🌵Como se Ganha uma Guerra? Da Gália Antiga ao Caos Geopolítico do Século XXI: do legado de Júlio César à guerra híbrida do nosso tempo, um olhar sobre vitórias, derrotas e narrativas que moldam a história.
🌵Por Olhos do Sertão
Como se ganha uma guerra?
Uma guerra não se vence apenas com
batalhas. A vitória verdadeira ultrapassa o campo de combate e se firma em
outros territórios:
- Politicamente, ao alcançar os objetivos estratégicos
pretendidos.
- Psicologicamente, ao quebrar a vontade do inimigo de lutar.
- Economicamente, ao sustentar o esforço de guerra até que o
inimigo colapse.
- Narrativamente, ao impor sua versão da história como a
legítima.
Vencer militarmente, mas perder
politicamente, é o mesmo que perder a guerra.
Júlio César e a Guerra da Gália: a conquista estratégica
Entre 58 e 50 a.C., César derrotou
as tribos gaulesas e expandiu o Império Romano. Como?
- Dividiu
para conquistar, explorando rivalidades tribais.
- Garantiu
uma logística eficiente, com suprimentos
constantes.
- Manteve
uma disciplina militar invejável.
- Usou
psicologia e brutalidade exemplar,
como nas campanhas em Avarico e Gergóvia.
- Moldou a narrativa, escrevendo os Comentários sobre a Guerra da Gália.
Aníbal: o general que venceu batalhas, mas perdeu a guerra
Mesmo vencendo batalhas lendárias
como Trebia, Trasimeno e Canas, Aníbal perdeu a Segunda Guerra Púnica. Por quê?
- Faltou apoio político interno de Cartago.
- Não
atacou Roma diretamente quando teve a chance.
- Roma adotou uma estratégia de desgaste, liderada
por Fábio Máximo.
- Escipião Africano levou a guerra à África e venceu
Aníbal na Batalha de Zama (202 a.C.).
Vitória tática não é sinônimo de vitória estratégica.
Vietnã: a derrota da superpotência
Mesmo com sua superioridade
militar e tecnológica, os EUA foram derrotados no Vietnã:
- Subestimaram
a cultura e a resistência locais.
- Enfrentaram uma tática de guerrilha eficaz.
- Perderam
o apoio interno e a narrativa global.
- A Ofensiva do Tet (1968) abalou profundamente a moral nacional.
- Em 1975, a queda de Saigon marcou a
humilhação final.
Saigon (1975) e Cabul (2021): cenas repetidas da mesma tragédia
A saída caótica dos EUA do Vietnã
e, décadas depois, do Afeganistão revelou:
- Um imperialismo sem raízes locais.
- Governos
aliados frágeis e corruptos.
- A ausência de objetivos claros de longo prazo.
- A incapacidade de conquistar corações e mentes.
Décadas de ocupação ruíram em
questão de dias.
O Irã como escola de resistência
Apesar de décadas de sanções e
isolamento, o Irã construiu um modelo de guerra indireta e sobrevivência:
- Criou uma rede de milícias aliadas
(Hezbollah, Houthis, milícias xiitas).
- Sobreviveu
ao cerco com nacionalismo, fé religiosa e
autossuficiência.
- Inspirou Rússia e China, que
hoje:
- Constroem alianças não-ocidentais (BRICS+,
Organização de Cooperação de Xangai).
- Criam alternativas ao dólar, ao SWIFT e às
Big Techs.
- Usam o Irã como pivô geopolítico para conter o Ocidente.
Os anos 2020s como os 1930s: ecos perigosos da história
A geopolítica atual ressoa com os
primeiros 40 anos do século XX:
Vivemos, talvez, uma
"pré-Terceira Guerra Mundial", só que fragmentada, híbrida e
contínua.
Por isso, que essa terceira década do século XXI se assemelha às quatro primeiras do século XX, , em vários aspectos. Vejamos:
Século XX (1900–1940) |
Século XXI (2000–2030) |
Crise sistêmica do capitalismo
(1929) |
Crise de 2008 e colapso das
democracias liberais |
Expansão imperialista (Alemanha,
Japão, Itália) |
Retomada do expansionismo
geopolítico (Rússia, China, OTAN-EUA) |
Formação de blocos antagônicos |
OTAN/UE/EUA × BRICS+/Eixo de
Resistência |
Guerras localizadas (Espanha,
Etiópia, China) |
Ucrânia, Palestina, Iêmen,
Sahel, Sudão, Mar Vermelho |
Nacionalismos e extremismos |
Populismos, islamismo político, direitas nacionalistas |
Os blocos já estão formados?
Sim, ainda que não oficialmente,
os alinhamentos são evidentes:
- Bloco
Ocidental: EUA, OTAN, União Europeia,
Japão, Austrália, Coreia do Sul.
- Bloco
Eurasiático e Sul Global: Rússia, China, Irã, Coreia
do Norte, Síria, Venezuela, BRICS+.
- Bloco
Ambíguo: Índia, Brasil, Turquia, África do Sul, jogam em múltiplos tabuleiros.
Os interesses em jogo
As guerras modernas não giram apenas em torno de
ideologias. Os interesses em disputa são:
- Rotas
comerciais estratégicas (marítimas, aéreas e energéticas).
- Recursos
naturais e tecnológicos (petróleo, gás, lítio, alimentos, dados).
- Controle
da infraestrutura digital e da inteligência artificial.
- Disputas
civilizacionais e narrativas globais.
Estamos redesenhando o tabuleiro
do mundo pós-Guerra Fria.
Conclusão: já estamos em guerra?
Sim. Como afirmou o Papa
Francisco, vivemos uma “guerra mundial
por partes”.
Uma guerra silenciosa, difusa,
fragmentada. Travada em múltiplas frentes:
- Informacional
- Econômica
- Tecnológica
- Climática
- Civilizacional
A guerra moderna é feita de
tanques e sanções, drones e memes, sabotagens e narrativas.
A vitória não está mais apenas no campo de batalha, mas no campo da percepção.
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