Durante muito tempo,
o Nordeste foi tratado como resto. A história oficial do Brasil, escrita sob as
luzes do Sul e do Sudeste, tentou apagar as dores e as potências desse chão de
sol quente, suor e dignidade. Mas o Nordeste nunca foi terra de silêncio:
sempre foi território de resistência e de memória.
Minha
própria família é testemunha disso. Meu avô materno alguns e tios fugiram da seca, da fome e
da miséria. Foram em direção ao Maranhão, ao Tocantins, à Amazônia, como tantos
nordestinos que tomaram o rumo do mato, dos rios e das promessas. Uns voltaram.
Outros se perderam no mapa e na saudade.
Minha
avó materna morreu sem ver novamente o filho Emanuel. Ele partiu em busca de
uma vida melhor e nunca mais deu notícia. A perda em vida foi ferida que o
tempo não fechou. O nome dele era lembrado nas preces, como se ainda fosse
possível que um dia voltasse à Ilha do Poró,
em Jaguaruana, de onde saíram tantos Moreira, Barbosa, Oliveira
e Pereira, famílias inteiras que fugiram, não por escolha, mas
por necessidade.
E eu mesmo cresci sob a escassez. Era menino dos anos 1970. A miséria nos rondava, mas havia uma chama acesa: o valor da educação. Muitas vezes estudávamos à luz de lamparina, porque a energia ainda não chegava. Embebidos em livros, mesmo que poucos e gastos, ali aprendíamos a sonhar.
Meus pais, heróis do
cotidiano, lutavam dia após dia para manter oito filhos na escola.
E todos nós, com orgulho, frequentávamos o Grupo
Escolar Manuel Matoso Filho. A mesa era simples, a roupa pouca,
mas a esperança era firme como as pedras do sertão.
A Ilha do Poró ficou mais vazia, mas nunca se
calou. E o silêncio de quem partiu ecoa até hoje nos quintais, nas missas, nos
retratos desbotados que ainda restam nas paredes.
O
Nordeste e a política da exclusão
O que minha família
viveu, viveu também milhares de outras. O povo nordestino é povo sobrevivente
da escassez. Aqui tudo nos foi negado: escolas, postos de saúde,
aposentadorias, empregos. A fome era companheira diária, e o desemprego fazia o
sertanejo partir ou perecer. A industrialização ignorou nossas cidades e
periferias. A seca virou negócio para coronéis que exploravam a miséria com
falsas obras de salvação.
No Ceará, surgiram
os chamados "currais da fome" —
campos de concentração que fariam inveja ao horror nazista. Enquanto Hitler
matava com gás, aqui se morria de barriga seca, de abandono e descaso.
Quando
até os sonhos foram interrompidos
Em 1963, Paulo Freire
alfabetizou trabalhadores em Angicos (RN), num projeto revolucionário. Um dos
alunos declarou diante do presidente João Goulart:
“Um dia desses esteve aqui Getúlio Vargas para
matar a fome de barriga de nosso povo. Hoje está aqui João Goulart para matar a
fome de cabeça.”
Essa frase era mais
que poesia: era revolução. Mas o golpe de 1964 interrompeu tudo. Cancelaram não
só um projeto de alfabetização, mas uma possibilidade de libertação real para o
povo nordestino.
O
encontro com a história: Lula e o povo nordestino
Foi apenas em 2003
que o Brasil reencontrou o Nordeste com respeito. Com a chegada de Lula à
presidência, um operário nordestino, o sertão saiu do rodapé das políticas
públicas e subiu para o cabeçalho da dignidade.
·
Bolsa Família
garantiu comida e dignidade.
·
Luz para Todos
clareou as noites e as possibilidades.
·
Universidades e Institutos Federais de Educação - IFs chegaram onde antes só
havia silêncio.
·
Obras como a transposição
do São Francisco mostraram que o sertão não é estéril — é fértil
de vida.
·
Programas como o Programa de Aquisição de
Alimentos - PAA
e o Programa
Nacional de Alimentação Escolar - PNAE valorizaram o que há de mais
sábio: o cultivo da terra pelas mãos do povo.
Foi nesse tempo que
muitos deixaram de partir, ou puderam, enfim, voltar. A terra dos meus avós,
aquela Ilha do Poró, deixou de ser só lugar de partida e passou a ser também
lugar de permanência.
Por que
resistimos ao extremismo
O Nordeste resiste
ao extremismo porque sabe o que é ser tratado como inimigo interno da nação.
Aqui, o povo não se deixa enganar por discursos de ódio ou promessas vazias. Já
vivemos o extremo do abandono e da humilhação — sabemos reconhecer quem governa
com o povo, e não contra ele.
Resistimos porque
temos memória. Porque lembramos dos que se foram, como meu tio Emanuel, do meu
Tio Onildo e dos que ficaram rezando por uma chance de viver com dignidade.
Porque sabemos que não se governa um povo com fake news, mas com água, saúde,
escola, pão e palavra.
O sertão
nunca foi o problema
O problema nunca foi
o semiárido, a seca, o solo ou o clima. O problema sempre foi a falta de
oportunidades. E quando há política pública, há colheita. Quando há
investimento, há vida.
O Nordeste não é
pobre, foi empobrecido. Mas nunca perdeu a coragem, a fé, a força da sua gente.
A cada eleição, o Nordeste não vota só com o dedo — vota com o coração da
memória e com o juízo da esperança.
E se o Brasil
quiser se reencontrar com a sua verdadeira alma, terá que olhar para o
Nordeste, não como problema, mas como caminho.
Olhos do Sertão continua firme, como
as carnaubeiras do nosso chão, lembrando de onde viemos e apontando para onde
ainda podemos ir. Votar no Lula e no seu projeto de desenvolvimento do país,
principalmente o Nordeste e o Norte, regiões que historicamente foram
abandonadas, é dignificar a luta de nossas famílias que sobrevieram à fome e à
miséria. Hoje temos educação, temos políticas públicas que emanciparam o povo
nordestino.
Sou mestre, professor e com muitas formações,
fruto das lutas dos meus pais e das políticas emancipatórias de Lula.
Hoje minha cidade Russas é um polo universitário,
formando engenheiros (as) para o Brasil e o mundo. E minha Jaguaruana tem um
Campus do Instituto Federal de Educação (IFs). Então, Lula trouxe muitas
oportunidades para o povo nordestino, como Luz
para Todos, Farmácia Popular, Minha Casa, Minha Vida e tantos outros
programas.
Então, o Nordeste é mais do que resistente, é um
campo de possibilidades e potencialidades, a região que mais cresce e mais
jovens se emancipam.
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