🌵Olhos do Sertão
Vencer batalhas não é o
mesmo que vencer a guerra.
Trago uma analogia histórica poderosa e precisa.
As Guerras Púnicas, especialmente a trajetória de Aníbal
Barca, que oferecem um paralelo dramático e didático com o mundo contemporâneo.
Aníbal venceu batalhas memoráveis — Trébia, Lago Trasimeno, e
especialmente Canas (216 a.C.), onde dizimou legiões romanas. No entanto:
Roma sobreviveu, adaptou-se, mobilizou suas forças internas,
e finalmente aniquilou Cartago, não apenas militarmente, mas
civilizacionalmente, salgaram a terra, apagaram a cultura, exterminaram a
soberania cartaginesa.
E hoje: Rússia, China, Irã — sabem o que está em jogo?
Rússia
Sim, sabe, e talvez mais do que os outros.
Desde 2007 (Discurso de Munique, Putin alertou: "a era
do mundo unipolar acabou").
A anexação da Crimeia (2014) e a invasão da Ucrânia (2022)
são atos de desespero estratégico e resistência existencial.
A elite russa sabe que, se a Rússia cair, não será só
uma derrota: será uma desintegração nacional, como ocorreu com Cartago ou a
URSS.
A Rússia
Lê a história como tragédia e sobrevive com base em memória
imperial.
"Sem a Rússia, o mundo não tem sentido", é uma
frase corrente entre setores nacionalistas. O que apagaremos vocês, antes de
perder, demarcado com o Ocidente o poderio militar com suas ogivas nucleares
capaz de varrer a Europa em questão de poucos minuto.
China
Sabe mas joga no longo prazo.
A China entende que está sendo cercada estrategicamente,
mas evita confrontos diretos.
A doutrina de Deng Xiaoping era: "esconda sua
força, ganhe tempo." Xi Jinping parece ter acelerado essa
exposição, e isso assusta o Ocidente.
Taiwan é o Canas de hoje: onde se decide se a China pode
se expandir ou será contida.
A China estuda Sun Tzu, mas também Roma e Cartago.
Ela sabe que tecnologia, infraestrutura e influência
cultural são armas mais eficazes do que legiões.
Irã
Sabe, há mais de 40 anos.
Desde 1979, vive sob o cerco sistemático: sanções,
sabotagens, guerras por procuração.
Desenvolveu uma guerra assimétrica de sobrevivência,
baseada em:
ü Militância ideológica
ü Redes regionais (Hezbollah, Houthis,
milícias iraquianas)
ü Resiliência populacional e espiritual.
|O Irã
O Irã sabe que não pode vencer os EUA num campo de
batalha tradicional, mas tenta garantir que sua destruição custe caro demais.
O Irã, diferente de Cartago, tem uma identidade milenar
que resistiu a impérios inteiros — do Macedônico ao Mongol.
O que a história de
Aníbal ensina?
1. Bravura tática não basta.É
preciso visão estratégica e capacidade de alterar o campo de batalha
político e moral.
2. Roma venceu não por
superioridade moral, mas por capacidade de mobilizar recursos, propaganda e
alianças.
3. Hoje, os EUA e o Ocidente
repetem esse modelo, não vencem apenas por armas, mas por narrativas,
sanções, finanças e redes globais.
4. Cartago hesitou no momento
decisivo. Aníbal esperou reforços que não vieram. A Rússia e China têm
que decidir até onde resistem, e quando contra-atacar ou negociar.
Sim, Rússia, China e Irã sabem que estão ameaçados. E mais:
sabem que esta pode ser sua última chance de manter sua soberania plena.
Mas saber não garante vitória.
A pergunta crucial agora não é apenas se eles sabem,
mas:
Eles estão preparados para fazer o que Roma fez,ou para
evitar o destino de Cartago?
Vamos apresentar um quadro-síntese para destacar os pontos
centrais deste texto.
Quadro
Comparativo: Cartago × Roma → Eixo de Resistência × Bloco Ocidental
Dimensão |
🐘 Cartago |
🦅 Roma |
🕌 Eixo de Resistência |
🛰️Bloco Ocidental |
1. Recursos |
Comércio, frotas, elefantes;
riqueza mercantil |
População massiva, agricultura e
poder militar disciplinado |
Diversidade ideológica, demografia
jovem, energia e posição geoestratégica |
Capital financeiro, big techs,
controle da informação, OTAN e FMI |
2. Estratégia |
Bravura tática, campanhas
brilhantes (Aníbal) |
Estratégia de desgaste,
superioridade logística e política |
Defesa assimétrica, guerra
indireta, múltiplos teatros (Síria, Iêmen, Líbano, Donbass) |
Cerco global (sanções, bases
militares, lawfare, OTAN, mídia) |
3. Táticas |
Invasões relâmpago, alianças
instáveis, dificuldade de suprimento |
Consolidação de alianças,
adaptação, resposta unificada |
Ataques por milícias, drones,
guerra cibernética, resistência cultural |
Bombardeios de precisão, golpes
híbridos, manipulação de narrativa |
4. Objetivo final |
Sobrevivência e hegemonia comercial
no Mediterrâneo |
Destruição completa de Cartago e
domínio imperial |
Manutenção da soberania,
sobrevivência frente ao cerco |
Impor nova ordem mundial unipolar
baseada em regras ocidentais |
Então, vamos pensar sobre uma das feridas das feridas abertas
da geopolítica do Oriente Médio atual: como um país com o tamanho,
história e aparato do Irã parece ser surpreendido e humilhado — por ataques
pontuais como os de Israel?
Vamos traçar uma analogia com o Império Persa derrotado
por Alexandre, um exército menor porém disciplinado e estrategicamente
brilhante, é historicamente riquíssima — e tristemente atual.
Vamos por partes:
Como o Império Persa caiu para Alexandre?
O Império Persa (Aquemenida) era:
· Um dos
maiores da história antiga, territorialmente e em diversidade.
· Um colosso
burocrático, com riqueza, cavalaria pesada, infantaria de massa.
Mas centralizado, lento, excessivamente confiante.
Enquanto isso, Alexandre:
1.
Era
jovem, ousado e implacável.
2.
Tinha
um exército menor, mas:
ü Altamente disciplinado
ü Rapidamente móvel
ü Com comando unificado
Sabia explorar falhas de comando, topografia, e a psicologia
do inimigo.
Resultado?
Dario III hesitou, cometeu erros táticos (Issos, Gaugamela),
e foi abandonado por seus generais.
O colosso caiu por falta de inteligência, agilidade e leitura política.
O Irã hoje é um novo Dario III?
Em parte, sim:
É um país grande, com capacidade militar expressiva
Tem influência regional real (Iraque, Síria, Líbano, Iêmen).
Mas enfrenta um inimigo altamente técnico, inteligente,
impiedoso: Israel.
O que Israel fez?
Em abril de 2024, atingiu alvos em solo iraniano com
drones e mísseis, supostamente sem sofrer retaliações diretas imediatas.
Já matou generais iranianos na Síria, atacou cientistas
nucleares em Teerã, desmantelou instalações subterrâneas, tudo com uso
de inteligência, sabotagem e guerra cibernética.
Como isso é possível?
O Irã subestimou o adversário
Tal como Dario diante de Alexandre.
srael age com liberdade, porque confia na sua
superioridade tecnológica e no apoio incondicional dos EUA.
O Irã é disperso
em múltiplos teatros
Está militarmente espalhado:
ü Síria
ü Iraque
ü Líbano
ü Iêmen
Isso o enfraquece estrategicamente dentro de casa.
O Irã aposta na guerra de longo prazo
Tal como o Império Persa resistiu por gerações, o Irã não
quer uma guerra total — mas também não se curva.
Prefere respostas assimétricas, indiretas, por meio de
aliados (Hezbollah, Houthis).
O Irã teme perder legitimidade interna
Uma guerra total contra Israel traria retaliação nuclear
indireta (EUA), revoltas internas, e isolamento internacional.
Como Dario, o Irã hesita — esperando ganhar no tempo,
mas perdendo iniciativa.
O problema central: ausência de “inteligência estratégica
unificada”
O Irã:
Tem serviços secretos eficazes, mas inferiores aos de
Israel em alcance cibernético e capacidade de ação externa.
Tem estratégia, mas é reativa, baseada em contenção e
dissuasão indireta.
Evita uma guerra total porque sabe que perderia — e
possivelmente deixaria de existir como Estado.
Conclusão
O Irã é um colosso estratégico que, como o Império
Persa, pode cair não por fraqueza, mas por rigidez, dispersão e hesitação
diante de um inimigo menor, mas brilhantemente letal.
Israel é o
Alexandre moderno nesse tabuleiro, rápido, preciso e impiedoso.
O Irã sabe que qualquer passo em falso pode levar ao seu Gaugamela.
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