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domingo, 2 de outubro de 2011

Em Londres, Lula não poupa críticas aos líderes europeus

Lula fala aos líderes empresariais europeus em seminário de revista conservadora

Por Redação, com agências internacionais - de Londres


Ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva não poupou críticas aos líderes europeus, na noite passada, por se manterem passivos diante da crise mundial do capitalismo, sem tomar as medidas necessárias para ajudar o bloco a superar as dificuldades. No seminário promovido pela revista conservadora britânica The Economist, nesta capital, Lula disse que “não é bom tomar decisões econômicas de olho em pesquisas eleitorais”. Era uma crítica principalmente à chanceler alemã, Angela Merkel, que tem perdido popularidade interna e resiste a aprovar medidas para ajudar países endividados da zona do Euro, como Grécia e Itália.


– Quanto custaria para a Europa ter resolvido o problema da Grécia há dois anos? E olha o que a crise lá está causando para o mundo – disse o ex-presidente.
A Grécia já acertou dois empréstimos com o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional (FMI), mas continua com dificuldades para honrar suas dívidas, que já ultrapassam 140% do seu Produto Interno Bruto (PIB). O mercado já dá como certo um calote grego e tem exigido juros cada vez mais altos para comprar os títulos do país.
– Muitos dirigentes hoje não têm experiências com crises. Crises se resolvem com medidas políticas, não econômicas – afirmou Lula, no discurso que durou 38 minutos.
O líder brasileiro sugeriu uma saída óbvia para a estagnação econômica: o aumento do consumo mundial. Para ele, a Europa e os Estados Unidos deveriam financiar o aumento do mercado consumidor em países como China, Índia e africanos para que essas pessoas comprassem produtos do chamado Primeiro Mundo. Lula deu também uma sugestão para os Estados Unidos. Disse que, em vez de ficar dando dinheiro para salvar os bancos, o governo deveria arrumar um jeito de reduzir a dívida dos mutuários, para que eles voltassem a consumir e a movimentar a economia.
Protecionismo
Durante seu discurso, Lula afirmou que o mundo precisa agir globalmente e que não é hora de medidas protecionistas. Mas em entrevista na saída não quis criticar o Brasil, que elevou o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de carros importados – medida que desagradou à China, país que ameaça fazer uma reclamação formal na Organização Mundial do Comércio (OMC). Segundo Lula, havia um desbalanço no comercio bilateral entre os dois países que precisava ser resolvido.
Presidente da Câmara de Comércio Brasil-China, Charles Tang, também presente ao seminário da Economist, argumentou que Brasil perderá US$ 2 bilhões de investimentos por causa de medidas protecionistas.
– O Brasil está protegendo os velhos estrangeiros (montadoras americanas e europeias) e prejudicando os novos. Os velhos continuam a produzir carroças que são vendidas para o pobre povo brasileiro – afirmou Tang aos jornalistas.
Copa do Mundo
Ainda no seminário, a tramitação da Lei Geral da Copa, recebida com resistência pela Fifa por liberar a venda de meia entrada, entre outros pontos, foi apresentada como uma questão de soberania na opinião do ex-presidente Lula.
– Acho que é muito difícil que a Fifa resolva ter uma discordância de um projeto de lei aprovado de forma soberana pelo Congresso Nacional. Nenhum país do mundo vai deixar a sua soberania para atender interesse dela ou daquela entidade, seja ela qual for. Temos que assumir um compromisso com o mundo esportivo e o Brasil, que conhece futebol, e vai fazer a melhor Copa do Mundo que puder ser feita. O resto a Fifa deixa com o Brasil, que sabe fazer – afirmou.
O projeto, que ainda será votado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado, cria uma legislação especial para regular, entre outros pontos, a cobrança de meia entrada nos estádios e os direitos comerciais da venda de produtos e imagens. Insatisfeita com o impacto que essa lei teria nas suas receitas, a Fifa recebeu mal o projeto.
Na quarta-feira, o ministro do Esporte, Orlando Silva, havia pedido ao presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), agilidade na votação. Silva pediu a instalação de uma comissão especial sobre o assunto para acelerar os trâmites do projeto, com objetivo de votá-lo na Câmara e no Senado ainda neste ano. Ele também confirmou que a presidente Dilma Rousseff deve se encontrar com representantes da Fifa em breve para tratar do assunto.
Lula chegou à capital britânica na véspera, quando fez uma palestra para investidores estrangeiros durante encontro do grupo espanhol Santander. Nesta sexta, ele participou de uma conferência promovida pela Economist sobre as possibilidades de investimento em mercados como o Brasil e a Índia. Esse foi o seu último compromisso antes de embarcar de volta para o Brasil nesta sexta, após uma semana participando de eventos nos Estados Unidos e na Europa.
O giro internacional começou na sexta passada, quando foi a Washington (EUA) também para uma palestra. Em seguida, viajou a Paris, onde, na terça, recebeu o título de doutor Honoris Causa do Instituto de Estudos Políticos (SciencesPo, na sigla em francês), o maior da França. Na quinta-feira, pela manhã, Lula esteve em Gdansk, na Polônia, onde se encontrou com Lech Walesa, ex-presidente polonês, sindicalista e prêmio Nobel da Paz, para receber um prêmio “em reconhecimento aos seus esforços para conseguir uma cooperação pacífica e a compreensão entre as nações (…) e por sua contribuição para redução da desigualdade social”, segundo nota da fundação Lech Walesa.

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