é ter nossa dor reduzida a números e gráficos. Sabemos, sobretudo, o que é sobreviver num mundo que já decretou o fim de quem é considerado descartável.

Mas o sertão não aceita esse fim. Ele resiste. Ele floresce em meio às pedras. Ele canta quando tudo silencia. E é por isso que os olhos do sertão precisam olhar para essa guerra e dizer: basta.

A necropolítica e os corpos que somem nos escombros

Essa guerra revela um projeto mais sombrio: o controle da vida por meio da morte. Uma necropolítica global que decide quem deve viver e quem será apagado. Os corpos palestinos, sírios, libaneses, iranianos — e agora também israelenses — vão sendo acumulados sem nome, sem história, sem dignidade. A mídia filtra. A diplomacia finge surpresa. E os que lucram, sorriem em silêncio.

Precisamos de outra lógica: não mais tanques, mas ternura

O mundo está doente de guerra. A racionalidade que nos trouxe até aqui falhou. É tempo de outra coisa. De uma racionalidade da vida, da escuta, da justiça. De uma política que cuide, e não que destrua. De um planeta onde o semiárido ensine o planeta a viver com o pouco, sem destruir o todo.

Enquanto eles derrubam cidades, nós precisamos erguer pontes. Enquanto eles jogam bombas, que joguemos sementes. Enquanto eles espalham medo, que espalhemos palavras, artes, sonhos, rebeldias ternas.

Porque o sertão não quer ver mais guerras. Já viu seca demais, dor demais, abandono demais. O sertão quer ver justiça. Quer ver o mundo aprendendo a viver com o mundo Para refletir, compartilhar, resistir.

Este texto nasce do sertão, mas quer conversar com o mundo. Se tocou você, compartilhe. Se inquietou, reflita. Se provocou, escreva também. Porque todo texto é um grito. E todo grito pode virar caminho

Por Luis Moreira de Oliveira Filho

Blog Olhos do Sertão

 


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