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quinta-feira, 19 de junho de 2025

🌵Como se Ganha uma Guerra?

 

🌵Como se Ganha uma Guerra? Da Gália Antiga ao Caos Geopolítico do Século XXI: do legado de Júlio César à guerra híbrida do nosso tempo, um olhar sobre vitórias, derrotas e narrativas que moldam a história.

🌵Por Olhos do Sertão

Como se ganha uma guerra?

Uma guerra não se vence apenas com batalhas. A vitória verdadeira ultrapassa o campo de combate e se firma em outros territórios:

  • Politicamente, ao alcançar os objetivos estratégicos pretendidos.
  • Psicologicamente, ao quebrar a vontade do inimigo de lutar.
  • Economicamente, ao sustentar o esforço de guerra até que o inimigo colapse.
  • Narrativamente, ao impor sua versão da história como a legítima.

Vencer militarmente, mas perder politicamente, é o mesmo que perder a guerra.

Júlio César e a Guerra da Gália: a conquista estratégica

Entre 58 e 50 a.C., César derrotou as tribos gaulesas e expandiu o Império Romano. Como?

  • Dividiu para conquistar, explorando rivalidades tribais.
  • Garantiu uma logística eficiente, com suprimentos constantes.
  • Manteve uma disciplina militar invejável.
  • Usou psicologia e brutalidade exemplar, como nas campanhas em Avarico e Gergóvia.
  • Moldou a narrativa, escrevendo os Comentários sobre a Guerra da Gália.

Aníbal: o general que venceu batalhas, mas perdeu a guerra

Mesmo vencendo batalhas lendárias como Trebia, Trasimeno e Canas, Aníbal perdeu a Segunda Guerra Púnica. Por quê?

  • Faltou apoio político interno de Cartago.
  • Não atacou Roma diretamente quando teve a chance.
  • Roma adotou uma estratégia de desgaste, liderada por Fábio Máximo.
  • Escipião Africano levou a guerra à África e venceu Aníbal na Batalha de Zama (202 a.C.).

Vitória tática não é sinônimo de vitória estratégica.

Vietnã: a derrota da superpotência

Mesmo com sua superioridade militar e tecnológica, os EUA foram derrotados no Vietnã:

  • Subestimaram a cultura e a resistência locais.
  • Enfrentaram uma tática de guerrilha eficaz.
  • Perderam o apoio interno e a narrativa global.
  • A Ofensiva do Tet (1968) abalou profundamente a moral nacional.
  • Em 1975, a queda de Saigon marcou a humilhação final.

Saigon (1975) e Cabul (2021): cenas repetidas da mesma tragédia

A saída caótica dos EUA do Vietnã e, décadas depois, do Afeganistão revelou:

  • Um imperialismo sem raízes locais.
  • Governos aliados frágeis e corruptos.
  • A ausência de objetivos claros de longo prazo.
  • A incapacidade de conquistar corações e mentes.

Décadas de ocupação ruíram em questão de dias.

O Irã como escola de resistência

Apesar de décadas de sanções e isolamento, o Irã construiu um modelo de guerra indireta e sobrevivência:

  • Criou uma rede de milícias aliadas (Hezbollah, Houthis, milícias xiitas).
  • Sobreviveu ao cerco com nacionalismo, fé religiosa e autossuficiência.
  • Inspirou Rússia e China, que hoje:
    • Constroem alianças não-ocidentais (BRICS+, Organização de Cooperação de Xangai).
    • Criam alternativas ao dólar, ao SWIFT e às Big Techs.
    • Usam o Irã como pivô geopolítico para conter o Ocidente.

Os anos 2020s como os 1930s: ecos perigosos da história

A geopolítica atual ressoa com os primeiros 40 anos do século XX:

Vivemos, talvez, uma "pré-Terceira Guerra Mundial", só que fragmentada, híbrida e contínua.

Por isso, que essa terceira década do século XXI se assemelha às quatro primeiras do século XX, , em vários aspectos. Vejamos:

Século XX (1900–1940)

Século XXI (2000–2030)

Crise sistêmica do capitalismo (1929)

Crise de 2008 e colapso das democracias liberais

Expansão imperialista (Alemanha, Japão, Itália)

Retomada do expansionismo geopolítico (Rússia, China, OTAN-EUA)

Formação de blocos antagônicos

OTAN/UE/EUA × BRICS+/Eixo de Resistência

Guerras localizadas (Espanha, Etiópia, China)

Ucrânia, Palestina, Iêmen, Sahel, Sudão, Mar Vermelho

Nacionalismos e extremismos

Populismos, islamismo político, direitas nacionalistas

Os blocos já estão formados?

Sim, ainda que não oficialmente, os alinhamentos são evidentes:

  • Bloco Ocidental: EUA, OTAN, União Europeia, Japão, Austrália, Coreia do Sul.
  • Bloco Eurasiático e Sul Global: Rússia, China, Irã, Coreia do Norte, Síria, Venezuela, BRICS+.
  • Bloco Ambíguo: Índia, Brasil, Turquia, África do Sul, jogam em múltiplos tabuleiros.

Os interesses em jogo

As guerras modernas não giram apenas em torno de ideologias. Os interesses em disputa são:

  • Rotas comerciais estratégicas (marítimas, aéreas e energéticas).
  • Recursos naturais e tecnológicos (petróleo, gás, lítio, alimentos, dados).
  • Controle da infraestrutura digital e da inteligência artificial.
  • Disputas civilizacionais e narrativas globais.

Estamos redesenhando o tabuleiro do mundo pós-Guerra Fria.

Conclusão: já estamos em guerra?

Sim. Como afirmou o Papa Francisco, vivemos uma “guerra mundial por partes”.

Uma guerra silenciosa, difusa, fragmentada. Travada em múltiplas frentes:

  • Informacional
  • Econômica
  • Tecnológica
  • Climática
  • Civilizacional

A guerra moderna é feita de tanques e sanções, drones e memes, sabotagens e narrativas.
A vitória não está mais apenas no campo de batalha, mas no campo da percepção.


 


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