Forbes diz que investigações de corrupção vão parar com impeachment de Dilma- Jornal GNN
Atualizado em 15/04/2016 - 10:05
Da Forbes
Por Kenneth Rapoza
Traduzido por Luiz de Queiroz, do Jornal GGN
Isso é apenas um palpite. Os casos
abertos pelas cortes federais contra dezenas de políticos brasileiros
nos numerosos escândalos da Petrobras vão ser fechados ou ficarão sem
solução uma vez que a presidente Dilma Rousseff seja impedida. O maior
embuste na história das contas públicas brasileiras terá sido
miraculosamente solucionado. Políticos serão absolvidos de seus crimes.
Ou seu envolvimento permanecerá um mistério, algo para historiadores e
teóricos da conspiração debaterem em uma mesa de bar. Enquanto isso, a
mídia vai parar de gaguejar e pigarrear sobre corrupção. Alguns editores
e repórteres não saberão mais sobre o que tuitar. A Dilma se foi. Chega
de corrupção. A Petrobras e todos os políticos associados a ela estão
livres.
O vice-presidente brasileiro Michel
Temer com o presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha. Ambos são
acusados de receber milhões de dólares em propinas de lobistas e
empresas de construção que prestam serviço para a gigante do petróleo
Petrobras. (AP Photo/Eraldo Peres)
Primeiro, um aviso sobre um viés
pessoal. Eu sou acionista da Petrobras desde 2009. O valor das minhas
ações caiu 83%, em grande parte devido ao completo derretimento da
confiança dos investidores causado pelo escândalo da Lava Jato,
estrelado pela Petrobras e amigos. O escândalo envolve mais de um terço
do Congresso brasileiro. Minha preocupação é que uma vez que a
presidente Dilma seja impedida a investigação acabe. Isso levantaria
dúvidas sobre a verdadeira força do judiciário brasileiro. Para mim e
outros com quem conversei sobre o assunto também levantaria dúvidas
sobre o quanto se pode confiar na Petrobras. Por que os novos gerentes
da Petrobras não iriam querer ver a justiça sendo feita contra os
políticos que ajudaram a destruir sua reputação?
Até agora, o sistema judicial brasileiro
e sua polícia federal conseguiram desempenhar um papel digno de Oscar.
Melhor combatente do crime do ano? O juiz federal Sergio Moro. Eu não
duvido que Moro vai continuar a investigar executivos de companhias que
lavaram dinheiro e pagaram propinas para políticos. Alguns, como o
bilionário Marcelo Odebrecht, CEO do conglomerado global que leva seu
nome, ainda irão para a cadeia. O que eu acho que nós não vamos ver são
políticos responsabilizados por permitir que tudo isso acontecesse pra
começo de conversa.
Espero que eu esteja errado. Eu posso estar.
Eu falo com muitos investidores com
dinheiro aplicado no Brasil. Alguns, como Jan Dehn, do Grupo Ashmore, em
Londres, dizem que as instituições brasileiras são fortes. As pessoas
acreditam nisso. Mas se a investigação da Lava Jato contra políticos
esfriar de repente, todos concordam que a legitimidade do impeachment da
presidente e a independência das altas cortes federais estarão em
dúvida.
Presidente do Brasil, Dilma
Rousseff, com seu vice, Michel Temer. O Brasil agora tem uma presidente e
um vice que se odeiam. O país está ingovernável com Dilma e o mercado
agora concorda com a população que ela deve sair do cargo (AP
Photo/Eraldo Peres)
“Se as investigações da Lava Jato
acabarem quando a Dilma for embora, o longo prazo não trará nada de
positivo para nós”, disse Bert Van Der Walt, um gerente de fundos de
investimento da Mirae Asset Global Investiments, de Nova Iorque. “Nós
achamos que com todos esses caras sendo presos teremos uma base mais
saudável daqui para frente. Coisas assim acontecem na Rússia, mas nós
nunca vimos políticos nomeados para empresas estatais encarando
acusações por lá. Nos dá muito conforto a atuação do sistema judiciário
brasileiro porque nós estamos vendo resultados. Se nós começarmos a ver o
contrário acontecendo, como as investigações de políticos desaparecendo
de repente, isso vai ser muito negativo”.
Por enquanto, as investigações não estão desaparecendo.
Na semana passada, a polícia federal
descobriu que uma área inteira foi criada na Odebrecht apenas para
monitorar quanto dinheiro eles estavam dando para políticos. Em uma
primeira olhada, não ficou claro se o dinheiro era de doações de
campanha ou pagamentos – dinheiro sujo – por olhar para o outro lado
enquanto eles pilhava a Petrobras ao superfaturar a construção de
refinarias de petróleo. O que chama atenção, além dos codinomes
engraçados dados aos políticos listados, é a ausência de Dilma. Ela não
está lá, mas seu vice-presidente Michel Temer está. Assim como o
presidente da Câmara Eduardo Cunha e o presidente do Senado Renan
Calheiros. Os três são partes das investigações. Os três são membros do
PMDB, o maior partido político do Brasil. Quando Dilma for impedida no
final do ano, Temer vai comandar o show.
As negociações já começaram.
De acordo com a colunista Monica
Bergamo, da Folha de S. Paulo, Cunha vai evitar o embaraço de ser
cassado do seu título pelos tribunais superiores renunciando do cargo
assim que Dilma cair. Que legal da parte dele.
Por que o cínico em mim acredita que
Dilma está sendo chutada do gabinete em uma vingança do PMDB? Ela deu a
eles cargos e ministérios, mas isso não foi o bastante. Talvez eles
quisessem que ela obstruísse a justiça. Obstruir a justiça certamente já
esteve na lista de coisas que a presidente está disposta a fazer. Ela
trouxe o ex-presidente Luiz Inacio Lula da Silva para chefiar seu
Ministério da Casa Civil para blindá-lo contra o juiz Moro. Como
ministro, Lula teria imunidade política. É meio que uma algazarra.
Políticos acusados de cometer crimes não podem ser julgados por
tribunais criminais enquanto tiverem cargos no governo. Lula foi banido
do posto por cinco juízes, então, ele não está livre ainda. Seu legado
está em farrapos.
Com o PMDB no controle, a raposa está
guardando o galinheiro. Se serve de consolo, raposas nem sempre comem
galinhas, mas... já dá pra ter uma noção do cenário.
Quando foi descoberto que Cunha tinha
US$ 5 milhões escondidos em uma conta bancária na Suíça, algo que ele
negou no Congresso poucos meses antes, ele rapidamente começou a falar
sobre o impeachment da presidente. O timing foi curioso. Aproximadamente
300 membros dos 513 da Câmara dos Deputados deram a ele razões para o
impeachment. Duas razões colaram. Uma que ela pode ter mergulhado nos
cofres da Petrobras para pagar pela campanha de reeleição. Isso é
ilegal. A outra que ela teria maquiado os livros das contas fiscais,
quebrando a leis brasileiras de responsabilidade fiscal. O tribunal de
contas conhecido como TCU disse que Dilma de fato transgrediu as leis de
responsabilidade fiscal e entregou o assunto para julgamento no
Congresso. No que diz respeito ao dinheiro da Petrobras, a Suprema Corte
está investigando, mas nenhuma decisão deve sair antes do quarte
trimestre do ano.
PMDB. Se você conhece o programa da
Disney High School Musical, eles estão cantando “We’re All in This
Together”. Brincadeira. (AP Photo/Eraldo Peres)
As coisas não parecem boas para Dilma
que até agora não interferiu na prisão dos oligarcas que roubaram a
Petrobras nem salvou membros importantes do Partido dos Trabalhadores,
como o senador Delcidio Amaral. Na terça-feira o próprio vice-presidente
se voltou contra ela pela segunda vez. No ano passado, Temer disse em
um encontro na Universidade Columbia, em Nova Iorque, que o PMDB
lançaria um candidato à presidência contra o Partido dos Trabalhadores
em 2018. Depois, ele saiu em defesa de Dilma. Agora ele está contra ela
novamente. Apesar de ser impossível comparar a política brasileira à
nossa, é seguro dizer que o abandono de Temer a Dilma equivale a um
cenário em que o vice-presidente Joe Biden concorresse com Barack Obama
no segundo mandato porque não gostou do Obamacare.
Todo o PMDB agora está unido pelo
despejo de Dilma. Os membros do partido concordaram hoje em votar a
favor do impeachment. Eles estão atualmente realizando todas as manobras
políticas necessárias para formar uma coalizão com o partido rival do
PT, o PSDB. Para eles, Dilma já saiu.
O único problema é que ela ainda está lá.
Quando ela tiver saído de fato, como
todos do mercado gostam de dizer, o Brasil pode “seguir em frente com a
recuperação”. O PMDB e outras figuras políticas pegas no arrastão
poderão seguir em frente com suas vidas.
Se seguir em frente com suas vidas
significa recuperar suas vidas antigas, então, isso requer impunidade
mesmo nas supremas cortes nas investigações da Lava Jato contra eles.
Isso faz com que as razões do PMDB para o impeachment pareçam falsas
para mim. E também é ruim para o Brasil, que vinha se movimentando em
uma direção positiva nos casos de corrupção de políticos eleitos. Se o
novo governo proteger os corruptos interferindo nas instituições, o
passo para frente que o Brasil pensa que deu chutando Dilma para a
sarjeta vai acabar sendo um passo para trás.
A verdade é, quer as pessoas amem Dilma
ou a odeiem, todas concordam que a corrupção deve ser tratada seriamente
no Brasil. As pessoas já estão dizendo “basta”. Mas o que vai ser
interessante ver é se o interesse geral de combater a corrupção vai
diminuir quando Dilma estiver longe.
Eu vou me arriscar e dizer que há uma
chance de que vai diminuir. Pelo menos no aspecto político. Moro vai
continuar a ser Moro, um cara sério (eu acho) que quer limpar a casa.
Os três maiores membros do novo governo, no entanto...
As maiores estrelas do PMDB enfrentam
sérias acusações de recebimento de propina. Será que é interesse deles
manter as instituições farejando seus rastros? É uma pergunta que merece
ser feita.
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