A ameaça de "perder o Irã" é vista como uma ameaça existencial para a Rússia por razões profundamente geopolíticas, estratégicas e econômicas. A entrevista com Stanislav Krapivnik, ex-oficial do Exército dos EUA, aprofunda essas razões no contexto da crescente tensão no Oriente Médio, especialmente após o ataque de Israel ao Irã e a iminente possibilidade de uma ofensiva dos EUA. A seguir, trago os principais pontos e reflexões que ajudam a entender essa complexa equação:
Irã como aliado estratégico da Rússia na Ásia Ocidental
- O Irã é o principal parceiro regional da Rússia no Oriente Médio, principalmente desde a guerra na Síria, onde ambos apoiaram o regime de Bashar al-Assad contra grupos apoiados pelo Ocidente.
- Ele atua como contrapeso à influência norte-americana e israelense na região.
- Juntos, Rússia e Irã compartilham interesses geoestratégicos como:
O corredor Norte-Sul: chave para a soberania russa
- O Irã é peça central no projeto do Corredor Internacional de Transporte Norte-Sul (INSTC), que conecta a Rússia ao Oceano Índico via Irã.
- Esse corredor é vital para o comércio russo, especialmente após as sanções impostas pelo Ocidente com a guerra na Ucrânia.
- Se o Irã for desestabilizado ou destruído militarmente, essa rota comercial alternativa à Europa é eliminada, deixando a Rússia ainda mais isolada economicamente.
A ameaça de cercamento militar
- Um Irã derrotado ou ocupado pelos EUA e Israel abriria espaço para:
- Bases militares ocidentais muito mais próximas da Rússia;
- Mísseis de longo alcance apontados diretamente para o Cáucaso e a Ásia Central, onde a Rússia mantém forte influência.
- Isso quebraria o "buffer" geoestratégico que o Irã representa no sul da Ásia e aumentaria a vulnerabilidade da Rússia por múltiplos flancos.
Controle energético e competição pelo petróleo
- O Irã possui as segundas maiores reservas comprovadas de gás natural e grandes reservas de petróleo.
- Caso o Ocidente controle esses recursos, a Rússia perderá poder de barganha sobre a Europa e Ásia em matéria energética.
- Em um cenário de guerra, os EUA poderiam garantir o fornecimento alternativo de energia à Europa, reduzindo a dependência do gás russo.
Uma guerra direta não interessa à Rússia — por ora
- Krapivnik sugere que a Rússia não tem interesse em entrar diretamente em uma guerra com Israel ou EUA neste momento.
- Em vez disso, a estratégia russa seria:
- Fortalecer alianças (com China, Índia, Irã, Síria, etc.);
- Apoiar o Irã por meios indiretos: inteligência, tecnologia, diplomacia;
- Utilizar a narrativa da guerra como forma de aumentar sua influência no Sul Global e deslegitimar os EUA.
A nova geopolítica da Eurásia em formação
- Um conflito em larga escala contra o Irã pode precipitar o colapso da ordem global ocidental, segundo alguns analistas.
- A Rússia e a China tentam construir uma nova ordem multipolar, com o Irã como parceiro-chave nesse projeto (inclusive nos BRICS+).
- Portanto, perder o Irã significaria perder uma das colunas do novo eixo antiglobalista/multipolar que Moscou vem tentando construir desde 2014.
✅ Conclusão
Perder o Irã, para a Rússia, não é apenas perder um aliado, mas perder uma peça-chave em seu projeto de segurança, soberania e sobrevivência geopolítica. Por isso, qualquer ataque em larga escala ao Irã pode empurrar Moscou para uma posição ainda mais agressiva — ou para alianças mais profundas com China, Coreia do Norte e outros países que desafiam a hegemonia dos EUA.
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