EDITORIAL JORNAL DA TARDE (GRUPO ESTADO)
Em São Paulo aumentam o lixo e os impostos
Ao admitir que tem dificuldades em fiscalizar, e por isso há falhas na coleta de lixo da capital, a Prefeitura comporta-se como o mau devedor que, cinicamente, tenta justificar-se ao credor: “Devo, não nego, pago quando puder.” No caso, o quando puder não será mais este ano, mas, se tudo o que for planejado der certo, ao contrário das tentativas anteriores que deram com os burros n’água, como os próprios gestores municipais reconhecem, em 2011. Ao longo de 2010 inteiro, os paulistanos continuarão pagando os impostos aumentados (alguns dos quais, como o IPTU, de forma escorchante), entre eles os destinados à varrição e coleta de lixo, cuja fiscalização é dada como inepta pela própria chefia. E os concessionários continuarão recebendo seu rico dinheirinho em dia. Mas a cidade continuará como está: entulhada de detritos acumulados à beira das calçadas e transportados para dentro dos bueiros – que, entupidos, não dão escoamento à água das chuvas fortes de verão –, pelo vento, pela lei da gravidade e, segundo reconhece o multissecretário de praticamente tudo na Prefeitura Alexandre de Moraes, pelos próprios encarregados da limpeza. Quanto a isso, resta uma pergunta no ar empesteado pelos insetos que se nutrem nesses monturos: se esse quadro do alto-comando municipal tem conhecimento de tal barbaridade, por que ainda não tomou providências para coibir o abuso e punir os abusados que o praticam?
De cima do entulho apodrecido e acumulado, a Prefeitura anuncia para as calendas gregas um novo modelo de contrato para o serviço de varrição na capital. Seguindo a regra demagógica de dourar a pílula e ofuscar o triste quadro à vista do cidadão, o secretário de Serviços acena com a promessa a longo prazo do gênero “não dá para continuar assim, mas nada podemos fazer agora, vamos resolver no ano que vem”, sem se incomodar com novas chuvas, novas enchentes e novos Jardins Pantanal. Depois de ter anunciado, de maneira desastrada, a redução da verba para recolhimento dos dejetos em 20%, o prefeito Gilberto Kassab viu-se obrigado a voltar atrás e, para evitar mais confusão, além da que ele mesmo havia promovido, prorrogou a vigência dos contratos com as concessionárias cujo serviço é mal realizado, como pode ser visto a olho nu por qualquer um que não ocupe um cargo importante na municipalidade. Agora, por causa desse compromisso, o gestor municipal veio avisar que tudo continuará como dantes no quartel de Abrantes: o volume do lixo nas calçadas e no leito das ruas aumenta este ano em proporção similar ao crescimento dos impostos cobrados para pagamento de sua retirada.
Se a Prefeitura pretende reduzir em 9% para 2011, quando garante que livrará a cidade da sujeira atual, o custo da varrição, que em 2009 chegou a R$ 348 milhões, por que não denuncia desde já os contratos mal cumpridos, livrando-se dos maus concessionários e prestando um serviço decente ao público?
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