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sábado, 21 de agosto de 2010

O agrotóxico está matando os trabalhadores rurais na Chapada do Apodi

Incidência de leucemia é maior entre agricultores do Apodi

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Trabalhadores rurais acampados em Limoeiro do Norte para marcar o assassinato do líder Zé Maria do Tomé, há quatro meses
MELQUÍADES JÚNIOR

Hoje completa quatro meses da morte do líder José Maria Filho, que denunciou a pulverização aérea de agrotóxicos

Limoeiro do Norte. A saúde do trabalhador rural da Chapada do Apodi está tão mais vulnerável quanto maior se foi disseminando a prática de aplicação de agrotóxico. Mas o impacto dos agrotóxicos vai além do cercado da plantação e o quadro agravante de doenças se alastrou para os municípios produtores: Limoeiro do Norte e Quixeré. Estudos comprovam que várias doenças, dentre as quais o câncer, estão relacionadas com os malefícios causados pelos venenos. De acordo com levantamento da Universidade Federal do Ceará, os agricultores apresentam índice de leucemia, um tipo de câncer, seis vezes maior que o esperado, em comparação com trabalhadores de atividades não-agrícolas. A incidência de doenças crônicas tem aumentado na região em torno do agropolo, em que já está constatado o abuso de agrotóxicos.

"É a questão de ver que nós estamos sofrendo todo o santo dia, esses produtos químicos são muito, eles são muito fortes! Eu li as bulas desses veneno tudinho. Quando eu entrei na empresa eu comia abacaxi, mas hoje em dia não tem quem faça eu comer abacaxi, porque eu sei, todo santo dia, o que é aplicado ali em cima". O depoimento é de um trabalhador rural da Chapada do Apodi e foi coletado pela equipe de pesquisadores do Núcleo Trabalho, Saúde e Meio Ambiente para a Sustentabilidade (Tramas), da Universidade Federal do Ceará. O maior estudo já realizado no Ceará sobre o impacto de produtos químicos na lavoura e nas comunidades relacionadas apresentou, em Limoeiro, a conclusão da pesquisa de um dos principais objetos de estudo: a plantação de abacaxi.

As centenas de hectares onde antes se encontrava abacaxi são ocupadas, atualmente, por banana, também para exportação aos mercados consumidores dos Estados Unidos e da União Europeia. Alguns dos efeitos crônicos dos agrotóxicos são as dermatites, cânceres, desregulação endócrina (hormônios), efeito no sistema de defesa do corpo, má desenvolvimento da criança, doenças respiratórias e doenças do fígado e dos rins. Já tratado em outras matérias, a polêmica sobre os casos de câncer entre Limoeiro e Quixeré é reforçada pelos dados comparativos do registro da doença entre agricultores e não-agricultores.

Levantamento

Conforme anunciado em reportagem de abril deste ano, de um levantamento de casos de câncer em 23 localizações anatômicas da doença, em pelo menos 15, os agricultores apresentaram maior incidência. E desses, os cânceres no sangue (leucemia), nos testículos e na bexiga urinária tiveram incidência maior que o esperado em agricultores. Leucemia deu a pior constatação: incidência 6,3 vezes maior em agricultores. Nas duas outras localizações foi o dobro do estimado pelo estudo.

Hoje é o último dia do Acampamento Zé Maria. Também hoje completa quatro meses da morte do líder, que por vários anos denunciou a pulverização aérea de agrotóxicos e a contaminação da água para consumo das comunidades. Os manifestantes estão reunidos desde a última quinta-feira, na Praça da Câmara Municipal. Apesar dos estudos, a pulverização continua, a água é consumida do mesmo tanque impróprio. Em Limoeiro continua a triste média de uma morte por câncer a cada nove dias, segundo a Secretaria Estadual da Saúde.

Sofrimento
"O caso de Leucemia, um tipo de câncer, dimensiona o que os trabalhadores rurais estão sofrendo"
Raquel Rigotto
Médica e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC)

Melquíades JúniorColaborador


Comentários: não só os trabalhadores, mas todo o povo desta parte do Ceará está sendo contaminado por agrotoxico e outros produtos químicos. O que existe é uma bomba relógio que está para explodir a qualquer momento com contaminação dos processos ecológicos, dos corpos hídricos e toda a região. Até quando as autoridades do Ceará aceitarão esta situação.?

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