Do portal Vermelho
O jornal O Globo, órgão central das poderosas e multimidiáticas Organizações Globo, perdeu as estribeiras com os projetos do governo Lula para o pré-sal. Além do editorial Delírio estatista, a edição desta terça-feira (1º) traz a manchete Regras estatizantes para pré-sal assustam mercado e, na capa do caderno de economia, De volta para o passado.
Por Bernardo Joffily
O diário da família Marinho ostenta em todos os títulos sua indignação com o "nacionalismo" e o "estatismo" das propostas presidenciais. Mas o editorial é qualquer coisa.
"Visão estreita" de quem?
"Esse novo arcabouço regulatório que o governo Lula pretende estabelecer se distancia do que seria racional, e se aproxima de um delírio, algo somente explicável pela visão ideológica estreita que formuladores de política pública sempre nutriram dentro da atual administração", investe o editorialista.
"O preocupante [...] é a motivação dessa mudança, a visão estreita de que a abertura do mercado é prejudicial ao Brasil. [...] O governo [...] adota o sistema de partilha de produção, situando o Brasil ao lado de países com regimes políticos autoritários ou pouco democráticos, com estruturas tributárias muitas vezes frágeis e vulneráveis à corrupção", conclui.
O jornal carioca puxa a brasa para a sardinha do Rio de Janeiro – que hoje abocanha 67% dos royaltes pagos pela Petrobras: comemora que "o presidente Lula, pelo menos, acabou recuando na idéia de concentrar excessivamente nas mãos da União recursos que poderão resultar da exploração de novas áreas do pré-sal, ficando a decisão final com o Congresso". Mas isso é um detalhe. O eixo do editorial é o privatismo delirante.
Petrobras, enfraquecida ou forte demais?
O "gancho" que sustenta o editorial, e a manchete, é que as ações da Petrobras caíram 4,4% nas bolsas de São Paulo e Nova York. O recuo expressou o temor de investidores privados com o anúncio de que a empresa será capitalizada em US$ 50 bilhões, o que diluiria o valor de cada ação. No dia seguinte os papéis da estatal brasileira voltaram a subir, pois o pacote de Lula evidentemente fortalece a Petrobras.
Aliás, o próprio editorial o reconhece, ao reclamar do "modelo de partilha da produção, que terá apenas uma companhia operadora, a Petrobras, cuja participação compulsória nos consórcios que poderão se formar será de no mínimo 30%".
O Globo não se incomoda com a incoerência de um texto que acusa Lula enfraquecer e fortalecer em excesso a estatal. A única lógica que lhe interessa é a do privatismo. Sua queixa é que "o Estado brasileiro voltou com tudo ao setor petrolífero" e "os braços estatais surgem via fortalecimento da Petrobras, criação da estatal Petro-Sal, e o novo formato para a exploração no país", como diz o artigo sobre o marco regulatório, também pesadamente editorializado.
O Globo não aprendeu com Alckmin
Difícil será o jornal da família Marinho ganhar a opinião pública com tão pobres argumentos. O debate que se iniciou nesta semana, no Congresso Nacional e na cidadania, recoloca de fato com ênfase a realação eontre o público e o privado na economia brasileira. Mas é de se prever que o presidente Lula, com sua proposta de encarar o pré-sal como "patrimônio da União, riqueza do Brasil e passaporte para o nosso futuro", irá ganhar mais uns pontinhos em sua já estratosférica popularidade. E que o privatismo delirante de gente como o editorialista do Globo fique ainda mais isolado em suas trincheiras midiático-oposicionistas.
Na eleição presidencial de 2006, o candidato do Globo, Geraldo Alckmin (PSDB), já pagou um alto preço por sua imagem de privateiro. Todos recordam a desesperada manobra de Alckmin ao aparecer na reta final da campanha exibindo um blusão com as siglas de uma dúzia de estatais, aflito para se livrar da pecha que lhe custou não poucos votos.
Porém depois disso veio ainda a crise mundial capitalista, que tomou conta do planeta a partir de Wall Street, santuário número um da "livre iniciativa". O Globo parece quanto não ter se dado conta do quanto ela é também uma crise da ideologia do pensamento único privateiro – ou, para usar as palavras de Lula, de que "os países e os povos descobriram que, sem regulação e fiscalização do Estado, o deus-mercado é capaz de afundar o mundo num abrir e fechar de olhos".
"Que venga el toro"...
Por fim, a conexão do novo marco regulatório com as eleições de 2010. No Globo, ele ficou confinado à coluna Panorama Econômico, a cargo da interina Regina Alvarez, para quem "o discurso presidencial, com forte viés nacionalista, deixou claro que o governo tem pressa porque a sucessão presidencial ocupa corações e mentes".
É claro, Regina Alvarez, que existe uma conexão pré-sal-2010. Mas deste ponto de vista o governo Lula com certeza não tem o menor motivo para tratar do assunto "a toque de caixa". Longe disso. O pedido de urgência na tramitação dos projetos tem outros motivos. Mas ninguém viu o Planalto roer as unhas de impaciência durante os longos 22 meses em que o marco regulatório foi examinado por uma comissão interministerial.
Quanto mais se discutir o pré-sal, daqui para outubro de 2010, mais feliz da vida ficará o presidente, assim como sua candidata confessa, Dilma Rousseff, que até derramou uma lágrima comovida durante a cerimônia desta segunda-feira. O discurso de Lula, com todas as suas afirmações provocativas, políticas e até ideológicas, deixou isso claro. Ele deve estar pensando, como os espanhóis: "Que venga el toro". Para Lula, em 2010, nada viria mais a calhar que um touro privatista – quem sabe aquele que serve de símbolo a Wall Street –, enfurecido pelas bandeirolas da crise global, arremetendo furioso contra a Petrobras. Alckmin que o diga.
O jornal O Globo, órgão central das poderosas e multimidiáticas Organizações Globo, perdeu as estribeiras com os projetos do governo Lula para o pré-sal. Além do editorial Delírio estatista, a edição desta terça-feira (1º) traz a manchete Regras estatizantes para pré-sal assustam mercado e, na capa do caderno de economia, De volta para o passado.
Por Bernardo Joffily
O diário da família Marinho ostenta em todos os títulos sua indignação com o "nacionalismo" e o "estatismo" das propostas presidenciais. Mas o editorial é qualquer coisa.
"Visão estreita" de quem?
"Esse novo arcabouço regulatório que o governo Lula pretende estabelecer se distancia do que seria racional, e se aproxima de um delírio, algo somente explicável pela visão ideológica estreita que formuladores de política pública sempre nutriram dentro da atual administração", investe o editorialista.
"O preocupante [...] é a motivação dessa mudança, a visão estreita de que a abertura do mercado é prejudicial ao Brasil. [...] O governo [...] adota o sistema de partilha de produção, situando o Brasil ao lado de países com regimes políticos autoritários ou pouco democráticos, com estruturas tributárias muitas vezes frágeis e vulneráveis à corrupção", conclui.
O jornal carioca puxa a brasa para a sardinha do Rio de Janeiro – que hoje abocanha 67% dos royaltes pagos pela Petrobras: comemora que "o presidente Lula, pelo menos, acabou recuando na idéia de concentrar excessivamente nas mãos da União recursos que poderão resultar da exploração de novas áreas do pré-sal, ficando a decisão final com o Congresso". Mas isso é um detalhe. O eixo do editorial é o privatismo delirante.
Petrobras, enfraquecida ou forte demais?
O "gancho" que sustenta o editorial, e a manchete, é que as ações da Petrobras caíram 4,4% nas bolsas de São Paulo e Nova York. O recuo expressou o temor de investidores privados com o anúncio de que a empresa será capitalizada em US$ 50 bilhões, o que diluiria o valor de cada ação. No dia seguinte os papéis da estatal brasileira voltaram a subir, pois o pacote de Lula evidentemente fortalece a Petrobras.
Aliás, o próprio editorial o reconhece, ao reclamar do "modelo de partilha da produção, que terá apenas uma companhia operadora, a Petrobras, cuja participação compulsória nos consórcios que poderão se formar será de no mínimo 30%".
O Globo não se incomoda com a incoerência de um texto que acusa Lula enfraquecer e fortalecer em excesso a estatal. A única lógica que lhe interessa é a do privatismo. Sua queixa é que "o Estado brasileiro voltou com tudo ao setor petrolífero" e "os braços estatais surgem via fortalecimento da Petrobras, criação da estatal Petro-Sal, e o novo formato para a exploração no país", como diz o artigo sobre o marco regulatório, também pesadamente editorializado.
O Globo não aprendeu com Alckmin
Difícil será o jornal da família Marinho ganhar a opinião pública com tão pobres argumentos. O debate que se iniciou nesta semana, no Congresso Nacional e na cidadania, recoloca de fato com ênfase a realação eontre o público e o privado na economia brasileira. Mas é de se prever que o presidente Lula, com sua proposta de encarar o pré-sal como "patrimônio da União, riqueza do Brasil e passaporte para o nosso futuro", irá ganhar mais uns pontinhos em sua já estratosférica popularidade. E que o privatismo delirante de gente como o editorialista do Globo fique ainda mais isolado em suas trincheiras midiático-oposicionistas.
Na eleição presidencial de 2006, o candidato do Globo, Geraldo Alckmin (PSDB), já pagou um alto preço por sua imagem de privateiro. Todos recordam a desesperada manobra de Alckmin ao aparecer na reta final da campanha exibindo um blusão com as siglas de uma dúzia de estatais, aflito para se livrar da pecha que lhe custou não poucos votos.
Porém depois disso veio ainda a crise mundial capitalista, que tomou conta do planeta a partir de Wall Street, santuário número um da "livre iniciativa". O Globo parece quanto não ter se dado conta do quanto ela é também uma crise da ideologia do pensamento único privateiro – ou, para usar as palavras de Lula, de que "os países e os povos descobriram que, sem regulação e fiscalização do Estado, o deus-mercado é capaz de afundar o mundo num abrir e fechar de olhos".
"Que venga el toro"...
Por fim, a conexão do novo marco regulatório com as eleições de 2010. No Globo, ele ficou confinado à coluna Panorama Econômico, a cargo da interina Regina Alvarez, para quem "o discurso presidencial, com forte viés nacionalista, deixou claro que o governo tem pressa porque a sucessão presidencial ocupa corações e mentes".
É claro, Regina Alvarez, que existe uma conexão pré-sal-2010. Mas deste ponto de vista o governo Lula com certeza não tem o menor motivo para tratar do assunto "a toque de caixa". Longe disso. O pedido de urgência na tramitação dos projetos tem outros motivos. Mas ninguém viu o Planalto roer as unhas de impaciência durante os longos 22 meses em que o marco regulatório foi examinado por uma comissão interministerial.
Quanto mais se discutir o pré-sal, daqui para outubro de 2010, mais feliz da vida ficará o presidente, assim como sua candidata confessa, Dilma Rousseff, que até derramou uma lágrima comovida durante a cerimônia desta segunda-feira. O discurso de Lula, com todas as suas afirmações provocativas, políticas e até ideológicas, deixou isso claro. Ele deve estar pensando, como os espanhóis: "Que venga el toro". Para Lula, em 2010, nada viria mais a calhar que um touro privatista – quem sabe aquele que serve de símbolo a Wall Street –, enfurecido pelas bandeirolas da crise global, arremetendo furioso contra a Petrobras. Alckmin que o diga.
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