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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Pais planeja laboratório oceanográfico em alto-mar

Objetivo do governo e garantir domínio territorial de região cobiçada por grande potencial de reservas minerais

Mapa_plataforma
Roberto Maltchik e Eliane Oliveira -  O GLOBO

BRASÍLIA. O Brasil tem uma ambiciosa proposta de fincar um laboratório oceanográfico na mais remota fronteira marítima do pais e, com isso, garantir o domínio territorial sobre uma área em que as riquezas naturais escondidas vão alem do petróleo na camada do pre-sal. No limite da plataforma continental, a 350 milhas náuticas (648 quilômetros) da costa, o potencial de reservas minerais e imensurável, segundo uma fonte militar revelou ao GLOBO.
Com a implantação de um centro de pesquisas em alto-mar e o investimento em satélites, embarcações de patrulhamento e submarinos, a estrategia que vem sendo esboçada reservadamente pelo governo Dilma Rousseff e no sentido de afastar investidas de estrangeiros, como americanos, russos, alemães e japoneses, nos cobiçados mares do Atlântico Sul.
O instrumento de pesquisa, cujo projeto envolve os ministérios da Defesa, da Ciência e Tecnologia, do Meio Ambiente e investidores privados brasileiros, passara a ser usado para marcar a presença do Brasil dentro e fora das 200 milhas (370 quilômetros) hoje delimitadas. E o mesmo espirito que move a ocupação de pesquisadores do minusculo arquipélago de São Pedro e São Paulo, a 1.010 quilômetros de Natal (RN). Os cientistas atualmente se revezam a cada 15 dias no arquipélago.
A localização e o projeto da plataforma fixa que dará suporte ao laboratório ainda estão em fase de elaboração. A determinação de custos e de prazo para a construção do equipamento e a próxima etapa, e a ideia e formalizar um consorcio com a participação do governo, da Petrobras e de parceiros da industria nacional para custear o projeto.
Alem das pesquisas direcionadas a segurança ambiental, ao desenvolvimento de tecnologia naval e a biotecnologia, já ha entendimento para que o laboratório tenha um observatório submarino, cujas imagens estariam disponíveis ao publico pela internet.
Exploração brasileira tem respaldo das Nações Unidas
No limite de 200 milhas mar a dentro, entra na pauta de prioridades a descoberta de petróleo no pre-sal. Os mais preocupados citam a volta da Quarta Frota dos Estados Unidos, pais atento ao fortalecimento de uma frota militar na região. Um oficial da Marinha lembra a incrível coincidência entre o anuncio do petróleo na camada pre-sal e a decisão dos americanos de deslocar para o Caribe a Quarta Frota – divisão da Marinha americana responsável por operações no Atlântico Sul.
O faturamento potencial das reservas do pre-sal, considerando as atuais estimativas de 40 bilhões de barris, com o preço médio unitário de US$ 100, alcançaria US$ 4 trilhões.
A ideia, segundo revelou ao GLOBO alto funcionário do governo, e ”cravar os pês brasileiros” em um eldorado cuja soberania nacional pode ser questionada no futuro. A autoridade lembra que, nos limites oceánicos, prevalece a ocupação permanente para fins de domínio territorial. – Vamos pegar o limite da área de disputa, antes de outros. Eles vem aqui com a Quarta Frota e nos vamos com o laboratório marítimo, muito mais simpático – afirma.
O Brasil já conquistou, junto as Nações Unidas, respaldo para explorar cientifica e comercialmente uma vasta área oceânica, que alcança 350 milhas náuticas, entre a fronteira com a Guiana Francesa e a divisa com o Uruguai. E disputa outros três trechos estratégicos, um ao sul e outro ao norte das reservas do pre-sal, inclusive na ainda misteriosa costa do extremo sul do pais. O terceiro ponto segue em direção ao Mar do Caribe. A questão e que, quando o pre-sal estiver a pleno vapor, o Brasil estará entre os maiores fornecedores de petróleo do mundo, podendo chegar ao nível do Oriente Médio. Passará também a ser um ator relevante no setor de energia. Assim, exercera influencia sobre as nações produtoras e terá de negociar pesadamente com os grandes consumidores, onde se inserem os americanos. – Estamos trabalhando sobre um cenário de 30, 40 anos. Nossa preocupação, no caso do pre-sal, não é com uma ameaça imediata. Não importa o que aconteça no futuro, temos de estar preparados para a adversidade – esclareceu uma fonte da área militar.
Em outra frente, o Brasil se prepara para disputar novos espaços para entrar firme em mineração no solo oceânico, na área fora do pre-sal e apos as 200 milhas, entre a Africa e a América do Sul. As Nações Unidas trabalham em uma normatização para a exploração dos solos marinhos na faixa entre os dois continentes, hoje ocupada por embarcações da Rússia, do Japão e da Alemanha. – A América do Sul e a Africa podem interferir nas decisões da ONU sobre o Atlântico Sul – diz essa fonte. Uma das preocupações é que, com a autorização dada aos países para explorar minérios, serão montadas estruturas no caminho das rotas marítimas comerciais brasileiras, o que provocara aumento de custo e obrigara navios a desviarem o curso. Mais um item a encarecer o frete. – O Atlântico Sul e a região do oceano menos estudada do planeta e 92% do nosso comercio exterior passam por la. Essa base cientifica e fundamental e vale a pena, não importa o custo – avalia Jorge Ramalho, especialista em relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB).
Plataforma sera patrulhada por submarino nuclear
No ano passado, o ministro da Defesa, Nélson Jobim, iniciou uma ofensiva junto aos países da Costa Oeste da Africa, para que seja deslanchada uma ação conjunta que beneficie os dois continentes na negociação no âmbito da ONU. Jobim ofereceu a Marinha brasileira para ajudar os africanos a mapearem sua plataforma continental e estabelecer seus próprios limites. Para assegurar o controle da plataforma brasileira, serão usados um submarino convencional e um submarino nuclear, que pode ficar meses submerso com uma velocidade maior. Também serão comprados mais navios de patrulha oceânica e construído um sistema de satélite para monitorar a chamada Amazônia Azul.

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