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segunda-feira, 30 de junho de 2025

O Irã é a Pérsia que resistiu

Por Luis Moreira Oliveira Filho – Olhos do Sertão

“Nem o tempo, nem os impérios, apagam a memória de um povo que carrega sua história no idioma, na poesia e na terra.”
Olhos do Sertão

Poucos lugares no mundo carregam em si o peso de uma civilização milenar como o Irã. Conhecido durante séculos como Pérsia, esse território foi berço de impérios, de poetas e de lutas. Mas a história da Pérsia não terminou nos livros antigos — ela vive, pulsa e resiste na alma do Irã moderno.


De Ciro à República Islâmica: a longa estrada persa

Foi por volta de 550 a.C. que Ciro, o Grande unificou os povos medos e persas, criando o primeiro grande império multicultural do mundo: o Império Aquemênida. Seu coração batia nas cidades de Pasárgada, Susa e Persepolis, esta última, hoje em ruínas, ainda sussurra ao vento a glória de um tempo em que a tolerância religiosa e a administração eficiente se tornaram modelo para muitos.

Séculos depois, os gregos invadiram, os árabes islamizaram, os mongóis devastaram. Mas nenhum império foi capaz de apagar a memória dos persas. Nem mesmo o Islã,  embora dominante,  conseguiu destruir o idioma e a cultura persa. O Irã resistiu, fiel à sua língua, seus poetas, seus traços próprios.

Pérsia ou Irã? Qual a diferença?

Na verdade, não há uma diferença real.
“Pérsia” era como os estrangeiros chamavam esse território. Já os próprios persas sempre disseram: Irã, que vem de “Aryānām”, ou “Terra dos Arianos”.

Foi só em 1935 que o governo iraniano pediu oficialmente ao mundo que o nome “Irã” fosse adotado nas relações internacionais.
Mas a essência não mudou. A língua ainda é o farsi, descendente direto do persa antigo. A alma ainda é a mesma: uma alma de resistência, sabedoria e memória.

Onde estão as cidades da velha Pérsia?

  • Persepolis – capital cerimonial, hoje patrimônio da humanidade.
  • Susa – cidade administrativa do império.
  • Pasárgada – onde repousa Ciro, o libertador dos judeus.
  • Ecbátana (Hamadan) – cidade sagrada e histórica.
  • Shiraz – terra de poetas como Hafez e Saadi.
  • Isfahan – jóia da arquitetura islâmica persa.

Cada uma dessas cidades é mais que pedra e poeira: são marcas vivas da longa trajetória do povo iraniano.

Um povo que lembra

O Irã é herdeiro direto da Pérsia. Mas mais que isso: é símbolo de um povo que nunca aceitou apagar sua história. Mesmo após a islamização, manteve sua identidade. E hoje, em meio a sanções, ameaças e guerras por procuração, ainda se levanta como um dos poucos países do Oriente que não se curvou às potências ocidentais.

O império pode ter tanques.
O Irã tem poesia.
O império pode impor silêncio.
O Irã guarda a memória.

🌾 Com os olhos do sertão

Assim como o sertanejo guarda o saber da terra, da seca, do silêncio e da resistência, o povo iraniano guarda sua civilização entre as palavras e os muros antigos. Do zoroastrismo ao xiismo, da espada ao verso, da cuneiforme à caligrafia persa, há algo que nunca se perdeu: a noção de que um povo sem memória é um povo que morre em vida.

O Irã é a Pérsia viva, que não cabe nos clichês da mídia nem nos manuais da guerra. E quem vê com os olhos do sertão, sabe: não se apaga uma história que resiste no chão, na língua e na alma.

 

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