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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Por que a mídia demo-tucana vai para tudo ou nada para eleger o Serra?

O texto abaixo explica o porquê da mídia demo-tucana ir para tudo ou nada para eleger o Serra. Todo mundo sabe que o cara pode retornar em 2014. Todo mundo sabe que a vitória da Dilma consolidará as politicas sociais que favoreceram a mobilização social nestes últimos anos. Todo mundo sabe que a vitória de Dilma enterrará de vez a oposição Demo-tucana neste país, mesmo porque perderam o discurso do Estado mínimo, das privatizações e do arrocho ao povo brasileiro.

Vejam o texto e tirem as suas conclusões porque o autor, a despeito de suas ilações ao presidente Lula, conforma-se com sua "sagacidade" de fazer política neste país.


O Lula, definitivamente não é um dos "seus", por isso a mídia, especialmente a Rede Globo, vai fazer de tudo para eleger o Serra. Que o povo tome cuidado de porcos asquerosos do tipo Boris Casoy.

O cara
Autor(es): AUGUSTO MARZAGÃO
Correio Braziliense - 13/01/2010

Se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em um de seus próximos improvisos, disser que nunca na história do Brasil outro presidente, incluindo Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, teve sua sagacidade política, estará dizendo a mais cristalina verdade. Jamais outro governante brasileiro antes dele, a partir do primeiro minuto da implantação da República, fosse esse governante paisano ou fardado, teve em grau tão elevado o nível de sagacidade do presidente Lula.

Há sobejas provas disso ao longo do seu governo, especialmente nos dois ou três últimos anos. Está aí a destreza com que se esquiva dos petardos com que tentam atingi-lo. Está aí sua quase desfaçatez, quando pouco a sonsice, ao negar evidências e eximir-se de culpas nas quais suas digitais são visíveis a olho nu. Está aí o aplauso internacional aos seus passos como líder de um mundo que emerge do caos do subdsenvolvimento e se liberta de cangas seculares. Está aí a sua capacidade quase messiânica de arregimentar um proselitismo que nenhum outro homem público brasileiro, nem mesmo Getúlio Vargas, jamais alcançou nos 110 anos de existência da República. Será um demiurgo? Será um embusteiro? Será a encarnação do mítico cigano Milquíades, criado pelo realismo fantástico de García Márquez? Nada disso, ou tudo isso, mas acima de tudo o político sagaz, que sabe o que fazer, como fazer e a hora de fazer. Que se antecipa aos acontecimentos, quando é essa a postura adequada, ou deixa que fluam até o esgotamento.

A prova definitiva do que acabo de dizer está na foto estampada na primeira terça-feira de 2010 nos principais jornais brasileiros e exibida na televisão, na qual Sua Excelência, como qualquer mortal da impropriamente chamada classe de baixa renda, cuja “renda”, de fato, não vai além de um miserável salário mínimo, foi “flagrado” saindo da praia a caminho de casa, no caso a Base Naval de Aratu, na Bahia, onde estava em férias, com um imenso isopor na cabeça. Sem a identificação da legenda, tomar-se-ia o presidente por um “farofeiro”, depois de um “regalado” piquenique com asa e pescoço de frango, muita farofa e umas latinhas de cerveja para lavar a alma, ou anestesiá-la para os embates do dia seguinte.

É uma lição de mestre o gesto que a câmara fotográfica flagrou. Dirão os rancorosos e os derrotistas que é um triste exemplo do subsenvolvimento latente na nossa propalada emergência; que a liturgia do cargo foi arranhada — não é a primeira vez que ele a arranha, dificilmente será a última — pela sem-cerimônia presidencial; que o presidente deixou impressa, para desencanto de uma enorme porção dos que nele acreditam, seu despreparo para o mandato ao qual foi praticamente ungido. Pode até ser. Mas também é, ou acima de tudo é, o que seu eleitorado espera dele. O que seu eleitorado quer que ele seja: um parceiro, um igual, um não doutor, um homem que conservou intacta, apesar da altura a que chegou, a alma simples do retirante. Um homem, enfim, capaz de botar na cabeça o isopor de “farofeiro” e se deixar fotografar como se “farofeiro” fosse. Imaginaram quantas novas adesões Sua Excelência somou ao seu inacreditável contingente de devotos?

A grande questão é que a sagacidade, embora prima-irmã da inteligência, tem dezenas de faces, ou de máscaras, algumas pouco recomendáveis. Não esqueçamos que sagacidade é sinônimo de perspicácia e discernimento, mas também o é de solércia, que por sua vez, de degrau em degrau, escada abaixo, chega à velhacaria. Claro que não me passa pela cabeça que a sagacidade do presidente desça a esse limite extremo. Para mim ela é tão somente, ou principalmente, prima-irmã da inteligência, que dela se destaca pelo vasto elenco de matreirices ou de astúcias que contém, virtudes, mais propriamente habilidades, que quase sempre faltam à inteligência, razão pela qual esta e não aquela se torna alvo dos azares da sorte. O risco que ronda a sagacidade é a iminência de dar o passo maior do que a perna…

Escrevi em parágrafo anterior que nenhum governante brasileiro antes do presidente Lula, no curso de toda a história da República, teve a sua sagacidade. Não temo em afirmar, complementando o pensamento, que mesmo depois dele, pelo menos em futuro próximo, não importa quem o eleitor venha a escolher para substituí-lo, sua sagacidade, que tangencia toda a vasta sinonímia que a torce e destorce, será ultrapassada, sequer igualada. Salvo, é claro, daqui há quatro anos e picos, quando ele próprio, “o cara”, reempossar-se (o verbo é este mesmo) na Presidência, repetindo o gesto arrebatado de Napoleão ao autocoroar-se.

Quem viver, verá.

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