Creio que ainda estamos colhendo "frutos" da campanha eleitoral de 2010 que foi uma das mais pobres e sujas da história republicana.
Seguindo "princípio maquiavélico de que em eleição valeu tudo, só não vale perder, a mídia brasileira brasileira, particularmente a Rede Globo, Estadão, Folha e Veja Band e SBT, foi para o tudo ou nada.
O pior, essa mídia perdeu toda a capacidade crítica de entender que o mundo mudou, a forma como a informação chega até às pessoas, pelas redes sociais tem apresentado novas possibilidades de entender o mundo e o próprio Brasil.
No entanto, a mídia brasileira não arrefeceu de seus editoriais carregados de ódios e preconceitos. E seus colunistas estão carregando nas tintas o desprezo pela inteligência do povo brasileiro e sua satisfação por um Brasil que está dando certo, a despeito de todos os problemas que esse país carrega ao longo de sua história de vida.
Vamos ao texto - Lembranças da campanha de 2010. Vale a pena conferir na íntegra.
Por Ricardo Kotscho
O livro Crime de Imprensa ainda não chegou às livrarias, nem deve chegar tão cedo. Seus autores, os jornalistas Mylton Severiano, o Myltainho, e Palmério Dória não estão muito otimistas. Na contracapa, eles já avisam que se trata de um livro “sobre o qual você não vai ver nenhuma resenha nem menção alguma em nenhum veículo da grande mídia”.
Já que é assim, vamos falar dele em primeira mão aqui mesmo no Balaio. Trata-se do primeiro livro escrito sobre a cobertura jornalística da campanha de 2010, em que Dilma Rousseff, do PT, foi eleita presidente da República contra a vontade de toda a grande mídia brasileira, que apoiava o candidato derrotado José Serra, do PSDB. “Um retrato da mídia brasileira murdoquizada” é o subtítulo do livro de Myltainho e Palmério, os mesmos autores do best-seller Honoráveis Bandidos, lançado pela editora Plena, e que pode ser comprado por R$ 35,00 no site www.plenaeditorial.com.br.
Na apresentação da obra de 138 páginas, os veteranos jornalistas com passagens marcantes pelas principais redações do país, anunciam:
“Crime de Imprensa é o primeiro livro a mostrar, na história das eleições, como se comporta a mídia corporativa antipopular e atrelada a interesses que não coincidem com a vontade do nosso povo. Uma mídia que não hesita em usar os mesmos métodos do inescrupuloso magnata das comunicações Rudolph Murdoch.”
Para que essa vergonha não se repita
Os autores pretendem transmitir a “perplexidade das pessoas lúcidas deste país, não só com a cobertura jornalística falsamente ‘isenta’ das campanhas eleitorais, mas também com a posição dos grandes veículos de comunicação diante de outros episódios da vida brasileira”. Os leitores vão descobrir coisas que jamais leram na imprensa ou viram nos telejornais: o candidato que se tornou onipresente, gravando falas em São Paulo e ao mesmo tempo desfilando em carro aberto no Tocantins; a cartilha do MEC espinafrada e até chamada de criminosa por colunistas que leram apenas uma frase de um capítulo ou nem mesmo leram nada.
No capítulo “E os aprendizes de Murdoch não desistem”, o livro reproduz trecho de um texto que escrevi no Balaio às vésperas da eleição de 2010:
“Jamais tinha visto nada parecido na cobertura de uma eleição – tamanhas baixarias, tantos preconceitos, discursos tão vis e cínicos, textos inacreditavelmente sórdidos publicados em blogs e colunas. No melhor momento social e econômico da história recente do país, chegamos ao fundo do poço na política.”
Um ano depois, podemos constatar que, infelizmente, nada mudou, mas é bom lembrar o que aconteceu para que essa vergonha não se repita nas próximas eleições presidenciais.
Trecho do 1º capítulo (“A bolinha de papel que pesava 2 quilos”):
“(...) Jacob Kligerman disse à imprensa que não houve ferimento algum, mas providenciou uma tomografia (jamais divulgada) e recomendou repouso – tirado a seguir numa churrascaria de luxo na zona sul do Rio. Ali, a bolinha de papel atirada pelo anônimo cidadão, tinha virado uma bobina de fita crepe, logo transformada em ‘uma coisa grande’, que o vice do tucano, Índio da Costa, avaliou em dois quilos e a Folha publicou, peso para o qual o candidato Serra deu um desconto camarada: era só meio quilo – que, a não ser que fosse uma almofada de plumas, de todo modo lhe teria fraturado o crânio.
Colado a José Serra no calçadão de Campo Grande, caminhava Fernando Gabeira, experiente repórter, que afirmou não ter visto ‘coisa grande’ alguma atingir a cabeça do tucano. Naqueles instantes, o ex-guerrilheiro Gabeira, desmerecendo mais uma vez sua biografia, posava como vice virtual de Serra, já que o verdadeiro, o citado Índio da Costa, estava completamente desmoralizado.”
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[Ricardo Kotscho é jornalista]
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