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sexta-feira, 20 de junho de 2025

🏰✝️ 1. Quando a fé virou poder político

 Por Luis Moreira de Oliveira Filho

Com a conversão do imperador Constantino ao cristianismo no século IV (Edicto de Milão, 313 d.C.) e o Concílio de Niceia (325 d.C.), a fé cristã deixou de ser perseguida para tornar-se religião oficial do Império Romano.

A partir daí:

  • A Igreja funde-se ao Estado, ganha autoridade civil e poder militar.
  • O papado se fortalece como figura de supremacia espiritual e política no Ocidente.
  • As dissidências (como os gnósticos, os cátaros, os valdenses, depois os protestantes) passam a ser tratadas como heresia, crime e ameaça ao poder constituído.

A religião deixou de ser vivência espiritual para se tornar instrumento de controle social e político.


Guerras religiosas em nome da fé

As Cruzadas (1095–1291)

  • Convocadas pelos papas para “libertar” Jerusalém dos muçulmanos.
  • Foram, na prática, guerras de conquista e saques — com massacres de judeus, árabes e cristãos do Oriente.
  • As cruzadas marcaram a militarização da fé.

Inquisição (séc. XIII–XIX)

  • Tribunal criado para reprimir heresias (gnósticos, cátaros, bruxas, cientistas, etc.).
  • Usou tortura, censura, fogueiras e perseguições em nome da “pureza da fé”.

Guerras religiosas na Europa (séc. XVI–XVII)

  • Lutas entre católicos e protestantes, como a Guerra dos Trinta Anos (1618–1648).
  • Milhões de mortos por disputas entre doutrinas cristãs diferentes.

O paradoxo: a fé de Jesus X a religião do poder

Jesus histórico:

  • Pregava o amor aos inimigos, o perdão, a não-violência, a compaixão.
  • Foi perseguido e executado pelos poderes político-religiosos da época (Roma + fariseus).
  • Nunca fundou uma igreja hierárquica nem abençoou armas ou guerras.

O que se seguiu, com a criação da Igreja imperial, os dogmas, o papado e o uso da cruz como símbolo de guerra, é uma traição à mensagem original do Cristo.

Conclusão: Religião pode salvar ou dominar

Religião como experiência espiritual

Religião como poder institucional

Liberta, cura, ilumina

Controla, julga, guerreia

Aproxima do sagrado interior

Media o sagrado por dogmas

Convida à compaixão e à verdade

Impõe obediência e ortodoxia

É viva e plural

É rígida e violenta na diferença

Então, sim, o cristianismo institucionalizado, especialmente após sua fusão com o Império Romano, foi usado para legitimar guerras e opressões, tanto quanto outras religiões o foram (inclusive o islamismo e o judaísmo em contextos distintos).

Mas isso não é culpa da fé em si, nem de Jesus, mas do uso político da religião como forma de dominação.

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