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domingo, 17 de janeiro de 2010

É mesmo boa ideia acabar com o PAC?


A entrevista do presidente do PSDB, Sergio Guerra, às páginas amarelas da revista Veja, chamou a atenção inicialmente pelo fato dele ter dito que o PSDB está à esquerda do PT. Leia aqui.

Nos dias seguintes, o próprio candidato do partido, José Serra, revelou a assessores descontentamento com a promessa de Guerra de mudar a política econômica:

Caso Serra vença, haverá mudanças substanciais na política econômica?
Sem dúvida nenhuma. Iremos mexer na taxa de juros, no câmbio e nas metas de inflação. Essas variáveis continuarão a reger nossa economia, mas terão pesos diferentes. Nós não estamos de acordo com a taxa de juros que está aí, com o câmbio que está aí. Estamos criando empregos no exterior. Os últimos resultados da balança comercial são negativos. Precisamos estabelecer mecanismos para criar empregos no Brasil. Espero que a sociedade nos compreenda. Será necessário fazer um rigoroso ajuste das contas públicas. Hoje, o governo gasta muito – e mal. Os gastos cresceram além da capacidade fiscal do país.

Mas o que na verdade me chamou a atenção foi outra promessa dele: a de acabar com o Plano de Aceleração do Crescimento, que seria substituído por ações do Ministério do Planejamento.

Pelo que entendi, o PAC é um plano de investimento em infraestrutura que é essencial para permitir o crescimento do Brasil e para enfrentar os gargalos rodoviários, ferroviários, nos portos, na mobilidade urbana, etc.

Se o PSDB tem críticas ao PAC, não seria melhor aperfeiçoá-lo em vez de simplesmente jogar todo o trabalho que já foi feito fora e começar do zero? Quanto tempo o Brasil perderia com isso? Quais obras seriam paralisadas? Quais os processos que já estão em andamento que seriam interrompidos e recomeçados depois? Ou eles seriam começados de novo, do zero?

Será que o PSDB pensou bem nisso ou está rejeitando o PAC pelo simples fato de que foi uma criação genuína do governo Lula e da ministra Dilma Rousseff?

O que disse Guerra a respeito:

E como transcorreriam essas mudanças?
Se ganharmos, agiremos rápida e objetivamente. A forma de fazer será discutida no momento adequado. Haverá um Ministério do Planejamento que realmente planeje, e não o desastre que está aí hoje. O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) não se realizou. Não há prioridades programáticas, só números inflados. Apenas os projetos eleitoreiros, os que têm padrinhos políticos, estão andando. As estradas estão esburacadas, os aeroportos estão na iminência de outro apagão, a infraestrutura de transportes, como os portos, foi entregue a políticos e a grupos de pressão. Isso é o PAC na realidade – e nós vamos acabar com ele. [O grifo é do Viomundo]

Eu não conheço o andamento do PAC suficientemente para dizer se Guerra tem razão ou não. Talvez o plano não tenha andado como esperava o governo Lula. Ou menos do que esperava o PSDB.

Aqui está a reação da ministra Dilma:

“Foi durante o governo do PSDB que se investiu muito pouco em infraestrutura neste país. Ficamos 25 anos sem construir sequer uma refinaria no Brasil. No Governo Lula, nós mudamos a maneira de gastar, tornando investimento em infraestrutura uma prioridade. Acabar com o PAC é tão grave como foi, no primeiro mandato do Lula, a conversa deles sobre acabar com o Bolsa Família. A cada eleição eles resolvem acabar com alguma coisa. Mas a força do Bolsa Família é tão grande, e a reação da população será tão grande, que eles nunca vão conseguir acabar com o programa, e nem com o PAC, mesmo porque nós esperamos que eles não ganhem a eleição para fazer uma coisa dessas”.

Eu me lembro de uma das promessas de Geraldo Alckmin em 2006, que queria vender o avião presidencial comprado pelo governo Lula. Ao que o então candidato Lula respondeu que os tucanos só pensavam em vender o patrimônio público. Será que Alckmin calculou quanto o governo gastaria para alugar um avião presidencial antes de fazer a promessa e tinha certeza de que era um bom negócio? Ou foi cascata eleitoral?

Aqui, o mesmo parece em andamento. José Serra vai prometer acabar com o PAC só para ter uma plataforma eleitoral com a qual possa distinguir sua campanha da de Dilma Rousseff? Para ganhar a eleição ele está disposto a jogar um monte de dinheiro fora e atrasar dezenas de obras que já estão em andamento ou em planejamento? Como o próprio Guerra admitiu, o PSDB já decidiu acabar com o PAC, mas não pensou em como fazê-lo. Não cheira a irresponsabilidade tomar uma decisão dessa importância sem saber como implementá-la?

Sei lá, mas isso me cheira muito mais a oportunismo do que a um plano de governo bem pensado, resultado do amadurecimento de uma plataforma para o pós-Lula. Mas não tenho certeza.

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