Hoje me deparei com uma discussão interessante no vídeo da TV 247 com Leo Sobreira, José Reinaldo e Joaquim de Carvalho. Nesse sentido é importante é tecer alguns questionamentos e reflexões – A aposta de luta de classes é uma estratégia viável diante de deserto de ideias e conhecimentos em que se encontra imerso neste lodo de ignorância e fake News? Farei outros questionamentos alinhados com a questão norteadora.
Essa é uma pergunta rica, complexa e profundamente enraizada na conjuntura política, econômica e simbólica do Brasil atual. Vamos analisar por partes, tentando costurar estas provocações em torno de 2026 e da possibilidade de um novo triunfo eleitoral de Lula.
A aposta na luta de classes: uma estratégia viável?
Sim, é uma estratégia arriscada, porém coerente com a história política de Lula e do PT. Em um país de desigualdades históricas e estruturais, com mais de 50% da população vivendo com até dois salários mínimos, falar das contradições entre capital e trabalho não é apenas retórica, é realidade vivida.
Contudo, o risco está em como essa mensagem é recebida num país marcado por valores conservadores, onde muitos dos pobres se identificam simbolicamente com os ricos e aspiram à ascensão individual, e não à transformação estrutural.
O povo brasileiro sabe de que lado está?
Essa é a pergunta crucial.
A resposta é ambígua. O povo brasileiro sabe da dor que sente, mas nem sempre identifica com clareza a causa da dor ou o agente que a produz. Isso se deve a fatores como:
- A baixa qualidade da educação política de base;
- A força das mídias conservadoras;
- O papel dos pastores e influenciadores digitais na formação de imaginários;
- O discurso do empreendedorismo individual como redenção, propagado por plataformas como YouTube e TikTok.
A consciência de classe existe em embrião, mas a disputa narrativa sobre o que é "justiça social" ainda é intensa.
Indicadores econômicos: suficientes?
A economia está mostrando alguns sinais positivos, como inflação controlada, programas sociais retomados e crescimento do emprego formal. No entanto:
- O crescimento é lento e não distribuído igualmente.
- A classe média continua apertada e muitas vezes desiludida.
- A juventude tem dificuldade de projetar um futuro com dignidade, o que pode gerar desencanto com qualquer governo.
Portanto, indicadores por si só não ganham eleição. Eles precisam ser traduzidos em narrativas, e aí entra o papel de Lula como comunicador.
Políticas públicas e programas sociais: são importantes?
Essenciais. Eles representam a prática concreta do discurso da igualdade. Programas como:
- Bolsa Família: enfrentamento direto à fome e miséria.
- Farmácia Popular: economia real no cotidiano das famílias.
- Pé de Meia: estímulo à permanência dos jovens pobres na escola.
Essas ações têm forte apelo popular, especialmente nas periferias urbanas e no Nordeste, e podem fazer diferença crucial no resultado eleitoral — desde que bem comunicadas.
O Nordeste continuará decisivo?
Sim.
O Nordeste representa:
- Um terço do eleitorado brasileiro;
- Uma região historicamente beneficiada pelas políticas sociais de Lula;
- Um território com forte identificação afetiva com o lulismo.
Além disso, é onde a agenda de combate às desigualdades tem mais ressonância. No entanto, o bolsonarismo também cresceu na região, sobretudo com apoio evangélico. A disputa será acirrada.
Lula ainda tem o "frescor" para conscientizar o povo?
Lula é um grande orador, mas o tempo passou. Hoje:
- Ele precisa disputar atenção com vídeos curtos, memes e algoritmos.
- A juventude o respeita, mas não o venera como nas gerações anteriores.
- Há uma fadiga simbólica em parte da população, sobretudo no Sul/Sudeste.
Por isso, é necessário renovar a linguagem, aproximar-se das redes com inteligência narrativa e envolver novas lideranças populares e digitais.
E como enfrentar os colonialismos modernos: algoritmos e big techs?
Este talvez seja o desafio mais difícil e invisível.
- Plataformas como TikTok, Instagram e YouTube filtram e moldam a percepção política, muitas vezes amplificando fake news, teorias da conspiração e discursos antipolítica.
- Os algoritmos privilegiam emoções rápidas, não argumentos profundos — e isso afeta a pedagogia política.
- As big techs funcionam como novos colonizadores, com sede nos EUA e interesses geopolíticos próprios.
Para vencer em 2026, será necessário:
- Investir em comunicação popular digital com criatividade e presença constante;
- Formar multiplicadores de conteúdo nos territórios;
- Fazer alianças com influenciadores progressistas;
- Lançar uma ofensiva de alfabetização digital crítica.
Conclusão: O que é necessário para Lula vencer em 2026?
- Repolitizar a dor social, transformando sofrimento em projeto coletivo;
- Reencantar o povo, especialmente a juventude, com um projeto de soberania e esperança;
- Reocupar as redes e disputar os algoritmos;
- Mobilizar a base popular com afeto, escuta e presença;
- Atualizar a linguagem sem perder o conteúdo histórico.
Lula ainda tem o capital político, mas não poderá vencer sozinho. Precisará de um movimento renovado, de baixo para cima, com capacidade de traduzir a luta de classes para os códigos do século XXI.
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