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terça-feira, 3 de novembro de 2009

Pensando o futuro depois de Lula.


Do blog de Luis Nassif um belo texto para se discutir. Também não vejo o Lula retornando em 2014 e já penso que há projetos maiores - política externa, por exemplo e organismos internacionais em que o Lula e seus visualizando para um futuro próximo. Procurem ler o texto que é bem interessante para quem quer pensar e fazer um país melhor para todos os brasileiros.




Também acho que o grande mérito do governo atual é colocar algo de social-democracia na prática. As grandes diferenças foram essa correção de rumo (que não deve ser abandonada pois revelou-se útil para o capital), um pouco mais de nacionalismo e um pouco mais de prudência em relação ao neoliberalismo. Muito sensato e nada revolucionário.

Um eventual governo Serra (2002) ou Alckmin (2006) não teria vontade política para fazer bolsa-família, pro-uni, inclusão digital, etc. deslancharem. Talvez direcionassem a redução de juros para redução líquida de tributos, no lugar de financiar PAC’s. O PIB hoje seria mais ou menos o mesmo (aproveitando o bom momento internacional), mas a distribuição de renda e a infra-estrutura seria pior (prejudicando o futuro). Talvez não tivessem corrido o risco de promover políticas econômicas anticíclicas. O PIB, repetindo, poderia ser hoje de US$ 1,9 tri no lugar de US$ 2 tri, um pouco mais concentrado e a vida seguiria mais ou menos igual.

E, certamente, sendo isto o mais importante para esta discussão: PSDB/DEM também NÃO teriam feito nenhuma reforma política e/ou eleitoral. E também estariam coligados com a “federação de políticos” (o PMDB). Nesse ponto a diferença seria que a mídia não investigaria os casos negativos, não porque não ocorreriam em até maior monta, mas porque não lhe interessaria.

Sim, certamente caminharemos para o futuro sem Lula. É esse caminho que, acho, está sendo preparado (eu não imagino, p.ex., que Lula deseja retornar em 2014.) É uma intuição minha totalmente subjetiva, claro, mas não o vejo como caudilho (como Franco, Salazar, Perón, Chávez, Uribe, Ortega, etc., etc.) Ele não deixa nenhuma margem à dúvida de ser uma pessoa extremamente prática. Sendo assim, certamente nota coisas mais interessantes para fazer no futuro e sabe que o Brasil tem quadros de sobra para tocar qualquer projeto que deixe de legado. Ele já obteve o máximo que um político pode desejar, ou seja, extrema popularidade sem simultaneamente recorrer a artifícios autoritários.

Também não o vejo como paternalista, à la G.V. ou mesmo Perón. Lula é o que seria “normal” (não está recolhendo ouro para o Brasil, mandando políticos e jornalistas para Ilha Grande, criando impostos novos, construindo capitais, endividando o país, socializando saúde ou educação, nada disso). Deveria estar fazendo reforma agrária ou poderia melhorar as aposentadorias, mas isso não fez. É que todo o conjunto anterior de políticos (pós-Jango) se colocou perante a população de forma tão fria e tecnocrática que o contraste ficou visível.

Não é Lula que é mais “simpático” a líderes internacionais, empresários, populares ou a subempregados, são os outros que ficaram devendo.

Em geral, não tem sido o PT que se projetou. Seu quadro de políticos e técnicos não fez muito mais do que o senso comum esperaria em economia (mas reluziu no que se refere a combate à fome e inserção social.) É o PSDB, em geral, que está perdendo o brilho (o DEM/PPS também, mas há muito mais tempo.) A maior parte das críticas construtivas ou inovadoras ao governo, por ex., vem dos seus próprios apoiadores, não da oposição. (E menos mal que em algum ponto surgem críticas, pois senão nada evolui.)

A oposição perde tempo precioso (que deveria ser dedicado à elaboração de um projeto de governo) quando fica questionando as alianças do PT com PMDB, PP, PR ou PTB (e talvez o faça por desejar as mesmas alianças.) Não é culpa do PT que esses partidos simultaneamente têm eleitores (ou seja, deputados e senadores) e que apóiam o mesmo projeto de governo. Se deixaram de ser adversários históricos, e se assim são vistos por seus eleitores…

A oposição não busca eleitores, tenta desqualificar a situação para que ela perca eleitores. Isso não é produtivo, pois, no limite, se os eleitores dessem a importância devida a denúncias (e, para o bem ou para o mal, não dão) só aumentariam os votos nulos. A maioria da população ignora os procedimentos antiéticos da maioria dos seus representantes políticos (atualmente, o pior de todos, na minha opinião, é o exagero desmesurado em gastos publicitários do governo de SP.) Um segmento menor releva ou aceita esses erros. Eu acho positivo que existam segmentos empenhados na obtenção de um substancialmente maior grau ético na prática política, mas não vejo possibilidades de sucesso no curto prazo.

Há alguns problemas na política atual:

a ) situações onde o voto dos senadores é secreto, prejudica muito a governabilidade
b ) a pouca transparência nas doações de campanha, estimula muito interesses paralelos (ex. Pref. Mun. SP atual)
c ) a falta de vinculação no voto (que faz “executivos de situação” concomitantes a “legislativos de oposição”), também prejudica muito a governabilidade
d ) a ainda existente falta de fidelidade partidária, no troca-troca de set./2005 e set./2009 ninguém perdeu mandato
e ) pouca autonomia do executivo

Não foi o PT o defensor de nenhum desses pontos. Esse partido convive com as barreiras herdadas (de certo modo, desistiu de lutar contra o “sistema” da governabilidade.) O PT (que eu saiba) não prometeu tentar governar sozinho (e de resto não conseguiria.) O que prometeu (e está entregando) foi responsabilidade fiscal, manutenção de compromissos internacionais, continuidade legal e trabalhar pela inserção social. E buscou o apoio como pôde.

O PT prometeu respeito estrito à ética (todos prometem), mas não teve a melhor nota nesse quesito. Só que poucos (se é que algum) tiveram nota melhor.

Não acho que vai haver nenhuma reforma política/eleitoral em um cenário próximo. Nenhum partido se compromete com isso. A maioria absoluta da população (por ignorância, omissão ou erro de avaliação) não está cobrando isso (eu também não.) O que tem chance de entrar em pauta é reforma tributária, política industrial (e cambial), programas sociais.

Pensando em 2010, o raciocínio será simplista sim, pelo fato de que não há alternativas mais sofisticadas à vista. O PT (coligado com PMDB/PDT/PCDB/etc.) ainda apresenta (na ausência de qualquer outro projeto) o melhor projeto de desenvolvimento econômico e inserção social, além de representar o conservadorismo médio brasileiro, mesmo tendo perdido em qualidades morais. A esquerda (PSOL) e, com algum benefício da dúvida, parte da direita (PV) podem apresentar melhor perfil ético, mas não têm projeto de governo nem sustentabilidade no legislativo. A parte majoritária da direita (no caso como rótulo simplificador para análise), representada pela coligação PSDB/DEM/PPS, não oferece nem projeto de governo (pelo menos não ainda) nem perfil ético (muito mais desgastado que PT ou PMDB). As dúvidas são para onde vai o PSB e parte do PMDB.

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