A inveja de Hillary
Autor(es): agência o globo:Paulo Silva Pinto
Correio Braziliense - 06/10/2011
Atuação de Dilma em vender o país como uma potência global leva o primeiro-ministro da Bulgária a fazer uma confidência: secretária de Estado dos EUA quer ter a presidente brasileira como parceira
Sófia — Sucessora de dois presidentes com relevância internacional indiscutível, Dilma Rousseff conquista a cada dia densidade política global. Essa transformação avançou muito no mês passado, na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em Nova York. Neste semana, porém, Dilma foi a grande convidada da V Cúpula Brasil União Europeia. Ainda assim, não levou uma mensagem agradável: disse que a Europa não deve incorrer em políticas que agravem o desemprego e que se traduzam em perda de conquistas sociais. Há, ainda, mais dois grandes desafios de primeira grandeza nas próximas semanas: a reunião dos Ibas (Brasil, Índia e África do Sul), na África do Sul, e a reunião do G-20, em Cannes, no início de novembro.
Na segunda etapa da atual viagem à Bulgária, que se encerra hoje, a expectativa não era outra senão o reconhecimento de Dilma como uma das líderes mundiais mais importantes. E o primeiro-ministro Boyko Borisov de fato não economizou palavras. Ele disse que Dilma é "a dirigente de uma das economias mais fortes do mundo". Agradeceu a vista da presidente ao país porque, segundo ele, sinaliza para "Bruxelas e para o mundo a importância da Bulgária". Em seguida, revelou o que lhe disse a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, em uma conversa que tiveram durante a posse de Dilma, em 1º de janeiro. "Ela me disse sentir inveja da Bulgária, que tem a presidente Dilma Rousseff como uma amiga", contou Borisov.
Dilma e a diplomacia brasileira deixaram claros ontem os esforços para que a visita dela à Bulgária, oficialmente iniciada ontem, não se limitasse à importância pessoal, devido ao fato de seu pai ter nascido no país. "Ao longo da preparação dessa visita, minha orientação sempre foi muito clara: a de aproveitar o caráter emotivo de uma viagem como essa para traduzi-lo em oportunidades concretas de cooperação em benefício de nossos povos", disse Dilma, no encerramento de um encontro que reuniu líderes empresariais brasileiros e búlgaros.
Aumentar as exportações de produtos brasileiros é uma das metas do governo. Mas há um outro especialmente nessa viagem de Dilma à Europa: vender o Brasil como uma potência global que deve ter maior peso nas decisões políticas e econômicas globais. Esse objetivo ficou claro nos discursos de Dilma ontem; após o encontro com o presidente Georgi Parvanov; durante a reunião com o primeiro-ministro Borisov; e também na hora de falar aos empresários.
Além de abordar as oportunidades empresariais dos dois lados, Dilma voltou a comentar a crise econômica que afeta sobretudo a Europa, como havia feito em Bruxelas na segunda e na terça-feira. "O mundo enfrenta uma crise econômica sem precedentes. Os países desenvolvidos não encontram equilíbrio entre ajustes fiscais apropriados e estímulos necessários à economia. Insistem em velhas ideias. Muitas vezes, o que gerou a crise é reafirmado e prescrito como terapia para uma combalida economia mundial."
Cidade do pai
Em entrevista a jornalistas de televisão, no fim do encontro empresarial, Dilma ressaltou que a visita à Bulgária é um momento especial. "É a terra de meu pai." Petar Rousev nasceu em 1900 em Gabrovo, no interior da Bulgária, a cerca de 200km da capital. Em 1929, deixou o país e na década de 1940 estabeleceu-se no Brasil, depois de ter passado por outros países. A presidente dedica o dia de hoje a uma visita à cidade e a um forte militar que fica nas imediações. Indagada se estava preparada para a visita, ela hesitou: "Espero que esteja. Mas a gente nunca sabe. Na hora, a emoção pode bater muito forte".
Em seguida, um jornalista búlgaro perguntou o que ela devia a Petar Rousev, o que a surpreendeu: "A meu pai? A vida! Tem algo mais do que isso?". Ao despedir-se de Dilma, o presidente Parvanov, que acompanhou a entrevista, pediu desculpas pela pergunta do jornalista, que considerou inconveniente. Dilma lhe disse que não via qualquer problema e que a imprensa brasileira costuma agir da mesma forma.
Colaborou Vinicius Sassine
PRIMAS NO JANTAR
Quatro primas de Dilma participaram ontem do jantar oferecido à delegação brasileira pelo presidente da Bulgária, Georgi Parvanov. Vesela Koleva e a mãe, Toshka Kovacheva, que moram em Gabrovo; Tsana Kamenova e Ralisa Neguentsova, que moram em Sófia. Todas pretendem estar hoje em Gabrovo, na visita de Dilma à cidade natal do pai. Segundo Neguentsova, que concedeu entrevista ao Correio publicada na edição de segunda-feira, elas apenas cumprimentaram a presidente, mas não conversaram. "Eu espero falar com ela, nem que seja apenas por dois minutos." O que dirá? "Não sei o que o coração vai querer dizer na hora", disse. De Gabrovo, Dilma embarca hoje para a Turquia, a etapa final da viagem.
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