Autor(es): Vanessa Jurgenfeld, Marli Lima, Murillo Camarotto e César Felício
Valor Econômico - 05/01/2010
O consumo continuou aquecido após o Natal e em todo o país as vendas de dezembro superaram, entre 5% e 20%, o movimento de igual mês de 2008. Para garantir as vendas de janeiro e fevereiro, e também as tradicionais liquidações, os lojistas já começaram os pedidos de reposição. Em algumas redes, como a Berlanda, de Santa Catarina, os pedidos para janeiro estão 30% superiores aos de igual período do ano passado. Para lojistas, o bom fim de ano e o Natal que não terminou no dia 25 de dezembro vão garantir um forte ritmo de atividade no início de 2010.
Segundo a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), o comércio cresceu 5% no mês passado, sobre dezembro de 2008. Segundo o presidente da ACSP, Alencar Burti, há "uma aceleração nos últimos meses, quando os efeitos da crise começaram a ser revertidos", apontando para um 2010 ainda mais aquecido.
O comércio varejista em Minas Gerais registrou crescimento de 7% em dezembro de 2009, na comparação com o mesmo período no ano passado, segundo avaliação da Associação Comercial de Minas (AC Minas), que congrega os empresários do setor na região metropolitana de Belo Horizonte. "Saímos de uma base de comparação baixa, já que dezembro de 2008 foi tempo de crise e tensão. Uma série de fatores, como a isenção de IPI na linha branca, a recuperação do nível de emprego e a redução dos juros, fazia prever um aumento médio de pelo menos 5% no comércio este mês. Mas o crescimento deve atingir 7%", afirmou Claudia Volpini, presidente do Conselho de Comércio da entidade.
Em Minas, a demanda reprimida pela crise econômica global era tanta que não houve desaceleração significativa nos dias imediatamente seguintes ao feriado de Natal. "As vendas se mantiveram com o mesmo aumento proporcional na semana posterior ao Natal, geralmente destinada à troca de presentes. Isto nos faz prever um janeiro de estoques baixos, sem liquidações, sobretudo em equipamentos eletrônicos de sala, cozinha e lavanderia", disse Claudia.
Na rede MM, uma das maiores varejistas do Paraná, não foram feitas compras de mercadorias de janeiro a março de 2009, porque as vendas do primeiro trimestre do ano passado "foram terríveis", conforme define o superintendente da empresa, Marcio Pauliki. Mas o otimismo para o início de 2010 é grande. "Já estamos comprando produtos para reposição", conta o empresário, que tem como meta crescer 35% no ano, número bem superior aos 2% do ano passado.
Pela segunda vez, a MM fez um feirão pós-Natal, nos dias 28 e 29 de dezembro. "Puxamos um pouco as vendas de janeiro e, em dois dias, faturamos o equivalente a oito dias", diz Pauliki. Na comparação com o feirão realizado no fim de 2008, houve crescimento de 20% no movimento de clientes. Este mês haverá outra liquidação, com oferta do mostruário das lojas, com descontos de até 70%.
Pauliki tem diversos argumentos para explicar o entusiasmo atual. O desempenho de dezembro, quando vendeu 22% mais que em igual mês de 2008, é um deles. Mas ele cita que a demanda reprimida pela falta de crédito, a redução do IPI para alguns produtos e a expectativa de uma boa safra agrícola estão sendo considerados no planejamento da rede, que tem grande presença em municípios do interior. Além da previsão de crescimento na procura por novos aparelhos de TV para os jogos da Copa do Mundo.
A Associação Comercial do Paraná ainda não possui levantamento das vendas realizadas após o Natal. De 1º a 25 de dezembro, houve crescimento de 7,6% na comparação com igual período do ano anterior nas consultas para vendas no crediário ou com cheques. As compras feitas com dinheiro ou cartão de crédito não entram na estatística.
Gilson Bogo, diretor comercial da rede Berlanda, com lojas de linha branca e móveis em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, diz que as encomendas para reposição de produtos a partir de 10 de janeiro deverão ser 30% maiores do que no mesmo período do ano anterior. A animação para as mercadorias que serão vendidas em fevereiro, segundo ele, tem relação com o desempenho durante o fim do ano.
A Berlanda teve vendas de Natal 15,7% superiores às do mesmo período do ano passado e tem pretensão de crescer cerca de 30% em 2010. Segundo Bogo, após o Natal, as vendas continuaram fortes, assim como ocorreu no ano anterior. Mesmo com vendas mais acentuadas, sobraram mercadorias e a Berlanda vai queimar estoques com a realização de um dia de liquidação total das lojas ainda em janeiro, como costuma fazer todos os anos.
As vendas de Natal em Santa Catarina foram um pouco mais fracas do que a Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas (FCDL-SC) esperava, mas mesmo assim o crescimento de 4% em relação aos 7% inicialmente previstos foi considerado bom por Sérgio Medeiros, presidente da entidade. "A expectativa era maior, mas dá para dizer que foi um ano bom, porque crescemos em relação ao ano anterior", disse.
A FCDL estima que em todo o mês de dezembro (ainda não contabilizado) o aumento de vendas em relação ao anterior fique em 4%, porque o movimento maior de pessoas no comércio continuou mesmo após o Natal, não só pela troca de produtos, como pelo tradicional fluxo de turistas no verão no litoral catarinense.
Para janeiro, a expectativa da entidade é de um mês de reposições mais acentuadas no comércio de Santa Catarina do que em janeiro de 2009. "Algumas lojas já anteciparam liquidações neste início de mês, com queima de estoques, e o mercado como um todo está mais otimista para 2010 do que estava para 2009", explica ele, estimando que as reposições de mercadorias deverão ser 7% maiores do que em janeiro do ano passado. "Algumas cidades, como Balneário Camboriú, estão com os hotéis com quase 100% de lotação e isso deve ajudar o comércio", afirma.
Em Pernambuco, a Câmara de Dirigentes Lojistas do Recife informou que as vendas de fim de ano superaram a expectativa de um crescimento entre 13% e 15% sobre 2008. De acordo com o presidente da entidade, Silvio Vasconcelos, os negócios cresceram 17% em relação ao exercício anterior. O grupo varejista Jurandir Pires, de Pernambuco, experimentou uma expansão de 20% nas vendas, quando comparadas ao fim de 2008. De acordo com o diretor da empresa, Fábio Pires, o movimento continuou forte após a virada do ano. "Parece que ainda é Natal", disse.
O forte crescimento, revelou o executivo, já era esperado, motivo pelo qual a empresa já está em processo de recomposição de estoques, acertado com a indústria durante dezembro. Ainda em Pernambuco, a rede varejista RM registrou vendas 30% superiores àquelas verificadas no fim de 2008. O diretor-comercial da empresa, Marco Ferreira Filho, garantiu que, apesar de uma ligeira queda, o movimento seguiu forte após o Natal.
No Ceará, o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Fortaleza, Freitas Cordeiro, informou que as vendas de fim de ano cresceram entre 11% e 12% em relação a 2008, desempenho que ficou dentro das projeções. Teve destaque no mercado cearense o segmento de eletroeletrônicos, cujas vendas avançaram mais de 25%. Cordeiro acredita que o movimento ainda continuará forte por mais dois meses, potencializado pela presença dos turistas no Estado. "A temporada do turismo favorece bastante o comércio dos setores têxtil e de calçados", explicou o dirigente.
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