Por Luis Moreira de Oliveira Filho
Com a conversão do imperador Constantino ao cristianismo no século IV (Edicto de Milão, 313 d.C.) e o Concílio de Niceia (325 d.C.), a fé cristã deixou de ser perseguida para tornar-se religião oficial do Império Romano.
A partir daí:
- A Igreja funde-se ao Estado, ganha autoridade civil e poder
militar.
- O papado se fortalece como figura de supremacia espiritual e
política no Ocidente.
- As dissidências (como os
gnósticos, os cátaros, os valdenses, depois os protestantes) passam a ser
tratadas como heresia, crime e
ameaça ao poder constituído.
A religião deixou de ser vivência
espiritual para se tornar instrumento
de controle social e político.
Guerras religiosas em nome da fé
As Cruzadas (1095–1291)
- Convocadas pelos papas para
“libertar” Jerusalém dos muçulmanos.
- Foram, na prática, guerras
de conquista e saques — com massacres de judeus, árabes e cristãos do
Oriente.
- As cruzadas marcaram a militarização da fé.
Inquisição (séc. XIII–XIX)
- Tribunal criado para
reprimir heresias (gnósticos, cátaros, bruxas, cientistas, etc.).
- Usou tortura, censura,
fogueiras e perseguições em nome da “pureza da fé”.
Guerras religiosas na Europa (séc. XVI–XVII)
- Lutas entre católicos e
protestantes, como a Guerra dos Trinta Anos (1618–1648).
- Milhões de mortos por
disputas entre doutrinas cristãs diferentes.
O paradoxo: a fé de Jesus X a religião do poder
Jesus histórico:
- Pregava o amor aos inimigos,
o perdão, a não-violência, a compaixão.
- Foi perseguido e executado pelos poderes político-religiosos da
época (Roma + fariseus).
- Nunca fundou uma igreja
hierárquica nem abençoou armas ou guerras.
O que se seguiu, com a criação da
Igreja imperial, os dogmas, o papado e o uso da cruz como símbolo de guerra, é uma traição à mensagem original do Cristo.
Conclusão: Religião pode salvar ou dominar
|
Religião como experiência espiritual |
Religião como poder institucional |
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Liberta, cura, ilumina |
Controla, julga, guerreia |
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Aproxima do sagrado interior |
Media o sagrado por dogmas |
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Convida à compaixão e à verdade |
Impõe obediência e ortodoxia |
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É viva e plural |
É rígida e violenta na diferença |
Então, sim, o cristianismo institucionalizado, especialmente após sua
fusão com o Império Romano, foi usado
para legitimar guerras e opressões, tanto quanto outras religiões o
foram (inclusive o islamismo e o judaísmo em contextos distintos).
Mas isso não é culpa da fé em si, nem de Jesus, mas do uso político da religião como forma de
dominação.
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