Silvia Amorim e Leila Suwwan |
O Globo - 14/08/2011 |
Silvia Amorim e Leila Suwwan
O Globo - 14/08/2011
Pré-candidato à prefeitura da capital paulista, Fernando Haddad admite que ainda precisa aprender a fazer campanha e diz que quer vender imagem de conciliador
O ministro da Educação, Fernando Haddad, de 48 anos, reconhece que precisa "superar" seu estilo formal e contido e aprender a fazer campanha. Escolhido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tentar conquistar a Prefeitura de São Paulo, Haddad ainda está assimilando o "zigue-zague", que o levou da vida acadêmica na USP ao comando do MEC e, agora, ao novo mundo das caravanas do PT, onde busca apoio das bases para se viabilizar como pré-candidato em 2012. Em entrevista, no trajeto de carro de São Bernardo do Campo à Zona Leste da capital, Haddad riu do apelido de "Dilmo" e achou "maldade" as críticas que já recebeu de correligionários. Mas também expôs estratégias preliminares. Quer abrir diálogos com a intelectualidade, de onde é egresso. Sabe que tem chance de crescer entre o eleitorado jovem que pode estudar graças a programas federais. E avalia que, na linha da "renovação", pode aproximar o PT de setores da classe média. Quer vender uma imagem conciliadora, sem discurso raivoso, que dialoga até com o PSDB, um tabu em alguns setores petistas. A promessa será trazer a prosperidade do governo Lula até a capital paulista. Com a ajuda do próprio Lula. "Isso pode fazer a diferença", resume.
O ex-presidente Lula é seu principal cabo eleitoral, mas em SP ele não conseguiu eleger os candidatos do PT nas eleições mais recentes. O que muda?
FERNANDO HADDAD: Negar a importância do presidente Lula na política nacional é um equívoco que espero que ninguém cometa. Mas quero lembrar também que é o partido que vai escolher o seu candidato. Agora, isso não pode servir de pretexto para que ele não se manifeste. O fato de ele manifestar sua opinião não significa que ela vai prevalecer.
O apoio dele ajuda muito, não?
HADDAD: Claro. Ele é uma pessoa que tem um peso muito grande numa campanha e pode fazer a diferença.
Lula gostaria que o PT se aproximasse de setores que se afastaram do partido. O senhor fará isso com a classe média e setores mais intelectualizados?
HADDAD: Pelo meu perfil e minha trajetória, não teria como ser diferente. Por exemplo, eu me reuni um dia desses com alguns companheiros professores que se interessaram por essa possibilidade (pré-candidatura), e isso porque querem ver a cidade melhor e pensam poder colaborar. Essas pessoas têm grande contribuição a dar e não têm estado presentes, a não ser em momentos cruciais de decisão do voto.
Por que tem sido tão difícil para o PT vencer em SP?
HADDAD: Fulanizar o debate não é o melhor caminho para entender o quadro, até porque na cidade de São Paulo nós já ganhamos duas vezes. É óbvio que é um estado em que o PT tem mais dificuldade de penetração. Outra questão são as circunstâncias políticas, que nem sempre foram favoráveis para uma vitória. E, quando houve a vitória, nem sempre São Paulo contou com apoio estadual e federal nas nossas administrações para que muitos problemas agudos fossem equacionados. Agora temos uma oportunidade, que é trazer a experiência do governo Lula para a cidade.
"Pacto federativo precisa ser enfatizado", diz
Como está a sua participação na busca de apoios?
HADDAD: Estou dedicando todo o meu tempo livre para conversar com as lideranças da cidade. Tenho falado com vereadores, telefonado, participado dos debates (internos do PT). Evidente que uma coisa que me limita é a dedicação obrigatória ao ministério. É uma gestão que administra R$70 bilhões. De segunda a sexta meu trabalho será exatamente como antes.
Se escolhido, deixa o ministério em outubro ou abril?
HADDAD: Em outubro nem pensar, porque tenho minha agenda no MEC. Tem três projetos muito importantes. Temos o Pronatec, a empresa pública de hospitais e o Pronaf da Educação para aprovar.
O PT em São Paulo critica a administração de Gilberto Kassab (PSD) e, como ministro, o senhor precisa ter postura republicana. Como pode ser uma coisa no fim de semana e outra durante a semana?
HADDAD: Temos que ter muita cautela em relação à condução do relacionamento. Vou dar um exemplo. Todo mundo sabe que falta vaga em creche em São Paulo. Eu liguei para o prefeito Kassab e disse a ele que irei solicitar audiência porque precisamos dar sequência à documentação para trazer o programa Pró-Infância para São Paulo. O programa é de 2007 e não vamos medir esforços para trazer recursos.
Como fica o discurso do pré-candidato?
HADDAD: O partido tomou posição de se colocar como oposição à atual administração e isso só ele pode rever. Isso não está em discussão. A cidade sabe o que está se passando, sentindo os problemas. O que penso que o paulistano quer, essa é minha aposta, é alguém que diga: eu sei quais são os problemas e tenho uma forma diferenciada para resolvê-los. Essa questão do pacto federativo em São Paulo precisa ser colocada com muita ênfase. Perdemos uma oportunidade do governo Lula de melhorar São Paulo. Houve incompreensão das autoridades locais. Misturou-se a questão política partidária com uma visão estratégica da cidade. Minha experiência no governo federal pode mudar isso.
O senhor vem se aproximando do governo de São Paulo, do PSDB. Como é isso?
HADDAD: Esse é um caso interessante. A primeira visita que recebi no governo Dilma foi do secretário (estadual de Educação), Herman Voorwald. Um fato inédito na minha gestão. A primeira vez que um secretário de São Paulo sinaliza que quer alinhar esforços.
O eleitorado jovem beneficiado diretamente pela sua gestão e a classe média emergente embarcarão na sua candidatura?
HADDAD: Não estou num momento de fazer esse tipo de cálculo. Mas vejo um potencial de debate com a juventude de São Paulo enorme. Há potencial de diálogo com essa camada da sociedade que chegou ao ensino superior e à educação técnica."Não desejaria uma chapa puro-sangue do PT"
O senhor se sente à vontade no palanque?
HADDAD: É uma operação, a estreia política. Comecei como chefe de gabinete na Prefeitura de São Paulo, fui assessor, secretário e, dois anos depois, era ministro da Educação. Com a mesma velocidade, vou ter que processar informações para me superar neste momento.
O senhor disse que foi ofuscado com prazer pelo Lula. Isso também vale para o apelido de "Dilmo"?
HADDAD: Não sabia disso (risos). Agradeço a comparação. Ser comparado com a presidente da República é um elogio. Prefiro ser humilde e dizer que sou apenas o Fernando Haddad.
As ligações da ex-prefeita Marta Suplicy com um dos presos pela PF favorecem sua candidatura?
HADDAD: Seria um equívoco muito grande. Nenhuma atitude da senadora, de quando foi ministra ou prefeita, está sendo questionada. Eu liguei para ela para me solidarizar.
Qual a reação de sua família sobre sua decisão de se lançar pré-candidato?
HADDAD: Minha vida sempre foi um zigue-zague, do ponto de vista acadêmico. Minha mãe me disse que não sabia explicar qual era minha profissão. Ela disse "fez direito, economia, trabalhou no banco, depois foi fazer filosofia..." Sabe aquela coisa do "louco a perguntar o que a vida vai fazer de mim?"(verso da canção "João e Maria" de Chico Buarque). Sou professor. É o que eu digo no check-in dos hotéis (risos).
Qual foi a reação da Dilma à sua pré-candidatura?
HADDAD: Tanto o Lula quanto a Dilma têm um jeito peculiar de abordar esses temas, um pouco cifrado. O presidente Lula me chamou e disse: "Fernando, oito anos de MEC, vamos pensar para frente?" Respondi: "o que o senhor está sugerindo, presidente?" E ele: "Sabe, São Paulo. Vamos conversar com os companheiros, ver o que pensam." Foi março ou abril. Não tinha passado na minha cabeça. Tinha acabado de ser confirmado ministro. Uma conversa tinha chegado a acontecer, lá atrás, quando surgiu o nome do Ciro Gomes (PSB) para o governo de SP. Depois, o partido, com minha defesa, decidiu que o Mercadante era melhor. Com a Dilma, o primeiro comentário foi que para o governo não é bom, mas que poderia ser para São Paulo. Estou vendo um processo que está me interessando. Sou movido pelo que sinto. Estou pensando o que gostaria de fazer na cidade.
Vê chance de aliança com Gabriel Chalita (PMDB)?
HADDAD: Eu me dou muito bem com o Chalita. Ele sempre teve postura construtiva com relação ao MEC. Almoçamos há um tempo e ele me disse que seria candidato. Acredito que manterá. São Paulo é grande demais, as conversas têm que ser mantidas com os partidos da base da presidente Dilma. Não desejaria uma chapa puro-sangue do PT. Com critério, temos que estabelecer alianças.
Extraído do blog Terror do Nordeste
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