Chico Diaz é uma voz nesse deserto de ideias que virou a mídia brasileira de duas notas: crise e corrupção. Suas observações conscientizadoras são um rio em direção ao mar.
Para o ator, as investigações da Operação Lava Jato revelaram a intenção de derrubar um governo democraticamente eleito
01/04/2016
Por Mariana Pitasse,
Do Rio de Janeiro (RJ) - Brasil de Fato
Chico Diáz: "Não adianta tirar na mão grande. Isso é roubo, é golpe!"
Ator Chico Díaz acusa cobertura da mídia de"sensacionalista" (Foto: Divulgação) |
No
ar com a novela “Velho Chico”, o ator Chico Díaz vive Belmiro dos
Anjos. Sertanejo, nascido e criado no meio da caatinga, o personagem
marca a 23ª novela em que o ator trabalha. Aos 56 anos de idade e 40 de
uma premiada carreira, Chico Díaz coleciona ainda no currículo 64 filmes
e mais de 18 peças no teatro. Em entrevista ao Brasil de Fato, o ator
veterano nas telas afirma que a cobertura dada pela grande mídia sobre
os últimos acontecimentos políticos do país é sensacionalista e
tendenciosa.
Brasil de Fato - Qual a sua opinião sobre o processo de impeachment aberto contra a presidente Dilma?
Chico Díaz -
Acho uma vergonha, uma aventura irresponsável de um grupo, também
irresponsável, para colocar a nossa ainda tão frágil democracia em risco
dessa maneira. Se depender da grande maioria, não vai passar e, se
passar, haverá um grande problema que é a desestabilização do Estado
Democrático de Direito.
Qual a sua avaliação sobre as investigações da Operação Lava Jato?
Acredito
que partem de uma ideia necessária, que seriam investigações profundas
sobre uma estrutura histórica do fazer político neste país. As relações
mais que promíscuas entre poder público e empreiteiras e outros agentes
corruptores, que são relações históricas, diga-se de passagem. Mas que
pouco a pouco revelaram a intenção, através dos seguidos e constantes
vazamentos, de derrubar esse governo que foi democraticamente eleito.
Essa intenção se mostrou então tendenciosa e partidária, obscura e
duvidosa. Aí o cartaz (que rodou as redes sociais associado ao nome de
Chico Díaz e da sua esposa, Sílvia Buarque), não idealizado por nós, se
atualiza: “Ô Moro, por que só o PT?”.
O que acha da quebra de sigilo e divulgação das gravações de Lula e Dilma promovidas pelo juiz Sérgio Moro?
Uma
vergonha! Uma falta! Um chute em quaisquer salvaguardas legais. Uma
desconsideração desesperada com a Constituição. Como é que um juiz diz
que não é relevante a ilegalidade demonstrada ao divulgar as gravações?
Um juiz?
Como avalia a cobertura midiática dos últimos acontecimentos?
Sensacionalistas, espetacularizantes e tendenciosas.
Que caminho podemos seguir para reverter a atual crise política no Brasil?
Reforma
política. Estabilidade e diálogo. Fim do financiamento de campanhas por
empresas. Consciência política. O lado bom dessa crise, a meu ver, é o
interesse pela discussão política despertado na sociedade, a quantidade
de análises de conjuntura lidos diariamente impressiona. Que Dilma
termine seu mandato como tem que ser e que, se a oposição quiser mudar o
rumo da política, que apresente um projeto válido e consistente para
conhecimento e respeito da sociedade civil. Não adianta tirar na mão
grande. Mão grande é roubo, é golpe. Também não podemos ser inocentes de
achar que é uma conjuntura apenas nacional. O enredo é complexo,
profundo, o Brasil é imenso, é rico. Alguns atores dessa quase tragédia
falam outras línguas, sabemos todos.
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