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sexta-feira, 19 de agosto de 2011

'Telhado de vidro' e eleições de 2012 fazem Alckmin evitar críticas à Dilma



Carta Maior

Além de ter repartido as secretarias de seu governo entre aliados, garantindo o apoio de 72 dos 94 deputados estaduais, Geraldo Alckmin não deseja se indispor com o PMDB do vice-presidente Michel Temer, um parceiro desejado para futuras corridas eleitorais.
Marcel Gomes





SÃO PAULO - O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), deu na quinta-feira (18) mais um passo para se distanciar da estratégia tucana de ampliar o confronto com o governo federal, abalado após a queda de mais um ministro acusado de corrupção.

Ao lado da presidenta Dilma Rousseff e dos outros três governadores da região Sudeste, Alckmin assinou um acordo para unificar o Bolsa Família a sua versão paulista, o Renda Cidadã. A parceria criará um cartão único para a transferência de renda a famílias classificadas como extremamente pobres, com renda inferior a R$ 70 mensais per capita.

Além do evidente ganho de gestão nos projetos sociais, o acordo revela que o governador de São Paulo manterá sua política de boa vizinhança com PT e PMDB, aliados no plano federal. Alckmin sabe que teria pouco a ganhar reforçando críticas sobre loteamento de cargos entre aliados e corrupção na administração pública. Afinal, tem “telhado de vidro”. Para montar seu governo e garantir o apoio de 72 dos 94 deputados da Assembléia do Estado, o governador também repartiu as secretarias entre aliados.

A pasta de Esportes, Lazer e Juventude, hoje conduzida por José Benedito Pereira Fernandes, do DEM, teve até junho o comando do médico Jorge Pagura, indicado pelo PTB, que caiu ao ser acusado de receber pagamentos por plantões que não fez em hospital público. A Secretaria de Turismo é gerida por Márcio França, do PSB. A de Saneamento e Recursos Hídricos, por Eduardo Giriboni, do PV. E a de Emprego, por David Zaia, do PPS.

O deputado federal Rodrigo Garcia, do DEM, passou a ocupar a pasta de Desenvolvimento Social após a crise aberta pela filiação do vice-governador, Guilherme Afif Domingos, ao PSD, partido comandado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Eleito pelo DEM, Afif acumulava a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, mas acabou exonerado da pasta quando mudou de partido.

2012 à vista
Outro forte argumento para Alckmin manter boas relações com o governo federal são as eleições de 2012. O governador paulista fará de tudo para não se indispor com o PMDB do vice-presidente Michel Temer – dois dos ministérios alvos de acusações de corrupção, o Turismo e a Agricultura, mantêm peemedebistas no comando.

A estratégia do Palácio dos Bandeirantes prevê que Alckmin ajeite os pés em duas canoas – a do provável candidato peemedebista, Gabriel Chalita, muito próximo ao governador, e a do possível candidato tucano, José Serra.

O raciocínio é simples. Se Chalita vencer, Alckmin ganharia um forte aliado no PMDB para ser o candidato tucano nas eleições presidenciais de 2014. Se Serra ganhar, acredita que seria muito grande o desgaste de uma renúncia, como a de 2006, para ele tornar-se o candidato presidencial.

No xadrez da futura disputa municipal, o atual prefeito, Gilberto Kassab, deve apoiar Serra, e o PT apresentará ou o ministro Fernando Haddad (Educação) ou a senadora Marta Suplicy. Com três candidatos competitivos, Alckmin poderia coletar dividendos com a vitória de dois deles.

O interesse do governador de São Paulo pelo PMDB não é recente. Logo após vencer as eleições para o Palácio dos Bandeirantes, em 2010, o tucano lançou-se numa empreitada para incluir o partido em seu secretariado. A vaga até já havia sido escolhida – o comando da pasta de Agricultura, então conduzida pelo serrista João Sampaio.

Com o fortalecimento de Michel Temer no comando da sigla no Estado, após a morte de Orestes Quércia, em dezembro de 2010, prevaleceu a posição nacional, em aliança com o PT. Alckmin esperou o quanto pôde e só viria a indicar o novo secretário de Agricultura em maio último – escolheu a agrônoma Mônika Bergamaschi, ligada ao ex-ministro Roberto Rodrigues e não filiada a nenhum partido.

Desenho institucional
Em entrevista à Carta Maior, o cientista político André Pereira César, da CAC Consultoria, de Brasília, fez uma análise pragmática e não moralista desse jogo partidário. Segundo ele, “o desenho institucional do presidencialismo de coalizão brasileiro é também reproduzido nos Estados, obrigando presidente e governadores a buscarem uma composição”.

“O fracionamento é muito grande, são 30 partidos oficialmente registrados no Tribunal Superior Eleitoral. Se ninguém é majoritário, você tem de buscar aliados”, disse, alertando que, com “inteligência política e controle administrativo”, é possível evitar problemas.

O fracionamento dos partidos e das alianças têm sido relativamente combatido pelo Congresso e o Judiciário nos últimos anos, através de medidas como a verticalização e a fidelidade partidária. No entanto, segundo César, uma solução só viria com a “implosão do sistema”.

“Seria necessário fazer uma reforma política que forçasse a redução do número de partidos e reduzisse os cargos de confiança na administração pública, que viram moeda de troca na formação das alianças”, conclui.


Fotos: José Luis da Conceição/Governo de São Paulo

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