Colunista da Folha prega insubmissão a um falso governo Michel Temer - PT Senado
O colunista Vladimir Safatle assina, nesta sexta-feira (15), artigo na Folha de S. Paulo
chamado “O governo Temer não existirá”. Para ele, no Brasil, nada é
mais previsível do que golpe não ser chamado de golpe em um País, no
qual, ditadura não é chamada de ditadura e violência não é chamada de
violência.
Um
impeachment sem crime, até segunda ordem, lembra ele, não está na
Constituição. “Um impeachment no qual o ‘crime’ imputado à presidenta é
uma prática corrente de manobra fiscal feita por todos os governantes
sem maiores consequências, sejam presidentes ou governadores, é golpe”,
enfatiza.
Vladimir
Safatle ainda aponta que um impeachment cujo processo é comandado por
Eduardo Cunha, réu que toda a população entende ser um "delinquente", e
que segue lutando para sobreviver à sua própria cassação é golpe. “Um
impeachment tramado por um vice-presidente que cometeu as mesmas
práticas que levaram ao afastamento da presidenta não é apenas golpe,
mas golpe tosco e primário”.
Acerca
do vice-presidente Michel Temer, o colunista lembra que ele tenta se
apresentar como líder de um governo de “salvação nacional”, mas “deveria
começar por responder quem irá salvar o povo brasileiro dos seus
‘salvadores’”.
“Seu
partido, uma verdadeira associação de oligarquias locais corruptas, é o
maior responsável pela miséria política da Nova República,
envolvendo-se até o pescoço nos piores casos de corrupção destes últimos
anos, obrigando o país a paralisar todo avanço institucional que
pudesse representar riscos aos seus interesses locais”, aponta.
Ao
final, Safatle conclui que diante da nova realidade que se anuncia, só
resta insistir que simplesmente nada “nos obriga à submissão a um
governo ilegítimo”. Nosso caminho, diz o colunista, “é a insubmissão a
este falso governo, até que ele caia. Este governo deve cair e todos os
que realmente se indignam com a corrupção e o desmando devem lutar sem
trégua, a partir de segunda-feira, para que o governo caia e para que o
poder volte às mãos da população brasileira”.
Confira a íntegra:
O governo Temer não existirá - VLADIMIR SAFATLE – Folha de S. Paulo
A
partir de segunda-feira (18), o Brasil não terá mais governo. Na
democracia, o que diferencia um governo do mero exercício da força é o
respeito a uma espécie de pacto tácito no qual setores antagônicos da
população aceitam encaminhar seus antagonismos e dissensos para uma
esfera política. Esta esfera política compromete todos, entre outras
coisas, a aceitar o fato mínimo de que governos eleitos em eleições
livres não serão derrubados por nada parecido a golpes de Estado.
É
claro que há vários que dirão que o impeachment atual não é golpe, já
que é saída constitucional. Nada mais previsível que golpe não ser
chamado de golpe em um país no qual ditadura não é chamada de ditadura e
violência não é chamada de violência. No entanto, um impeachment sem
crime, até segunda ordem, não está na Constituição. Um impeachment no
qual o "crime" imputado à presidenta é uma prática corrente de manobra
fiscal feita por todos os governantes sem maiores consequências, sejam
presidentes ou governadores, é golpe. Um impeachment cujo processo é
comandado por um réu que toda a população entende ser um "delinquente"
(como disse o procurador-geral da República) lutando para sobreviver à
sua própria cassação é golpe. Um impeachment tramado por um
vice-presidente que cometeu as mesmas práticas que levaram ao
afastamento da presidenta não é apenas golpe, mas golpe tosco e
primário.
Temer
agora quer se apresentar como líder de um governo de "salvação
nacional". Ele deveria começar por responder quem irá salvar o povo
brasileiro dos seus "salvadores". Seu partido, uma verdadeira associação
de oligarquias locais corruptas, é o maior responsável pela miséria
política da Nova República, envolvendo-se até o pescoço nos piores casos
de corrupção destes últimos anos, obrigando o país a paralisar todo
avanço institucional que pudesse representar riscos aos seus interesses
locais. Partido formado por "salvadores" do porte de Eduardo Cunha,
Renan Calheiros, José Sarney, Sérgio Cabral e, principalmente, o próprio
Temer. Pois nunca na história da República brasileira houve um
vice-presidente que conspirasse de maneira tão aberta e cínica para
derrubar o próprio presidente que o elegeu. Em qualquer país do mundo,
um político que tivesse "vazado" o discurso no qual evidencia seu papel
de chefe de conspiração seria execrado publicamente como uma figura
acostumada à lógica das sombras. No Brasil de canais de televisão de
longo histórico golpista, ele é elevado à condição de grande enxadrista
do poder.
Mas
não havia outra chance para tal associação de oligarcas conspiradores.
Afinal, eles sabem muito bem que nunca chegariam ao poder pela via das
eleições. Esta Folha publicou pesquisas no último domingo que
demonstravam como, se a eleição fosse hoje, Lula, apesar de tudo o que
ocorreu nos últimos meses, estaria à frente em vários cenários, Marina
em outros. O eixo central da oposição golpista, a saber, o PSDB, não
estaria sequer no segundo turno. Temer, que deveria também ser objeto de
impeachment para 58% da população, oscilaria entre fantásticos 1% e 2%.
Estes senhores, que serão encaminhados ao poder a partir de
segunda-feira, têm medo de eleições pois perderam todas desde o início
do século. Há de se perguntar, caso fiquem no poder, o que farão quando
perceberem que poderão perder também as eleições de 2018.
Os
que querem comandar o país a partir de segunda-feira aproveitam-se do
fato de o país estar em uma divisão sem volta. Eles governarão jogando
uma parte da população contra a outra para que todos esqueçamos que, na
verdade, são eles a própria casta política corrompida contra a qual
todos lutamos. Diante da crise de um governo Dilma moribundo, outras
saídas, como eleições gerais, eram possíveis. Elas poderiam reconstituir
um pacto mínimo de encaminhamento de antagonismos. Mas apelar ao poder
instituinte não passa pela cabeça de quem sempre sonhou em alcançar o
poder por usurpação.
Diante
da nova realidade que se anuncia, só resta insistir que simplesmente
não há mais pacto no interior da sociedade brasileira e que nada nos
obriga à submissão a um governo ilegítimo. Nosso caminho é a insubmissão
a este falso governo, até que ele caia. Este governo deve cair e todos
os que realmente se indignam com a corrupção e o desmando devem lutar
sem trégua, a partir de segunda-feira, para que o governo caia e para
que o poder volte às mãos da população brasileira. Àqueles que estranham
que um professor de universidade pública pregue a insubmissão, que
fiquem com as palavras de Condorcet: "A verdadeira educação faz cidadãos
indóceis e difíceis de governar". Chega de farsa
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