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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A EUTANÁSIA DO ESTADO DO BEM-ESTAR SOCIAL




A Espanha caminha desastrosamente para figurar nesta crise como um caso patético de rendição do Estado aos ditames dos mercados. O premiê José Luis Zapatero, a exemplo de outros líderes da social-democracia europeia, renega a origem política a apenas três meses da sua sucessão enfraquecendo-se ainda mais dentro do próprio partido e junto à opinião pública progressista. 

Zapatero lidera um acordo com a direita do Partido Popular para promover uma reforma constitucional a toque de caixa. A intenção é inscrever a ortodoxia fiscal na Carta espanhola, obrigando governantes a perseguir um déficit próximo a zero. 



Em plena desordem gerada pela crise das finanças desreguladas, renuncia-se à indução estatal quando mais que nunca ela se faz necessária. Além do mal-estar criado nas fileiras do PSOE, sindicatos rechaçaram a idéia, abraçada entusiasticamente pela direita do PP. Zapatero promove a eutanásia do Estado do bem-estar social baseado num cálculo político ingênuo. Seu governo termina espremido pelo mais elevado nível de desemprego da zona do euro. A taxa média de desocupação é de de 20%, mas salta para 45% entre os jovens. O sistema bancário verga sob dívidas privadas e ativos podres de futuro insondável. A bolha imobiliária espanhola estourou deixando um encalhe de 700 mil imóveis e mais de 20 bilhões de euros em ativos imobiliários micados nas carteiras dos bancos. Outros 30 bilhões de euros em terrenos estocados sufocam a contabilidade bancária e as caixas previdenciárias. O conjunto repercute no risco-país e se cristaliza em custos elevados para a colocação de títulos da dívida pública junto a fundos e investidores ariscos. Para ‘acalmá-los' Zapatero se propõe a tornar o arrocho fiscal algo tão importante na Constituição quanto o direito à vida e à dignidade - algo como designar o diabo para guardar a chave do céu. Que isso parta de um líder socialista apenas confirma a profundidade da colonização mental exercida pelo neoliberalismo na esquerda europeia. Não por acaso o continente representa hoje o epicentro da crise. Dificilmente sairá dela para algo melhor, a menos que a resposta venha das ruas.


(Carta Maior; 6º feira, 26/08/ 2011

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