Entrevista coletiva concedida pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, às rádios Ingazeira de Paulistana AM (Paulistana/PI), Tempo FM 101,5 (Juazeiro do Norte/CE), A Voz do Sertão AM (Serra Talhada/PE), Pioneira (Teresina/PI), O Povo/CBN (Fortaleza/CE), Salgueiro FM (Salgueiro/PE) e Petrolina FM (Petrolina/PE)
Petrolina-PE, 17 de agosto de 2010
Jornalista: Bom dia, presidente Lula.
Presidente: Bom dia, Luciano.
Jornalista: Bom, nós fizemos um sorteio antes da chegada do Presidente e, pela ordem, começa a falar com o senhor o Zezinho Vieira. Zezinho, bom dia.
Jornalista: Bom dia, Luciano. Bom dia, presidente Lula. Sou Zezinho Vieira, Rádio Ingazeira, de Paulistana. Viemos aqui com tremenda satisfação e alegria de saber que a Transnordestina corta o nosso terreno de Paulistana e veio trazer grande desenvolvimento àquela região de Paulistana, onde sabemos que é uma cidade que fica distante das capitais do Nordeste... equivalente à distância, de todas elas. Isso mostra que Paulistana, hoje, com o desenvolvimento da Transnordestina, o Cefet, instalado pelo Presidente, e outras obras que vieram beneficiar, nós sabemos que lá na cidade de Paulistana a ferrovia Transnordestina traz para região de Paulistana grande progresso e desenvolvimento. Paulistana tem possibilidade de receber um porto seco, em vista que a região é rica em minério, Presidente? Minério de ferro.
Presidente: Olhe, eu penso, Zezinho... Primeiro, te cumprimentar, cumprimentar os ouvintes da Rádio Ingazeira, de Paulistana, e dizer que tudo é possível no Brasil quando o país entra em uma situação de desenvolvimento, de crescimento econômico, como está entrando o Brasil e, dentro do Brasil, o Nordeste brasileiro. Todo trabalho que nós tivemos foi o trabalho de pensar em fazer com que nos próximos dez, nos próximos 15 anos, o Nordeste e o Norte do país estejam, mais ou menos, iguais à parte mais desenvolvida do país, que é a parte Sul do país.
A gente olhava nas estatísticas do IBGE, a gente olhava no mapa do Brasil, a gente olhava nos números divulgados por tudo que é instituto e a gente percebia que tinha uma distância muito grande entre as regiões do Nordeste e a região Centro-Sul do país. Então, o que a gente resolveu fazer? Sem tirar nada do Centro-Sul, a gente resolveu distribuir um pouco as oportunidades e as possibilidades de desenvolvimento para o Nordeste brasileiro. E, daí, foi pensada a ferrovia Transnordestina, ligando Eliseu Martins, ligando Pecém e ligando Suape, uma ferrovia de quase 1.728 quilômetros, para transportar tudo que é riqueza que tiver – que nós já sabemos que tem -, e aquelas que ainda vamos encontrar. Por exemplo, eu disse [estive] com o Governador do Piauí, o ex-governador Wellington, e ele me disse que tem uma região no Piauí, ali perto de Eliseu Martins que tem muita, muita... muito minério de ferro. Tudo isso vai ser explorado por uma ferrovia que vai ter dois portos extremamente importantes. Eu acho extraordinário que isso esteja acontecendo. Nós estamos formando mais doutores no Nordeste brasileiro – tinha poucos doutores, as pessoas se formavam para [em] São Paulo –, mais mestres, mais pesquisadores, mais escolas técnicas, mais universidades, fazendo com que a gente crie oportunidade.
Então, a minha alegria, ô Zezinho, é quando eu pego uma pesquisa do IBGE e eu constato que a classe D do Nordeste brasileiro consumiu mais do que a classe D da região centro-sul do país. Na medida em que essas pessoas tiveram acesso ao mínimo necessário de dinheiro, essas pessoas foram às compras, e foram essas pessoas que evitaram que o Brasil entrasse numa crise proporcional à crise americana ou à crise europeia. Lá eles perderam 16 milhões de postos de trabalho, e aqui eu vou terminar o meu mandato criando 14 milhões de postos de trabalho, e no Nordeste, muito emprego, muito. acho que o Nordeste nunca viveu um período de ouro como o que está vivendo. Está tudo feito? Não. Está tudo começado. Tem muita coisa para fazer e nós sabemos que temos que fazer muito mais para o Nordeste recuperar o século de atraso a que ele foi submetido durante tanto tempo.
Jornalista: E agora passamos a palavra a João Hilário, da rádio Tempo FM, 101,5, de Juazeiro do Norte. Bom dia, João Hilário.
Jornalista: Bom dia, Luciano. Bom dia, presidente Lula. João Hilário, rádio Tempo, Juazeiro, terra do padre Cícero. Presidente, Juazeiro é uma cidade cabeça da região do Cariri, atual região metropolitana do Cariri cearense. No Cariri... os efeitos do seu governo se fazem sentir lá na região do Cariri: na educação, na saúde, na divisão de renda que é um dos milagres da atual economia brasileira, isso se faz sentir. Quando o senhor faz uma obra estratégica dessas, como a Ferrovia Transnordestina, que vai transportar o que já existe e muito mais ainda o que será produzido, por exemplo, na região do Cariri, cujos estudos para o petróleo estão sendo feitos na Bacia do Araripe já – a partir da Petrobras – agora no mês de julho, quando os estudos para petróleo na Bacia do Araripe começaram; o cobre lá no município de Aurora em cuja cidade o senhor vai assinar uma ordem de serviço daqui a pouco; o setor sucroalcooleiro, que pode ser revitalizado, já foi o maior produtor de cana-de-açúcar do interior do Nordeste, a região do Cariri... Quando o senhor faz uma obra estratégica como essa, a Transnordestina, ela não somente já vai ter... ela já vai conseguir transportar o que está sendo produzido hoje, como ela vai transportar muito mais no futuro. Ela, em si, pela sua grandeza, pela sua importância, ela vai demandar muitas outras necessidades, também do setor público, como é o caso do nosso aeroporto regional do Cariri, que é o que teve o maior crescimento percentual do país nos últimos três anos. Vai para mais de 300 mil passageiros no ano de 2010. O seu governo... a programação do governo insere também as obras periféricas, as obras que são demandadas pela própria importância da Transnordestina, Presidente?
Presidente: Olhe, eu acho que nós temos que olhar, João Hilário, que os investimentos de desenvolvimento no Ceará são muito, mas infinitamente maiores do que a Transnordestina. A Transnordestina é apenas uma veia que está levando uma parte do sangue do corpo do cearense para o coração, mas tem outras coisas extraordinárias que vão acontecer. E como eu estou falando com a Rádio Tempo, de Juazeiro do Norte, eu, obviamente que estou quase conversando diretamente com Padre Cícero aqui, para poder dizer para ele o que é o desenvolvimento que vai acontecer no estado do Ceará.
Possivelmente, na próxima sexta-feira seja concluído e anunciado o acordo definitivo da área para a Petrobras fazer a refinaria de 300 mil barris/dia de petróleo. Não é pouca coisa, não é pouca coisa. Já tem 70% de uma parte do trabalho feito pela Petrobras no terreno; falta 30%, que a gente não fazia porque ainda não tinha sido feito um acordo com os companheiros das comunidades indígenas, e isso foi acertado agora com o Governador. Eu, pessoalmente, conversei com os índios em Brasília e disse para eles que era importante, em vez de tentar proibir, que era importante conversar para ver o que poderia melhorar a vida deles, porque o Ceará não poderia, em hipótese alguma, prescindir de um investimento que ultrapassa US$ 12 bilhões. Uma refinaria que por trás dela vêm milhares de coisas; ao mesmo tempo, a siderúrgica. Tudo isso eu sei que prometeram para o povo do Ceará há anos, há anos, há anos. E além disso, eu acho que o principal problema nosso é o canal do São Francisco, que eu queria convidar vocês, nordestinos, a visitar, pegar a família e andar a pé à beira dele para vocês verem o que vai significar aquilo para o desenvolvimento da região mais pobre do nosso querido Nordeste.
Então, o boom de desenvolvimento que vai acontecer nesses estados é uma coisa extraordinária, é uma coisa extraordinária. A coisa está tão boa, a coisa está tão boa que até no Maranhão... Veja, o presidente Sarney tinha me dado um livro, nessa semana, dizendo porque o Maranhão era pobre, e mostrava que o Maranhão tinha um problema de uma terra que não era da qualidade de outras terras, e mostrando que o Maranhão não tinha minério. Eu acabo de receber o livro, mal tinha lido a dedicatória, o Eike Batista encontra gás. E agora já está o Piauí doidinho, também, achando que tem gás lá. Agora nós vamos fazer o leilão proximamente, que vai da Bahia até o Solimões. Quem quiser fazer buraco e achar gás, vai ter, agora, oportunidade de achar porque nós não vamos parar esse momento de ouro que o Brasil está vivendo. Portanto, a Transnordestina... eu disse ao presidente da Transpetro, Sergio Machado – não foi possível que ele fosse a Fortaleza por causa de problemas –, que tem que achar um lugar no estado do Ceará para a gente fazer um grande estaleiro no Ceará como fizemos em Pernambuco, para que a gente possa ter uma estrutura de desenvolvimento completa. Você tem uma refinaria que pode gerar um polo petroquímico, você tem uma siderúrgica que pode gerar um polo metal-mecânico, você tem uma ferrovia que pode gerar milhares de coisas e você tem investimento na agricultura.
Eu acho que as coisas estão indo bem, e eu penso que nos próximos quatro, cinco... eu diria, mais dez anos, quem vier para o Nordeste não vai conhecer, de tão bonito que vai estar o Nordeste. Certamente que nós sabemos que ainda falta muita coisa para fazer. O que é importante é que nós começamos a fazer certo e estamos colhendo as coisas certas.
Jornalista: E agora, Presidente, passamos a palavra a Francis Maia, da rádio A Voz do Sertão AM. A rádio A Voz do Sertão está em cadeia com a rádio Líder do Vale, de Serra Talhada, e também com a Transertaneja FM, da cidade de Afogados da Ingazeira. Bom dia, Francis Maia.
Jornalista: Bom dia, Luciano. Bom dia, presidente Lula. Eu gostaria de começar dizendo que toda segunda-feira eu tenho o prazer de tomar café com o senhor porque a rádio que eu faço parte transmite o Café com o Presidente, e o senhor não sabe como é prazeroso tomar café regado a tantos investimentos para o Brasil e também para o sertão em que a gente mora.
Presidente, eu fiz uma pauta aqui, tentei e tive muito trabalho para resumir em pouca coisa tudo que o senhor fez pelo sertão. Primeiro, dizer que o senhor redescobriu o Nordeste. Depois do seu governo, o Nordeste é confiante, o Nordeste está diferente. Mas, lá em Serra Talhada, em particular, com o seu governo nós ganhamos o campus da Universidade Federal Rural de Pernambuco, com acesso, inclusive, pronto, os prédios...outros prédios, auditório e outros estão sendo construídos. A Transnordestina, que está cortando Serra Talhada hoje, além de empregar centenas e centenas de serratalhadenses e o pessoal daquela região, está desenvolvendo também a nossa região. E eu vim aqui com uma missão, eu acho que até diferente dos outros companheiros, porque as pessoas ligaram para o meu programa, me encontraram na rua e disseram: “Ô Maia, o presidente Lula, será que vai terminar o governo dele e não vai nos dar o prazer de visitar a terra de Lampião para a gente dar um abraço nele? Diga a ele que tem (incompreensível) para ele inaugurar, dia a ele que tem a Transnordestina para ele visitar, que ele não nos deixe assim, sem nos abraçar antes”. Eu queria saber se, de repente, o senhor poderia dizer para Serra Talhada, se reportar a Afogados da Ingazeira, neste momento, falar sobre esses investimentos que eu lhe passei, e se a gente pode ter o prazer de recebê-lo lá na terra de Lampião para a gente verdadeiramente tomar o café com o senhor mesmo.
Presidente: Olha, primeiro, Francis Maia, é uma grande alegria conversar contigo. Quero cumprimentar os ouvintes da Rádio A Voz do Sertão, cumprimentar o povo de Serra Talhada, o povo de Afogados de Ingazeira.
Uma coisa, Francis, eu tenho... eu tenho pouco tempo de governo, eu tenho quatro meses e alguns dias. Eu quero inaugurar o maior número de coisas possível. O ministro da Educação sabe, eu tenho que inaugurar ainda uma dezena... dez, pelo menos, dez escolas por mês para terminar de inaugurar todas as escolas técnicas que nós temos que inaugurar no Brasil até dia 31 de dezembro. Ou seja, nós vamos ter que inaugurar, vamos ter que fazer um trabalho... não sei como fazer.
Eu tenho... eu estava dizendo para o governador Eduardo Campos que eu marquei inauguração de obras para o dia 31 de dezembro, porque quando a gente governa, sabe, é como a gente ter um filho, ver a mulher da gente engravidar e depois a gente ver esse filho nascer. Ou seja, uma obra que você começa e que você conclui é como se fosse esse filho que você colocou no mundo e você quer ver ele pronto. E às vezes é difícil, às vezes é difícil.
Se eu contar para vocês o sofrimento de fazer essa Transnordestina, vocês vão rezar por mim. Eduardo lembra, só eu pessoalmente, fiz trinta e uma reuniões para poder sair a Transnordestina. Primeiro, para decidir fazê-la; segundo, para convencer os técnicos de que essa discussão de viabilidade econômica, a gente vai discutir quando ela estiver pronta, porque se a gente for discutir, fazer uma obra no Nordeste só depois de discutir a viabilidade econômica, a gente nunca faz. Então, primeiro, nós vamos fazer. Em algum lugar o dinheiro já está antes de ter a obra, e em algum lugar tem que ter a obra para depois vir o dinheiro. Então, foram meses. Depois nós tivemos a ajuda do companheiro Ciro Gomes, no primeiro momento, depois, tivemos a ajuda do ministro Guido Mantega, depois, do ministro Palocci. Levamos três anos para construir a engenharia financeira de financiamento de quase R$ 6 bilhões. E quando que nós fizemos isso? Aí começa o problema de desapropriação. O Eduardo Campos sabe o que ele sofreu aqui em Pernambuco. O Wellington sabe, em janeiro, eu fiz uma reunião lá em Brasília, porque eu estou fazendo uma reunião mensal, agora, para acompanhar o bicho de perto. Em janeiro, estava tudo ótimo. Estava eu, Eduardo, Cid Gomes e Wellington em uma mesa de uma reunião a empresa, estava tudo certo. Quando chegou na reunião de fevereiro, um juiz, não sei de onde, tinha negado a desapropriação, não sei de onde, aí pára. Aí, depois, tem supressão de vegetação não sei das quantas... Olhe, pense, pense na quantidade de carrapato para criar problema. É um para fazer e um monte para não deixar fazer. Porque o Brasil virou assim: nós criamos uma máquina de fiscalização poderosa e uma máquina de execução fragilizada. Eu coloquei isso aqui quase como uma profissão de fé, porque eu lembro que eu estava no Crato, em 1979, no segundo turno das eleições, quando o doutor Arraes entrou no avião comigo, tomamos um uísque juntos, e ele falou: “Meu filho, se você ganhar as eleições, faça a Transnordestina”. Eu não ganhei.
Jornalista: [19]89.
Presidente: Não ganhei em [19]89. Demorou até 2002. Eu falei: vou fazer essa ferrovia, vou fazer. E graças a Deus, olhe... Ela, agora, hoje... hoje eu vou visitar, tem muita gente trabalhando, vai ser a maior fábrica de dormentes do mundo, vai ser a maior usina de brita em funcionamento no Brasil, e o que eu quero ver é gente... Vocês sabem que eu fui a Missão Velha... ainda no outro governo eu fui a Missão Velha, começamos a trabalhar e, de repente, por problemas ambientais, por problema de desapropriação, parou. Agora está lá o ministro dos Transportes para começar. Eu vou dizer uma coisa para vocês: eu vou deixar o governo, mas eu vou continuar andando pelo Brasil, vou continuar viajando este país, e se eu não puder ir a Serra Talhada como Presidente, eu vou lá como companheiro depois das eleições. Porque, quem pensa que eu vou deixar a Presidência e vou para Paris, vou para Harvard, vou não sei para onde... Não, eu vou vir para o sertão brasileiro, viajar este país inteiro, para ver o que eu fiz, ver o que eu não fiz. Se tiver uma coisa errada, pegar o telefone e ligar para a minha presidenta: olha, tem uma coisa aqui errada. Pode fazer, minha filha, que eu não consegui fazer. Sabe, porque essa é a contribuição que um político tem que dar para o Brasil.
Vocês sabem do carinho que eu tenho pelo Nordeste, vocês sabem do orgulho que eu tenho, porque o Nordeste tem uma coisa que vocês não estão avaliando bem. O Nordeste, teve um tempo, na década de 60, em que ele era exportador de pobre para São Paulo. As pessoas saíam, como a minha família saiu, para ir trabalhar para não morrer de fome aqui. Hoje as pessoas estão voltando cidadãs. As pessoas trabalharam em São Paulo, fizeram São Paulo crescer, estão voltando – eu encontro muitos com a carteirinha de sócio do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC – com aposentadoria. Então, eles saíram pobres, famintos e estão voltando cidadãos. Eles estão voltando, com casinha alugada ou casinha própria; tem alguns amigos meus que estão criando bode, que estão criando cabra. É uma coisa maravilhosa! Eles voltaram para investir.
Então, eu acho, Francis, que eu vou continuar andando pelo Brasil, você vai me ver muito. Eu só quero saber se você vai fazer uma entrevistazinha quando eu não for mais Presidente, porque dizem que ex-deputado, ex-governador, ex-vereador, ex-presidente, nem vento bate nas costas.
Jornalista: Se eu não entrevistá-lo, Presidente, eu serei, certamente, escorraçado da minha cidade.
Presidente: Mas eu vou lá porque eu quero visitar a universidade. Eu não sei se o Fernando Haddad foi visitar, mas era importante que a gente fosse lá. Quem sabe, numa dessas vindas aqui, a gente dá uma descida lá.
Jornalista: (incompreensível). Quero tomar um café com o senhor e a gente assistir, se possível, uma partida do Corinthians.
Presidente: E obrigado por transmitir o “Café com o Presidente”.
Jornalista: Sempre, sempre. Ok, Presidente. Agora passamos a palavra a Gil Costa. Ele está em Teresina, no Piauí, e fala conosco por telefone, da Radio Pioneira. Bom dia, Gil Costa.
Jornalista: Bom dia, Luciano. Bom dia, Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Presidente, é um prazer muito grande, incomensurável, mais uma vez estar entrevistando o senhor, indagando o senhor sobre os problemas do Brasil. Eu, que tive esse prazer de entrevistá-lo, o senhor ainda... antes de ser presidente da República, quando veio a Teresina várias vezes. Eu me lembro de momentos emocionantes, espetaculares, quando o senhor foi candidato à Presidência da República. Um momento desses, muito espetacular, foi (incompreensível) da Igreja de São Benedito, fica aqui pertinho da Rádio Pioneira, onde o senhor mobilizou aqui quase 3 mil pessoas. Naquele dia, o senhor dizia que ia dar a volta por cima, ia ser presidente da República, e venceu as eleições... Aliás, não venceu a eleição, naquela época que foi Fernando Collor, mas, em seguida, o senhor venceu a eleição e hoje é o maior presidente do Brasil.
Muito bem, Presidente. O estado do Piauí poderá tirar grande proveito da ferrovia Transnordestina, escoando produção e riquezas. Nós somos um estado rico. Dizem que nós somos um estado pobre, mas nós temos muita terra boa, temos água abundante no subsolo, temos, inclusive agora, há essa possibilidade de termos petróleo, está certo? Já que foi descoberto aqui no rio Parnaíba, próximo a nós, no Maranhão; temos muito minério para ser extraído. Agora, para isso é necessário que nós tenhamos recursos. O Piauí sozinho não poderá fazer isso, já que tem uma receita própria muito pequena. Então, eu quero saber do senhor o seguinte: se o seu partido continuar governando este país, se esses recursos poderiam ser facilitados para, exatamente, o Piauí produzir frutas. Inclusive, nós poderemos ser a Califórnia mundial, porque aqui nós temos muito sol, muita água e terra boa, e a fruta, ela adocica muito mais com o sol. Poderemos ser o maior o celeiro de produção de frutas do Nordeste e do Brasil. Agora, precisamos de ajuda, infelizmente ainda, precisamos de ajuda presidencial. Então, eu queria saber do senhor se esses investimentos, eles continuarão ou virão em maior monta para o estado do Piauí? O que a oposição diz? Que o presidente Lula pouco... o governo Lula pouco investiu no Piauí, apesar de ter um governador... ex-governador que era do seu próprio partido.
E por último, Presidente, só para finalizar, eu quero saber também do senhor se o senhor vai regulamentar a Emenda 29, que vai ser um outro ganho para os estados pobres, como é o caso do Piauí, já que aí ficam assegurados recursos suficientes para levarmos uma saúde de qualidade, inclusive aqui no estado do Piauí que, diga-se de passagem, felizmente é uma referência no Nordeste a nossa Medicina. Muito obrigado, Presidente, por ter me ouvido.
Presidente: Ô Gil, muito obrigado pelas palavras, querido. Eu queria te cumprimentar, cumprimentar o povo de Teresina, e sinceramente, eu não gostaria de responder à oposição. Eu só gostaria, Gil, que você contribuísse com o povo do estado do Piauí, e você pudesse somar os últimos governos, nos últimos 30 anos, na Presidência da República, se todos juntos investiram no Piauí o que eu investi em oito anos. Eu deixo para você, deixo para os professores da Universidade avaliarem. Podem pegar todos, os últimos 30... os últimos 30 anos, para saber se eles investiram o que nós investimos em oito anos no estado do Piauí. Investimos dinheiro em obras de infraestrutura, investimos no Bolsa Família – são 417 mil famílias que recebem o Bolsa Família –; oito novos campi previstos, sendo seis... seis estão funcionando em instalações definitivas. Nós temos uma nova universidade, e eu vou dizer para você uma coisa que... só do ProUni, nós temos 5.500 estudantes no Piauí. No Minha Casa, Minha Vida, o Piauí deve ter direito a pelo menos 10 mil casas, ou a 12 mil casas o Piauí deve ter direito agora, no primeiro programa Minha Casa, Minha Vida, porque vai terminar, este ano, um, e já tem 2 milhões de casas para o ano que vem.
Eu estou consciente de que o Piauí não é apenas minério, não é apenas a possibilidade de gás ou de petróleo porque a gente ainda não sabe, mas o Piauí tem um potencial de desenvolvimento, em fruticultura e em toda a agricultura, excepcional. Eu tenho conversado com muitos empresários de São Paulo, que têm me falado da necessidade de produzir fábricas... construir fábricas de papel e celulose no estado do Piauí. Tem muita gente falando em plantar soja no estado do Piauí. Nós temos alguns projetos de hidrelétrica para fazer no rio Parnaíba, que vai ajudar a desenvolver de forma extraordinária o estado do Piauí.
Se tem uma coisa, Gil, que eu tenho a minha consciência tranquila, bem tranquila, é que eu conheço o Nordeste e conheço os governantes brasileiros dos últimos 30 anos. Eu duvido que todos eles juntos tenham tido pelo Nordeste 20% da dedicação que eu tive nesses oito anos. Eu tinha antes... Eu acho que é o pagamento de uma dívida. O Nordeste brasileiro, o Nordeste brasileiro tem todas as condições de se desenvolver. O que precisa é que o dinheiro seja dividido para todo mundo. Só o PAC do Piauí, só o PAC, foram investimentos de R$ 10 bilhões e 300 milhões. Obviamente, que falta muita coisa, falta muita coisa para fazer, porque passou mais de um século sem fazer. Você conhece muita gente da política do Piauí, você sabe que muita gente governava o dinheiro público como se fosse privado, como se fosse dinheiro próprio. Eu acho que o Wellington foi uma revolução no estado do Piauí. Então, é isso que está em jogo, é isso que está em jogo. Nós temos consciência do que nós estamos fazendo, temos consciência do que precisa ser feito, e acho que o Piauí vai deixar de ser visto como o estado mais pobre do Nordeste, ou o Maranhão o estado mais pobre do Nordeste. Agora que descobriu o gás na parte da bacia do Parnaíba, no Maranhão, obviamente que Deus não foi ingrato e colocou só do lado do Maranhão, deve ter um tiquinho do lado do Piauí. E agora vai começar a prospecção e vamos ver, se Deus quiser, que a gente ache. Mas tem coisa, tem coisa para acontecer no Piauí, e eu acho que vocês, que são do Piauí, terão muito orgulho, muito orgulho do que vai acontecer neste estado nos próximos anos.
Jornalista: E agora passamos a palavra a Erivaldo Carvalho, da rádio O Povo/CBN, de Fortaleza. Bom dia, Erivaldo.
Jornalista: Bom dia. Bom dia, Presidente, bom dia a todos. É uma honra estar aqui em nome da rádio O Povo/CBN, que faz parte do Grupo de Comunicação O Povo. Presidente, o senhor pinçou, agora, rapidamente, o projeto da Transnordestina, da transposição das águas do rio São Francisco, da refinaria, da siderúrgica, e também, acabou de insistir que Fortaleza... que o estado do Ceará precisaria de um estaleiro. Ocorre que existe aí uma questão legal em relação à fiscalização, que coloca o ritmo dessas obras em um passo aquém do que o povo do Ceará precisa e, acredita-se, que no ritmo que o senhor gostaria que elas existissem. E isso vai criando uma angústia em relação de quando, finalmente, essas obras vão colocar ali o seu primeiro fruto concreto na vida dos cearenses e, de resto, de nós nordestinos. Enquanto isso, fica aquela angustia, às vezes até transformada em sentimento político. Tem senador da oposição que diz que nunca bebeu uma gota d’água das águas do rio São Francisco. Diga-se, de passagem, que ele agora está com o dobro da soma dos outros dois candidatos ao Senado que estão na base de apoio ao senhor. Quer dizer, é possível a gente pensar, talvez, em uma outra legislação ou em um ritmo das coisas acontecerem a contento, mais do que elas estão acontecendo, Presidente?
Presidente: Olhe, deixa eu lhe dizer uma coisa. Eu acho que vocês, da imprensa, podem acompanhar e fiscalizar com muito mais, eu diria, competência, do que o que eu vou dizer aqui: você... hoje, fazer uma obra no Brasil não é uma coisa fácil. Hoje, para fazer uma obra no Brasil... Eu digo todo dia: se Juscelino Kubitschek voltasse... nós voltássemos a 1955, ele ganhasse as eleições e ele resolvesse fazer Brasília com o tanto de legislação que nós criamos hoje, ele ainda não teria feito o aeroporto do teco-teco, para descer em Brasília. Ainda não teria, porque a quantidade de órgãos que tem hoje para fiscalizar... Porque, qual é o problema? Primeiro, nós temos que ter em conta que o Brasil passou 25 anos sem crescer. O fato de você passar 25 anos sem crescer significa que você desmontou tudo o que você tinha de planejamento neste país, e você não tinha projeto. Havia um discurso que era: “Não tem dinheiro.” É mentira, é mentira. Pode perguntar para qualquer prefeito deste país, de qualquer partido, do PSDB, do DEM, de qualquer partido, se ele foi destratado porque não era do meu partido. Pergunte. Pergunte ao governo de São Paulo; pergunte ao governo do Rio Grande do Sul, que são adversários. E eu desafio: eu coloquei muito mais dinheiro em São Paulo, no governo Serra e no governo Alckmin, do que o Fernando Henrique Cardoso. Eu coloquei muito mais dinheiro no Rio Grande do Sul, no governo do PSDB, do que o PSDB quando estava no governo federal. Porque a minha relação não é uma relação entre partido político de situação e de oposição. A relação é com a governabilidade deste país e com o respeito ao povo de cada país [de cada estado].
Agora, eu acho que o senador, ele deve é ter frustração, porque ele governou o estado três vezes, porque ele foi amigo íntimo do presidente que me antecedeu, e ele prometeu fazer a refinaria. Eu cheguei até a ir jantar com um Príncipe das Arábias, com ele, em Brasília. Porque, neste país, todo mundo prometia uma refinaria. Nego quer fazer campanha, já promete logo uma refinaria, promete logo... e essas coisas precisam de dinheiro.
Então, a verdade é a seguinte, a verdade é a seguinte: a Transnordestina vai sair, quando a elite brasileira não teve coragem de fazê-la. A verdade é que o canal do São Francisco... Dom Pedro deve estar lá em cima agora, se mexendo e dizendo: “Finalmente surgiu um brasileiro que teve a coragem de fazer o que eu achei que precisava ser feito em 1847, e que não deixaram eu fazer”. E vai sair.
Ele poderia ir lá, em vez de falar mal, ele poderia ver o canal, o canal que ele não teve a coragem de fazer, o canal que prometeram a vida inteira e que nunca fizeram. Está lá. A siderúrgica está saindo, a refinaria está saindo, e eu quero estar vivo para participar da inauguração, para eles perceberem que eu nunca prometi essas coisas, nunca, nunca fiz campanha prometendo essas coisas, e elas estão sendo feitas porque eu acho que o Nordeste precisa que elas... dessas obras. Acho que todo o Nordeste merece obras importantes para que o Nordeste possa se transformar num centro de desenvolvimento, não apenas industrial, mas também científico e tecnológico.
Por isso a nossa oposição fica nervosa. O fato de o nosso opositor estar na frente nas pesquisas... é o começo da campanha. Vamos ver o que vai acontecer daqui para a frente. Agora... Também, o fato de essas pessoas estarem na frente não significa que ganhem as eleições.
Agora, o meu problema é o seguinte: nós queremos entregar para o Ceará aquilo que o Ceará merece. Eu tenho consciência do que vai significar, para o Ceará tudo, tudo, tudo o que nós estamos fazendo pelo Ceará. Deus queira que daqui para a frente tenha mais gente interessada em ajudar o Ceará. Por isso que eu ainda vou lá com o companheiro Cid Gomes, vou fazer um pouquinho de campanha lá também, porque eu vou andar o país. Eu digo sempre o seguinte: quem quiser disputar comigo, tem que andar o Brasil, só no gogó não vale. Tem que botar o pé na estrada para conhecer. Este Brasil não é a Avenida Paulista, este Brasil não é a Avenida Copacabana. Este Brasil é o sertão de milhões de brasileiros que têm todo o direito que qualquer outro tem. Isso eu sei que incomoda. Incomoda, inclusive, algumas pessoas da elite do Nordeste, que vivem uma vida de nababos lá fora e não cuidaram corretamente de desenvolver os seus estados quando governaram. Então, eu vou fazer o que tiver que fazer pelo Ceará, porque eu acho que o povo do Ceará merece.
Jornalista: Você está ouvindo a entrevista coletiva do presidente Lula a radialistas do Piauí, Ceará e Pernambuco. Agora, a participação de Edenevaldo Alves, da rádio Salgueiro FM e da Petrolina FM. As rádios Salgueiro FM e Petrolina FM estão em cadeia com as rádios Sertânia FM, de Sertânia, e Lagoa Grande FM, da cidade de Lagoa Grande. Bom dia, Edenevaldo.
Jornalista: Bom dia, Luciano. Bom dia, Presidente. Prazer estar aqui mais uma vez, eu já tive essa oportunidade antes. O senhor... na sua segunda tentativa de governar o país, o senhor esteve no meu programa, na emissora Rural, e para a gente foi um prazer, essas recordações eu tenho até hoje. O prazer de estar aqui... eu quero invocar aqui o meu governador, o meu amigo Eduardo Campos como testemunha deste questionamento que eu vou fazer aqui agora, e defensor também. Recentemente – e isso acontece constantemente –, eu, como petrolinense nato, que são poucos, porque Petrolina recebe um grande número de pessoas que vêm de outras cidades para morar em Petrolina, devido ao seu desenvolvimento, eu não concordo com esse pensamento dos seus opositores. Está todo mundo aqui falando de oposição. Agora há pouco o senhor disse: “Eu não queria dar resposta à oposição”. Mas eu acho que esse não é o momento de dar resposta à oposição, mas uma oportunidade que eu gostaria que o senhor pudesse falar para o povo do Vale do São Francisco da mola mestra da economia da nossa região, que é a agricultura irrigada, o governador Eduardo Campos sabe disso. Recentemente, seus opositores estiveram em Petrolina e disseram que o senhor não enterrou um metro de cano na área irrigada de Petrolina. Nós temos aqui o projeto Bebedouro, que foi o primeiro; temos o projeto Senador Nilo Coelho; temos o projeto Maria Tereza; temos o projeto Pontal. E recentemente o senhor esteve aqui do outro lado, em Juazeiro, fazendo a inauguração do projeto Salitre. Então, é uma oportunidade que eu gostaria de dar ao senhor para que o senhor pudesse falar para os produtores, para os agricultores, para o povo de Petrolina que vive da economia da agricultura irrigada, com relação aos investimentos feitos pelo seu governo na agricultura irrigada. Outro detalhe: lá em Salgueiro, agora há pouco eu recebi um contato – já que a gente também está em cadeia com Salgueiro – que além dos investimentos que o senhor vem fazendo com as obras, a informação que eu tive hoje é que não tem um hotel com vaga, não tem um hotel com vaga e nas cidades do entorno também. Então, o senhor está gerando economia só em ir a Salgueiro. Fique à vontade, Presidente. É um prazer falar com o senhor.
Presidente: Olha, eu acho engraçado as preocupações e compreendo também a dificuldade da oposição. Se a nossa mulher se levantasse pela manhã e ficasse olhando para nós procurando defeitos, certamente ela iria achar em nós um defeito, apesar de sermos todos muito bonitos, mas poderia ter uma unha encravada, poderia ter um pelo encravado. Tem que olhar para o todo. Veja, de 260 mil hectares de terras irrigadas no Brasil, 94 mil foram feitos no meu governo. Vou repetir: de 260 mil hectares de irrigação no Brasil, 94 mil foram realizados no nosso governo. Você participou, aqui, da inauguração da primeira parte do Baixo Irecê. Nós concluímos a primeira etapa do projeto Salitre, os lotes estão sendo desocupados. O Pontal, vai sair a PPP agora, vai sair a licitação, e a abertura das propostas se dará, acho que no dia 21 de setembro, as propostas. O projeto Nilo Coelho, a emancipação dos proprietários vai se dar, agora, no segundo PAC, no PAC 2 que nós construímos. Vamos continuar fazendo tudo o que for necessário porque entendemos o significado da agricultura irrigada para o nosso Brasil.
Agora mesmo, nós tínhamos mandado um projeto de lei para resolver o problema... quando precisou ajudar os nossos fruticultores aqui, na exportação, nós colocamos 200 milhões para poder facilitar as exportações. Da nossa parte, as pessoas sabem que não faltam recursos para que a gente possa ajudar as pessoas a sobreviverem, a produzirem mais e produzirem cada vez mais, cada vez mais. Nós estamos, não só com a transposição criando possibilidade de fazer projeto de irrigação para pequenos agricultores, como o Canal do Sertão, em Alagoas... não só água para beber, mas também para fazer irrigação.
Então, nós vamos continuar fazendo e acho que quem vier depois de mim pode fazer muito mais, pode fazer infinitamente mais. E quem vier depois de quem vier depois de mim pode fazer muito mais, porque o Brasil está se consolidando como uma economia estável, como uma economia crescente, e eu estou convencido de que esse é um processo que não tem retorno. Não tem retorno, não tem volta, e nós vamos continuar cuidando da irrigação na medida em que a gente vá preparando, com o Ministério da Integração, todas as partes do Brasil. Nós acabamos de fazer um levantamento minucioso, pela Agência Nacional de Águas e, certamente, o próximo governo irá disponibilizar 5 milhões de hectares de terras que podem ser irrigadas no rio Araguaia, o que seria uma nova revolução na agricultura brasileira. Isso, agora, está sendo feito com muito mais critério, com muito mais cuidado, porque a gente não pode mais fazer como se fazia trinta anos atrás.
Então, eu acho que... a nossa oposição vai ter que procurar muitos argumentos, muitos argumentos para poder fazer críticas a nós. Eu estou vendo que o nosso adversário está com dificuldade, às vezes fica procurando... fica tentando dizer coisas... Por exemplo, na área da saúde, eu estou vendo que ele está a toda hora falando da saúde, da saúde, da saúde. Essas pessoas se esquecem... O Humberto Costa foi ministro da Saúde. Essas pessoas se esquecem. Para se vingar – não de mim –, para se vingar do povo pobre deste país, eles acabaram com a CPMF, e eles tiraram do orçamento 40 bilhões por ano, o que significa 120 bilhões em quatro anos. Tiraram por pura vingança, pura vingança, porque nós tínhamos feito o PAC da Saúde, foi aprovado dentro do Palácio. Quem defendeu o PAC da Saúde foi nada mais, nada menos que o doutor Adib Jatene, que fez muita gente chorar. Estava previsto cuidar dos dentes das crianças na escola, tratar de oculista [dos olhos] de crianças na escola. Estava tudo previsto lá, 24 bilhões, diretamente, para cuidar da saúde, eles tiraram para se vingar. Eu duvido que os prefeitos deste país e os governadores continuem a melhorar a saúde se não tiver dinheiro para fazer. Saúde custa caro, e cada vez mais caro, porque cada vez tem máquina mais sofisticada. Hoje tem menos médico, é mais máquina, você vem entrando em máquina e vai... quem pode pagar, quem pode pagar. Veja a contradição: quem pode pagar tem um plano médico. Então, dá a impressão que é ele que pagou, porque ele paga um plano médico. Mas depois ele restitui isso do Imposto de Renda. Aí, quem paga é o Brasil, enquanto o pobre não tem direito. Então, eu acho bom...
Eu estava colocando aqui no computador a quantidade de obras irrigadas, as obras que já foram concluídas e as obras que vão ser concluídas até 2010. Isso aqui, certamente, eu vou mandar para a oposição, para eles lerem. Eles poderiam entrar no site do governo, que ele teriam tudo isso. Esse discurso aqui já está quase um samba de uma nota só. Antes de entrar aqui eu tinha recebido um telefonema do governador Eduardo, ontem, antes de ontem, para ver se a gente acertava a questão da rolagem da dívida dos companheiros daqui da região, e nós tínhamos mandado um projeto de lei. Então, ontem eu falei com o Eduardo e pedi para ele falar diretamente com o ministro Guido, e liguei para o Guido hoje de manhã para transformar o projeto de lei em medida provisória, para facilitar a vida das pessoas, porque o projeto de lei demorou. Porque tem gente de oposição que, em vez de estar lá votando, está aqui falando mal do governo, quando deveria estar lá organizando a votação do projeto de lei. Então, eu quero dizer para vocês... me parece que essa foi a última pergunta, Luciano?
Jornalista: Sim.
Presidente: ... dizer para vocês o seguinte: olhem, uma coisa, nós temos que ter claro. É que eu vivi este país como dirigente sindical. Eu lembro que nos anos 80, até pouco tempo atrás a gente não via no Brasil uma placa dizendo: “precisa-se de um soldador, de um pedreiro, de um engenheiro”, não tinha. Engenheiro se formava e ia vender água de coco na praia ou ia ser analista econômico; pedreiro não tinha o que fazer, azulejista não tinha o que fazer. Hoje, qual é a coisa extraordinária que está acontecendo no Brasil? É que falta mão de obra. Quando você falou da... quando você falou, Edenevaldo, da quantidade de gente em Salgueiro... Um dia desses eu vi uma crítica de um cara da oposição dizendo: “É, mas não sei onde tinha mil trabalhadores, acabou a obra e eles ficaram sem trabalhar”. Ora, meu Deus do céu! Quando eu contrato um pedreiro para fazer uma casa, ele vai ganhar para fazer aquela casa. Acabou a casa, eu não posso ficar com o pedreiro! Ou seja, temos que fazer mais casas. A verdade é que nunca, nunca, nunca antes na história do Brasil – vou dizer agora “nunca antes na história do Brasil” – teve a quantidade de obras simultâneas que tem. Vocês podem perguntar para as empreiteiras das cidades em que vocês moram, vocês podem perguntar para as grandes empreiteiras. Vão à CNI, lá em Brasília, perguntar para o Presidente; vão à Fiesp, em São Paulo, perguntar se já houve a quantidade de obras que está havendo neste país. Nunca, nunca, porque aqui não se investia em infraestrutura há 25 anos. As empreiteiras brasileiras ganhavam dinheiro no exterior. Agora está voltando... Agora falta engenheiro, falta maquinista, falta... falta tudo, porque o país tinha sido desmontado.
Sabem o que eu descobri depois da Transnordestina? É que este país, há 15 anos, deixou de produzir trilhos; este país, que tinha uma laminadora na CSN que produzia trilhos. Hoje nós estamos importando trilhos da Polônia, da Itália, da China; um país que é um dos maiores exportadores de minério do mundo. É uma vergonha o que fizeram com este país! Nós estamos recuperando. Vocês não sabem a emoção que eu senti quando colocamos aquele navio no mar, lá em Pernambuco. Se Deus quiser, vamos pôr no Ceará, se Deus quiser, vamos colocar nos outros estados, tem estado que tem mais dificuldade.
Mas eu acho que é isso. Eu acho que todos nós aprendemos. Tem uma geração de governadores no Nordeste, gente nova, gente boa, gente sadia, gente de bom humor, e eu acho que isso é que nós temos que aproveitar. Acho que o momento que nós vivemos é um momento mágico, o povo brasileiro soube vencer as dificuldades, e eu acho que... Eu estou feliz, vou terminar o meu mandato com a consciência tranquila do dever cumprido. Sempre, sempre, sempre saberei que faltou fazer alguma coisa. É aquele jogador que poderia ter marcado mais um gol e não marcou. Sempre vai ser assim na vida da gente. Mas o dado concreto é que nós trabalhamos, e trabalhamos muito.
Quero deixar, quero deixar, para quem vier depois de mim, eu quero ver o marco regulatório do meio ambiente... não pode continuar com a dificuldade que está. Agora, mesmo, encontramos outra perereca, que parou as obras do Anel Viário do Rio de Janeiro. A cada vez que a gente encontra uma perereca, e vai estudar ela, demora seis meses. Vocês sabem que no Canal do São Francisco encontrou-se uma pedra, e o general pegou a pedra na mão e falou: “Parece uma machadinha indígena”. Naquilo, veio uma antropóloga, cercou logo a área de fitinhas, parou seis meses a obra, e ninguém discute quanto custa uma paralisação dessas, ninguém discute. O metrô de Fortaleza... o metrô de Fortaleza, falaram que tinha sobrepreço, pararam quase quatro meses, depois chegaram à conclusão que não tinha. Agora, eu quero saber: quem é que paga ao povo brasileiro esses quatro meses de obras paradas? Então, é assim: tem um para construir e um monte para não deixar construir. É assim, o Brasil sempre foi assim, e eu tenho culpa. Eu tenho culpa, Eduardo tem culpa, Armando tem culpa, Humberto tem culpa, porque quando a gente é deputado a gente não pensa que vai para o governo, e a gente vai criando leis para criar dificuldades. A gente pensa que os funcionários que não liberam as coisas são ruins; não são, não. É que eles são seres humanos e eles têm medo, porque se eles liberarem alguma coisa para fazer, e o Ministério Público entender que está errado e processá-lo, ele tem os seus bens disponibilizados e ele tem que contratar advogado para se defender. Então, ele fica com medo, ele fala: “Espera aí, esse Lula está aí, só tem mais uns quatro meses. Por que eu vou correr risco por causa dele? Deixa ele ir embora”. Porque governante é que nem um trem e os funcionários são as estações, eles são fixos, estão ali estancados ali. O trenzinho vem, faz um barulho, grita e vai embora, e passa. Aí vem... e a estação está lá. É um pouco assim que funciona, e nós precisamos mudar para o bem do Brasil, mudar conversando com todo mundo, mudar marco regulatório ambiental, discutir corretamente o papel do Ministério Público, discutir corretamente o papel do Tribunal de Contas. Porque quando alguém fala o seguinte: “Tal obra... o microfone da Rádio do Povo foi comprado com sobrepreço”. Basta dizer isso para você ser chamado de ladrão. Aí, prova que não houve, quem é que vai pedir desculpas para você? Ninguém. Então, você tem um monte de gente para manchar e ninguém para lavar. Então, isso eu quero contribuir, quero contribuir. Já falei com o Eduardo: Nós vamos fazer reforma política neste país. Não é papel do presidente da República não, é papel dos partidos. E quando eu deixar a Presidência, pode ficar certo de que eu vou virar um “casca de ferida” para fazer a reforma política. Agora falei que nem Mução, não é? Eu estou com “casca de ferida” para poder fazer a reforma política. É preciso fazer a reforma política, moralizar os partidos, a gente ter partidos fortes para a gente poder ter com quem negociar, com quem conversar.
Então, é isso companheiros. Eu quero, do fundo do meu coração, agradecer ao Francis Maia, ao Edenevaldo Alves, ao Erivaldo Carvalho, ao João Hilário e ao Zezinho Vieira pelo carinho, pelo respeito, e dizer para vocês que este país nunca mais será o mesmo, nunca mais. Vocês vão, como nordestinos, nós vamos ter orgulho de ir para São Paulo para passear, para ir para ver as coisas bonitas de São Paulo, a boa comida, a boa cultura de São Paulo. Tem gente que fica incomodada porque o pobre está andando de avião! Então, eu acho mais é que tem que andar mesmo, rapaz. A primeira vez que eu andei foi em [19]75. Só andei porque o Sindicato pagou, porque eu virei presidente do Sindicato. Agora eu vejo, aí, meus companheiros, rapaz, eu encontro com metalúrgico aí “Estou com a família passando umas feriazinhas aqui, na praia do Futuro, na praia de Boa Viagem. Estou...”
Jornalista: (incompreensível) fazer os pobres, cada vez mais, andarem de avião para apressar a ampliação do Aeroporto Regional do Cariri.
Presidente: Veja, nós temos um grande programa de aeroportos. Nós temos, aí, quase 6 bilhões para investir em aeroportos, agora. Vários aeroportos foram parados – vocês já ouviram explicação do ministro Jobim – porque ora o problema é com o Tribunal de Contas ou o problema... Tivemos que parar muitas obras. Nós temos um problema na Lei de Licitação, que nós vamos ter que resolver isso no Congresso Nacional, porque esse negócio de achar que só ganha o menor preço, teoricamente é muito bonito, mas muitas vezes ganha uma empresa que não tem condições de fazer a obra e ela quebra no começo de fazer a obra. Aí você tem que parar e fazer outra licitação. Eu estou com uma estrada, que duas empresas que ganharam, as duas quebraram. Sabem o que significa isso? Um ano de atraso na obra, dois anos. Então, isso... Eu pretendo fazer um esforço imenso depois das eleições, até dezembro, para tentar preparar uma série de marcos regulatórios para quem vier depois, com um Congresso novo, sadio... Com o Armando Monteiro senador, o Humberto Costa senador, a gente vai ter um Senado mais arejado, menos raivoso, porque é bom fazer política sem raiva. A pessoa pode ser contra ou pode ser contra [a favor], mas não pode ser contra por ódio, por vingança.
Então, muito obrigado a vocês, e espero que a gente se encontre ainda durante a campanha. Vou levar para o ministro Jobim, aqui, o pedido do nosso companheiro João Hilário a respeito do Aeroporto do Cariri.
Jornalista: Com a participação de Zezinho Vieira, da rádio Ingazeira de Paulistana; João Hilário, da rádio Tempo FM, 101,5, de Juazeiro do Norte; Francis Maia, da rádio A Voz do Sertão, de Serra Talhada; Gil Costa, da rádio Pioneira, de Teresina, no Piauí; Erivaldo Carvalho, da rádio O Povo/CBN, de Fortaleza; e Edenevaldo Alves, da rádio Salgueiro FM e Petrolina FM, estamos encerrando neste momento a entrevista coletiva do presidente Lula a radialistas do Piauí, Ceará e Pernambuco, uma produção da Secretaria de Imprensa da Presidência da República, em parceria com a EBC Serviços. Até uma próxima oportunidade.
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