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domingo, 29 de junho de 2025

Nordeste: território de resistência, memória e esperança


Durante muito tempo, o Nordeste foi tratado como resto. A história oficial do Brasil, escrita sob as luzes do Sul e do Sudeste, tentou apagar as dores e as potências desse chão de sol quente, suor e dignidade. Mas o Nordeste nunca foi terra de silêncio: sempre foi território de resistência e de memória.

Minha própria família é testemunha disso. Meu avô materno alguns e tios fugiram da seca, da fome e da miséria. Foram em direção ao Maranhão, ao Tocantins, à Amazônia, como tantos nordestinos que tomaram o rumo do mato, dos rios e das promessas. Uns voltaram. Outros se perderam no mapa e na saudade.

Minha avó materna morreu sem ver novamente o filho Emanuel. Ele partiu em busca de uma vida melhor e nunca mais deu notícia. A perda em vida foi ferida que o tempo não fechou. O nome dele era lembrado nas preces, como se ainda fosse possível que um dia voltasse à Ilha do Poró, em Jaguaruana, de onde saíram tantos Moreira, Barbosa, Oliveira e Pereira, famílias inteiras que fugiram, não por escolha, mas por necessidade.

E eu mesmo cresci sob a escassez. Era menino dos anos 1970. A miséria nos rondava, mas havia uma chama acesa: o valor da educação. Muitas vezes estudávamos à luz de lamparina, porque a energia ainda não chegava. Embebidos em livros, mesmo que poucos e gastos, ali aprendíamos a sonhar.

Meus pais, heróis do cotidiano, lutavam dia após dia para manter oito filhos na escola. E todos nós, com orgulho, frequentávamos o Grupo Escolar Manuel Matoso Filho. A mesa era simples, a roupa pouca, mas a esperança era firme como as pedras do sertão.

A Ilha do Poró ficou mais vazia, mas nunca se calou. E o silêncio de quem partiu ecoa até hoje nos quintais, nas missas, nos retratos desbotados que ainda restam nas paredes.

O Nordeste e a política da exclusão

O que minha família viveu, viveu também milhares de outras. O povo nordestino é povo sobrevivente da escassez. Aqui tudo nos foi negado: escolas, postos de saúde, aposentadorias, empregos. A fome era companheira diária, e o desemprego fazia o sertanejo partir ou perecer. A industrialização ignorou nossas cidades e periferias. A seca virou negócio para coronéis que exploravam a miséria com falsas obras de salvação.

No Ceará, surgiram os chamados "currais da fome" — campos de concentração que fariam inveja ao horror nazista. Enquanto Hitler matava com gás, aqui se morria de barriga seca, de abandono e descaso.

Quando até os sonhos foram interrompidos

Em 1963, Paulo Freire alfabetizou trabalhadores em Angicos (RN), num projeto revolucionário. Um dos alunos declarou diante do presidente João Goulart:

“Um dia desses esteve aqui Getúlio Vargas para matar a fome de barriga de nosso povo. Hoje está aqui João Goulart para matar a fome de cabeça.”

Essa frase era mais que poesia: era revolução. Mas o golpe de 1964 interrompeu tudo. Cancelaram não só um projeto de alfabetização, mas uma possibilidade de libertação real para o povo nordestino.

O encontro com a história: Lula e o povo nordestino

Foi apenas em 2003 que o Brasil reencontrou o Nordeste com respeito. Com a chegada de Lula à presidência, um operário nordestino, o sertão saiu do rodapé das políticas públicas e subiu para o cabeçalho da dignidade.

·        Bolsa Família garantiu comida e dignidade.

·        Luz para Todos clareou as noites e as possibilidades.

·        Universidades e Institutos Federais de Educação -  IFs chegaram onde antes só havia silêncio.

·        Obras como a transposição do São Francisco mostraram que o sertão não é estéril — é fértil de vida.

·        Programas como o Programa de Aquisição de Alimentos - PAA e o Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE valorizaram o que há de mais sábio: o cultivo da terra pelas mãos do povo.

Foi nesse tempo que muitos deixaram de partir, ou puderam, enfim, voltar. A terra dos meus avós, aquela Ilha do Poró, deixou de ser só lugar de partida e passou a ser também lugar de permanência.

Por que resistimos ao extremismo

O Nordeste resiste ao extremismo porque sabe o que é ser tratado como inimigo interno da nação. Aqui, o povo não se deixa enganar por discursos de ódio ou promessas vazias. Já vivemos o extremo do abandono e da humilhação — sabemos reconhecer quem governa com o povo, e não contra ele.

Resistimos porque temos memória. Porque lembramos dos que se foram, como meu tio Emanuel, do meu Tio Onildo e dos que ficaram rezando por uma chance de viver com dignidade. Porque sabemos que não se governa um povo com fake news, mas com água, saúde, escola, pão e palavra.

O sertão nunca foi o problema

O problema nunca foi o semiárido, a seca, o solo ou o clima. O problema sempre foi a falta de oportunidades. E quando há política pública, há colheita. Quando há investimento, há vida.

O Nordeste não é pobre, foi empobrecido. Mas nunca perdeu a coragem, a fé, a força da sua gente. A cada eleição, o Nordeste não vota só com o dedo — vota com o coração da memória e com o juízo da esperança.

E se o Brasil quiser se reencontrar com a sua verdadeira alma, terá que olhar para o Nordeste, não como problema, mas como caminho.

Olhos do Sertão continua firme, como as carnaubeiras do nosso chão, lembrando de onde viemos e apontando para onde ainda podemos ir. Votar no Lula e no seu projeto de desenvolvimento do país, principalmente o Nordeste e o Norte, regiões que historicamente foram abandonadas, é dignificar a luta de nossas famílias que sobrevieram à fome e à miséria. Hoje temos educação, temos políticas públicas que emanciparam o povo nordestino.

Sou mestre, professor e com muitas formações, fruto das lutas dos meus pais e das políticas emancipatórias de Lula.

Hoje minha cidade Russas é um polo universitário, formando engenheiros (as) para o Brasil e o mundo. E minha Jaguaruana tem um Campus do Instituto Federal de Educação (IFs). Então, Lula trouxe muitas oportunidades para o povo nordestino, como Luz  para Todos, Farmácia Popular, Minha Casa, Minha Vida e tantos outros programas.

Então, o Nordeste é mais do que resistente, é um campo de possibilidades e potencialidades, a região que mais cresce e mais jovens se emancipam.

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