Caríssimo Deputado (a)
Nordestino(a),
Antes de qualquer
coisa, e do texto abaixo, olhe a imagem acima.Isso era o Nordeste e sempre
foi.Hoje veja o Nordeste e pergunto: sabe qual foi a maior conquista do Brasil em toda a sua história?
Respondo: ter saído do quadro da fome, de acordo com a ONU.
Apenas 72 países no mundo não estão no quadro da fome, o
Brasil é um deles. E essa conquista aconteceu em Dezembro de 2014, mas ninguém
comemorou porque sabemos que as coisas boas desse governo a mídia trava.
E isso é um fato tão claro que em face de um clico de cinco anos de seca
que vivemos no momento, não se tem mais os flagelados, o martírio das famílias
vendo os seus filhos morrendo de fome. Não é verdade?
E meu nobre deputado e nobre deputada, votar no golpe é golpear novamente o Nordeste. Esse
golpe é um golpe das elites paulistas e sulistas contra os interesses do
Nordeste. Uma região que mais cresce e desenvolve no país. Uma região
que mais coloca jovens brancos, pardos e principalmente negros na universidade.
As outras regiões do Sul e do Sudeste sempre tiveram vocações agrícolas e mesmo assim tiveram as instalações do parque industrial por lá. E a nós, o flagelo da fome e da miséria.
Não traia o sofrimento dos seus antepassados que aqui viveram e
pereceram nessa terra Severina. Não traia os futuros dos jovens nordestinos e
pessoas que como eu, hoje, atua na UFC-UAB como professor-tutor, e meu filhos e
outros jovens que estudam na UFC em Russas (um Campus de investimento de mais
de 60 milhões em Russas).
Sou de uma família de
origem humilde e numerosa do interior de Jaguaruana. Quando a parteira chegou,
depois de atravessar o rio Grande (é como chamamos o rio Jaguaribe em
Jaguaruana) eu já tinha nascido.
Meu avô materno foi
soldado da borracha na Amazônia e um tio desapareceu por lá, em busca de sua
sobrevivência e tentando se salvar da miséria e da fome aqui no Nordeste. Outros tios morreram de doenças
e pela miséria.
E hoje sou uma das
primeiras gerações de professor da família. E os meus filhos a primeira geração
de engenheiros. E um outro um gestor na secretaria acadêmica do IFCE. E isso
foi milagre? Eu e os meus filhos teríamos essa oportunidade no tempo dos meus
pais?
A questão da miséria e das secas no Ceará sempre
foi mais uma questão social, política, econômica do que natural. A seca sempre
existiu e existirá, mas a fome, a miséria são criações de uma elite brasileira
(paulista e nordestina) perversa, maldosa e assassina.
Caro nobre deputado e nobre deputado, o Nordeste era uma região inviável para essa gente.
Populações inteiras do Nordeste foram dizimadas pela fome e seca e a pior delas
foram as secas dos “sete” (1877,1878,1879) que fizeram o D. Pedro II se
mobilizar e contratar engenheiros franceses para fazer um estudo de integração
de bacia. A Transposição do Rio São Francisco nasce desse estudo.
E só no governo Lula saiu do papel. E um dos motivos da derrubada da
Monarquia pelas elites paulistas foram as ações de D. Pedro II no Nordeste para
combater as secas porque isso iria de encontro com a “indústria da seca e os
interesses dos coronéis do sertão.
As elites paulistas e
mineiras assumem o país e implantam a República Café com Lei e no nordeste a
seca continua matando milhares de nordestinos. Como a seca de 15, de 32.
Vivemos uma das piores secas dos últimos 100 anos. O que separa 1915 de
2015? Em 1915 o governo resolveu criar currais humanos, ou campos da fome
vigiados 24h por dia por soldados, para evitar que legiões de flagelados
invadissem Fortaleza. Alguns sobreviventes desses campos comeram carne humana
em decomposição (afirmam alguns historiadores).
Algumas famílias enterravam os
seus entes queridos escondidos no mato para evitar que outras tirassem os seus
fígados para comê-los.
Veja a imagem abaixo. Não, não são imagens de campos de concentração nazistas,
mas do campo da fome de Senador Pompeu.
http://www.museudeimagens.com.br/grande-seca-do-nordeste/
http://www.museudeimagens.com.br/grande-seca-do-nordeste/
Sobre os campos de concentração da seca de 1915 a 1932.
Os campos da fome eram regiões cercadas por arames farpados e vigiadas diariamente por soldados para confinar os nordestinos afetados pela seca. Corpos magros, de cabeças raspadas e numeradas se apinhavam aos montes dentro dos cercados de Senador Pompeu, Ipu, Quixeramobim, Cariús, Crato (ou Buriti, por onde passaram mais de 65 mil pessoas) e o já conhecido Otávio Bonfim, os maiores currais humanos instalados no Brasil para conter a massa castigada pela seca dos anos de 1915 e 1932.
Sobre a seca entre os anos de 1877 a 1879.
Das grandes secas que assolaram o Brasil, uma das mais graves e lembradas foi aquela que compreendeu os anos de 1877 à 1879, ficando conhecida como a grande seca do Nordeste. Foram quase três anos seguidos sem chuvas, com perda de plantações, mortes de rebanhos e miséria extrema.
A situação foi tão desesperadora, que famílias
inteiras se viram obrigadas a migrar para outros estados, promovendo uma onda
de imigrações.
Calcula-se que 500 mil pessoas morreram por causa
da seca, em que o Estado mais atingido foi Ceará. O imperador dom Pedro II foi
ao Nordeste e prometeu vender “até a última joia da Coroa” para amenizar o
sofrimento dos súditos da região. Não vendeu, porém enviou engenheiros para a
construção de poços.
Sobre os campos de concentração da seca de 1915 a 1932.
Vítimas da seca. Crianças e adultos jazem ao lado da linha férrea que levava para o Campo de concentração de Senador Pompeu. De forma assustadoramente parecida, as cenas brasileiras dos currais humanos lembravam bastante os campos de concentração nazistas.
Sobre os campos de concentração da seca de 1915 a 1932.
Vítimas da seca. Crianças e adultos jazem ao lado da linha férrea que levava para o Campo de concentração de Senador Pompeu. De forma assustadoramente parecida, as cenas brasileiras dos currais humanos lembravam bastante os campos de concentração nazistas.
Portanto, deputado,
não vote contra o Nordeste porque o golpe é das elites paulistas (Temer e
Serra) que tirarão recursos de nossa região e de nossas famílias.
Porque deputado,
estamos vivendo uma luta de classes. Uma luta regionalizada entre as regiões
mais ricas e as que descobriram o caminho do Desenvolvimento, como a região
Nordeste.
A transposição do rio
São Francisco é uma realidade e creio que teremos água o mais breve possível.
Deputado Nordestino,
não deixe que as elites paulistas deem o golpe novamente e impeça o
desenvolvimento do Nordeste.
Bem, se você for
representante das elites paulistas e nordestinas que levaram à morte milhões de
nordestino de fome, doenças e miséria, desconsidere esse e-mail.
Atenciosamente,
Luís Moreira
Professor e pais de
três filhos.
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