Serra negociando com um corrupto do PMDB o espólio do sobrou da democracia brasileira.
País vive regressão à casa-grande e à senzala, diz sociólogo - Instituto Humanitas
Todo o processo que culminou com a votação na Câmara dos Deputados no domingo (17), admitindo o prosseguimento do impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff, mostrou que "as instituições estão desmanteladas", segundo o sociólogo Laymert Garcia dos Santos, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Com as instituições do jeito em que estão, o STF
incluído, acho que a única força que existe, para de certo modo dar um
rumo que não seja o rumo do horror, são as ruas. Não tem outra. O ponto
de interrogação é saber em que medida as ruas vão responder e se dar
conta desse desmantelamento das instituições", afirma.
A reportagem é de Eduardo Maretti, publicada por Rede Brasil Atual – RBA, 19-04-2016.
Para ele, a sucessão de fatos que levaram o país ao dia 17 de abril de 2016 deve ser analisada sob três aspectos. "A primeira coisa é a consolidação, através desse espetáculo, de uma classe política lúmpen. Não é à toa que na Europa, nos países, digamos, democráticos, que não são nenhuma maravilha, eles estão entre horrorizados e estupefatos com o nível de baixaria que é o Parlamento brasileiro".
O segundo aspecto, segundo ele, é ainda
pior, pois diz respeito a uma regressão que o lado progressista da
sociedade, principalmente quem viveu o período sombrio da ditadura, não
esperava que pudesse retornar. "O que vimos ontem concretiza e sela a
vitória da regressão. Mesmo que se consiga uma saída mais ou menos daqui
para a frente, acho difícil a gente conseguir no curto prazo contornar
ou conseguir esvaziar uma regressão como essa que aconteceu", avalia. "A
gente voltou para a casa-grande e a senzala no que ambas têm de pior. A
gente pensava que estava se afastando disso, aos poucos, e que a
chamada herança maldita tinha ficado para trás, mas ela está atual. Esse
segundo aspecto é terrível".
O terceiro aspecto se refere a algo
relacionado à experiência subjetiva da história, que não poderia ser
experimentada por quem não viveu o período do regime ditatorial no país.
"Por causa da idade, fiquei com uma sensação que eu já tinha tido na
vida: a sensação do dia seguinte à promulgação do AI-5, em dezembro de 1968. Do ponto de vista do impacto afetivo e subjetivo, a sensação é a mesma. O AI-5, e não 1964,
foi o momento em que a ditadura efetivamente se concretizou enquanto
tal, porque foi quando ela apareceu com toda a sua violência, quando o
corte foi operado do ponto de vista subjetivo".
Para Laymert, as novas
gerações "não têm experiência do desmoronamento subjetivo da geração que
viu seu futuro absolutamente comprometido com a chegada da ditadura, e a
sensação diante do que a gente vê nas forças que estão vencendo é
essa".
A evolução dos acontecimentos é
"chocante", diz, também pela cumplicidade dos poderes em torno da
construção do cenário e a culminância do processo na Câmara.
"Depois do que a gente foi vendo nos últimos tempos, até chegar ao
domingo, com todas as cumplicidades dos outros poderes, as bombas
informacionais detonadas em conluio com o Judiciário, tudo isso junto já mostrou que não há o que esperar das instituições, não tem mais Estado de direito", afirma Laymert. "É quase inimaginável, mas isso foi sendo construído e a gente não queria acreditar que podia chegar, e chegou".
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