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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Indicadores de 2009 mostram por que o mundo se enamorou do Brasil, e apontam o caminho para 2011


Melhor que a China
Brasil S.A - Antônio Machado
Correio Braziliense - 29/01/2010

Indicadores de 2009 mostram por que o mundo se enamorou do Brasil, e apontam o caminho para 2011

Já conhecidos os indicadores relevantes sobre produção, consumo, emprego e renda, constatam-se os motivos de o mundo flertar com o país: a economia atravessou praticamente incólume o ano da grande crise global, considerada a maior desde a extraordinária depressão da década de 1930. É possível até que o país tenha saído da crise com menos danos que a China, o maior fenômeno do supercrescimento.

A média de desemprego em 2009, 8,1% da população economicamente ativa (PEA), praticamente empatou com a de 2008, de 7,9%, que já havia sido a menor da série histórica da pesquisa do IBGE. Não é um dado banal. O emprego é o primeiro a sofrer nas recessões.

Nos EUA, epicentro da crise iniciada em meados de 2007 e agravada depois de setembro de 2008 pela quebra do Banco Lehman Brothers, a recessão está amainando. Mas as demissões continuam, como enchente rio abaixo em céu azul repercutindo a tromba d’água na cabeceira.

Aqui, o desemprego não só ficou estável entre um ano e outro como a criação de empregos líquidos chegou a quase 1 milhão. A taxa de desemprego não foi menor que a de 2008 por que cresceu a população que saiu do desalento e voltou a procurar emprego — tendência que deve ampliar-se este ano, segundo a consultoria LCA, e mascarar o dado de forte aumento da oferta de empregos medido sobre a PEA.

O rendimento médio habitualmente recebido registrou aumento real de 3,2%, desacelerando pouco em relação ao crescimento de 3,4% em 2008, como destaca o departamento econômico do Bradesco.

A massa salarial, como resultado do desemprego menor e rendimento salarial maior, cresceu 4% em 2009, abaixo da expansão de 7,8% em 2008, mas muito bom para um ano anunciado pelos analistas como de caos e em que as manchetes trombeteavam uma recessão terrível.

Não nesta coluna. Desde janeiro do ano passado, nadando contra a corrente, dizíamos que o pior ficara contido pela queda abrupta do crédito entre setembro e dezembro de 2008, colapsando sobretudo as exportações. As indústrias mofaram com estoques, e piscaram.

A Fazenda e o Banco Central agiram rápido. O primeiro, com as desonerações de IPI para ativar o mercado doméstico. O segundo, com ações para recompor o crédito ao consumo e o financiamento à exportação, ambos travados pela banca devido ao pânico pela quebra do Lehman Brothers. O resultado veio logo. Só tropeçaram no setor industrial as empresas que especulavam com derivativos cambiais.

Quase tudo deu certo

Alguma crise, independentemente de Wall Street ter ido à lona, se antevia no Brasil, no primeiro semestre de 2008, quando o ritmo do consumo evoluía muito acima do da produção, como agora, sem que no governo se visse cautela com a trajetória fortemente expansionista do gasto fiscal, sobretudo em aumentos salariais do funcionalismo.

Apenas do BNDES, linha de frente do investimento para expandir a oferta física de bens industriais e de serviços de infraestrutura, saíam alertas sobre tal descompasso, assim como do Banco Central — pelotão avançado da macroeconomia que age para prevenir as crises de excessos monitorando os preços. No fim deu tudo quase certo.

A vez do investimento

A crise forçou os ajustes. O BC pôde trazer a Selic ao seu menor nível desde sua criação, 8,75% ao ano, noutro forte estímulo para a vazão do crédito, e o BNDES teve ajuda do Tesouro para manter e reforçar o suporte aos investimentos privados e públicos.

Os desembolsos do BNDES, assim, bateram recorde em 2009, indo a R$ 137,4 bilhões, 49% mais que em 2008. Seu presidente, Luciano Coutinho, diz que virou a página da crise. “Agora, o que importa é o ritmo que teremos em 2010 e 2011”, diz. A taxa de investimentos sobre o PIB, segundo ele, deve ter fechado 2009 em 16,9%. Em 2010 ele projeta 18,6% do PIB, contra 21% que previa antes da crise.

E beba com moderação

A diferença entre o esforço do investimento sobre o PIB requerido para a economia crescer e criar empregos sem inflação e deficits externos, alguma coisa acima de 21% a 23% por anos a fio, e o que se terá, 18,6%, condiciona o projeto econômico do novo governo.

O movimento do consumo parece adequado, como atesta o desempenho em 2009 da cervejinha — indicador informal para a sensação de bem estar da sociedade. As vendas bateram em 7,7 bilhões de litros, 5,9% mais que em 2008. Agora, deve-se cuidar da produção geral da indústria para que o emprego e os salários continuem crescendo com estabilidade, garantia para que o consumo, que este ano dará outro salto, não capote em 2011. É o sábio conselho: beba com moderação.

De xodó a problema

E a China? De xodó dos investidores pode virar um problema. Seu plano anticíclico, da ordem de 14% do PIB, contra menos de 2% no Brasil, desembestou o crescimento num país que põe o que ganha em Tbills (títulos do Tesouro dos EUA), investe demais o que poupa e gasta pouco. Aqui é o oposto. Pequim exagerou. Assustado com os sinais de superbolhas na bolsa, com imóveis, tenta, desesperadamente, frear a economia.

Eles têm de baixar o investimento e expandir o consumo interno, o contrário da receita aviada para o Brasil: não atiçar a demanda já aquecida para que a Selic não voe como ave de mau agouro e espante o investimento. Brasil está melhor, se segurar o gasto público.

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