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terça-feira, 17 de junho de 2025

🌵 Vencer batalhas não é o mesmo que vencer a guerra.

 🌵Olhos do Sertão

Vencer batalhas não é o mesmo que vencer a guerra.

Trago uma analogia histórica poderosa e precisa.

As Guerras Púnicas, especialmente a trajetória de Aníbal Barca, que oferecem um paralelo dramático e didático com o mundo contemporâneo. Aníbal venceu batalhas memoráveis — Trébia, Lago Trasimeno, e especialmente Canas (216 a.C.), onde dizimou legiões romanas. No entanto:

Roma sobreviveu, adaptou-se, mobilizou suas forças internas, e finalmente aniquilou Cartago, não apenas militarmente, mas civilizacionalmente, salgaram a terra, apagaram a cultura, exterminaram a soberania cartaginesa.

E hoje: Rússia, China, Irã — sabem o que está em jogo?


Rússia

Sim, sabe, e talvez mais do que os outros.

Desde 2007 (Discurso de Munique, Putin alertou: "a era do mundo unipolar acabou").

A anexação da Crimeia (2014) e a invasão da Ucrânia (2022) são atos de desespero estratégico e resistência existencial.

A elite russa sabe que, se a Rússia cair, não será só uma derrota: será uma desintegração nacional, como ocorreu com Cartago ou a URSS.

A Rússia

Lê a história como tragédia e sobrevive com base em memória imperial.

"Sem a Rússia, o mundo não tem sentido", é uma frase corrente entre setores nacionalistas. O que apagaremos vocês, antes de perder, demarcado com o Ocidente o poderio militar com suas ogivas nucleares capaz de varrer a Europa em questão de poucos minuto.

China

Sabe mas joga no longo prazo.

A China entende que está sendo cercada estrategicamente, mas evita confrontos diretos.

A doutrina de Deng Xiaoping era: "esconda sua força, ganhe tempo." Xi Jinping parece ter acelerado essa exposição, e isso assusta o Ocidente.

Taiwan é o Canas de hoje: onde se decide se a China pode se expandir ou será contida.

A China estuda Sun Tzu, mas também Roma e Cartago.

Ela sabe que tecnologia, infraestrutura e influência cultural são armas mais eficazes do que legiões.

Irã

Sabe, há mais de 40 anos.

Desde 1979, vive sob o cerco sistemático: sanções, sabotagens, guerras por procuração.

Desenvolveu uma guerra assimétrica de sobrevivência, baseada em:

ü  Militância ideológica

ü  Redes regionais (Hezbollah, Houthis, milícias iraquianas)

ü  Resiliência populacional e espiritual.

|O Irã

O Irã sabe que não pode vencer os EUA num campo de batalha tradicional, mas tenta garantir que sua destruição custe caro demais.

O Irã, diferente de Cartago, tem uma identidade milenar que resistiu a impérios inteiros — do Macedônico ao Mongol.

O que a história de Aníbal ensina?

1.     Bravura tática não basta.É preciso visão estratégica e capacidade de alterar o campo de batalha político e moral.

2.     Roma venceu não por superioridade moral, mas por capacidade de mobilizar recursos, propaganda e alianças.

3.     Hoje, os EUA e o Ocidente repetem esse modelo, não vencem apenas por armas, mas por narrativas, sanções, finanças e redes globais.

4.     Cartago hesitou no momento decisivo. Aníbal esperou reforços que não vieram. A Rússia e China têm que decidir até onde resistem,  e quando contra-atacar ou negociar.

Sim, Rússia, China e Irã sabem que estão ameaçados. E mais: sabem que esta pode ser sua última chance de manter sua soberania plena.

Mas saber não garante vitória.

A pergunta crucial agora não é apenas se eles sabem, mas:

Eles estão preparados para fazer o que Roma fez,ou para evitar o destino de Cartago?

Vamos apresentar um quadro-síntese para destacar os pontos centrais deste texto.

 Quadro Comparativo: Cartago × Roma → Eixo de Resistência × Bloco Ocidental

Dimensão

🐘 Cartago

🦅 Roma

🕌 Eixo de Resistência

🛰️Bloco Ocidental

1. Recursos

Comércio, frotas, elefantes; riqueza mercantil

População massiva, agricultura e poder militar disciplinado

Diversidade ideológica, demografia jovem, energia e posição geoestratégica

Capital financeiro, big techs, controle da informação, OTAN e FMI

2. Estratégia

Bravura tática, campanhas brilhantes (Aníbal)

Estratégia de desgaste, superioridade logística e política

Defesa assimétrica, guerra indireta, múltiplos teatros (Síria, Iêmen, Líbano, Donbass)

Cerco global (sanções, bases militares, lawfare, OTAN, mídia)

3. Táticas

Invasões relâmpago, alianças instáveis, dificuldade de suprimento

Consolidação de alianças, adaptação, resposta unificada

Ataques por milícias, drones, guerra cibernética, resistência cultural

Bombardeios de precisão, golpes híbridos, manipulação de narrativa

4. Objetivo final

Sobrevivência e hegemonia comercial no Mediterrâneo

Destruição completa de Cartago e domínio imperial

Manutenção da soberania, sobrevivência frente ao cerco

Impor nova ordem mundial unipolar baseada em regras ocidentais

 

Então, vamos pensar sobre uma das feridas das feridas abertas da geopolítica do Oriente Médio atual: como um país com o tamanho, história e aparato do Irã parece ser surpreendido e humilhado — por ataques pontuais como os de Israel?

Vamos traçar uma analogia com o Império Persa derrotado por Alexandre, um exército menor porém disciplinado e estrategicamente brilhante, é historicamente riquíssima — e tristemente atual.

Vamos por partes:

Como o Império Persa caiu para Alexandre?

O Império Persa (Aquemenida) era:

·        Um dos maiores da história antiga, territorialmente e em diversidade.

·        Um colosso burocrático, com riqueza, cavalaria pesada, infantaria de massa.

Mas centralizado, lento, excessivamente confiante.

Enquanto isso, Alexandre:

1.     Era jovem, ousado e implacável.

2.     Tinha um exército menor, mas:

ü  Altamente disciplinado

ü   Rapidamente móvel

ü  Com comando unificado

Sabia explorar falhas de comando, topografia, e a psicologia do inimigo.

Resultado?

Dario III hesitou, cometeu erros táticos (Issos, Gaugamela), e foi abandonado por seus generais.
O colosso caiu por falta de inteligência, agilidade e leitura política.

O Irã hoje é um novo Dario III?

Em parte, sim:

É um país grande, com capacidade militar expressiva

Tem influência regional real (Iraque, Síria, Líbano, Iêmen).

Mas enfrenta um inimigo altamente técnico, inteligente, impiedoso: Israel.

O que Israel fez?

Em abril de 2024, atingiu alvos em solo iraniano com drones e mísseis, supostamente sem sofrer retaliações diretas imediatas.

Já matou generais iranianos na Síria, atacou cientistas nucleares em Teerã, desmantelou instalações subterrâneas, tudo com uso de inteligência, sabotagem e guerra cibernética.

Como isso é possível?

O Irã subestimou o adversário

Tal como Dario diante de Alexandre.

srael age com liberdade, porque confia na sua superioridade tecnológica e no apoio incondicional dos EUA.

 O Irã é disperso em múltiplos teatros

Está militarmente espalhado:

ü   Síria

ü   Iraque

ü   Líbano

ü  Iêmen

Isso o enfraquece estrategicamente dentro de casa.

O Irã aposta na guerra de longo prazo

Tal como o Império Persa resistiu por gerações, o Irã não quer uma guerra total — mas também não se curva.

Prefere respostas assimétricas, indiretas, por meio de aliados (Hezbollah, Houthis).

O Irã teme perder legitimidade interna

Uma guerra total contra Israel traria retaliação nuclear indireta (EUA), revoltas internas, e isolamento internacional.

Como Dario, o Irã hesita — esperando ganhar no tempo, mas perdendo iniciativa.

O problema central: ausência de “inteligência estratégica unificada”

O Irã:

Tem serviços secretos eficazes, mas inferiores aos de Israel em alcance cibernético e capacidade de ação externa.

Tem estratégia, mas é reativa, baseada em contenção e dissuasão indireta.

Evita uma guerra total porque sabe que perderia — e possivelmente deixaria de existir como Estado.

Conclusão

O Irã é um colosso estratégico que, como o Império Persa, pode cair não por fraqueza, mas por rigidez, dispersão e hesitação diante de um inimigo menor, mas brilhantemente letal.

Israel é o Alexandre moderno nesse tabuleiro, rápido, preciso e impiedoso.
O Irã sabe que qualquer passo em falso pode levar ao seu Gaugamela.

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