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quinta-feira, 19 de junho de 2025

🌵Guerra de Narrativas: o ataque do Irã, o Hospital de Soroka e a escalada sem retorno?

 🌵Guerra de Narrativas: o ataque do Irã, o Hospital de Soroka e a escalada sem retorno?

🌵Por Olhos do Sertão | Junho de 2025

"Não atacamos o hospital. Atacamos a guerra."
(Mensagem do Ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano)

O que foi atacado em Israel?

Na manhã desta quinta-feira, o Irã confirmou ter destruído o que chamou de quartel-general militar israelense de comando, controle e inteligência, além de outro alvo "crítico" não identificado. O ataque, segundo Teerã, foi "cuidadosamente executado" e resultou em danos colaterais superficiais ao Hospital Militar de Soroka, na cidade de Be’er Sheva — a cerca de 40km da Faixa de Gaza.

O Irã insiste: não atacou um hospital, mas sim uma instalação militar usada diretamente para sustentar as operações contra Gaza — e apelou à população israelense para que atenda às ordens de evacuação antes de novos ataques.

O hospital como campo simbólico de batalha

O Hospital de Soroka não é apenas um centro médico: é um símbolo. Ele representa a retaguarda israelense na guerra, o lugar onde são tratados os soldados que participam da ofensiva militar em Gaza. O Irã associa isso ao que chama de “guerra genocida” que Israel conduz contra os palestinos, citando que 94% dos hospitais de Gaza foram destruídos ou danificados.

Essa narrativa simbólica é essencial: o Irã constrói a imagem de que ataca infraestruturas militares, enquanto Israel, segundo Teerã, ataca infraestruturas civis. Essa diferença moral é a base da guerra de imagens e versões que acompanha os mísseis.


A advertência iraniana e o novo paradigma de guerra

"Obedeçam às ordens de evacuação", diz Araqchi (ou outro emissário iraniano).
Esse tipo de alerta, muito mais comum em guerras de guerrilha urbana ou em confrontos com o Hezbollah, mostra que o Irã quer se apresentar ao mundo como "guerreiro ético" — um ator que distingue civis de alvos militares e que antecipa ataques com avisos.

Trata-se de um movimento sofisticado na guerra psicológica e diplomática:

  • Serve para reduzir as baixas civis, que poderiam gerar condenações internacionais.
  • Envia um sinal claro de que os próximos alvos virão — e podem ser evitados.

O espelhamento das atrocidades e o jogo das culpas

O Irã não nega a escalada: afirma que centenas de civis iranianos foram mortos em ataques israelenses recentes. Ao falar isso, constrói um espelho moral: se Israel acusa o Irã de terrorismo, Teerã acusa Tel Aviv de genocídio e crimes de guerra.

Esse jogo de acusação cruzada é comum em guerras onde a opinião pública internacional tem peso semelhante ao das armas. A guerra não se vence apenas com tanques, mas com versões que viralizam.

Estamos diante de um novo tipo de guerra global?

Esse conflito não é isolado. Ele ocorre:

  • Paralelamente à guerra na Ucrânia,
  • Ao cerco ao Iêmen,
  • Aos conflitos no Mar Vermelho,
  • À tensão China-Taiwan,
  • E às movimentações silenciosas da OTAN no Sahel africano.

Vivemos uma guerra mundial por partes, como já refletimos neste blog. Agora, o que muda é o grau de clareza e organização dos blocos em confronto:

  • De um lado, EUA, OTAN, Israel, Japão, Austrália.
  • Do outro, Irã, Rússia, China, Hezbollah, Houthis, milícias do Iraque, Síria e grupos independentes no Sahel.

O que está em jogo?

Mais do que territórios, o que está em disputa é:

  • O redesenho da ordem mundial,
  • O fim do monopólio do dólar e do SWIFT,
  • O controle de rotas comerciais e infraestruturas energéticas,
  • O direito de autodefesa fora da lógica ocidental,
  • E a narrativa sobre quem é o agressor e quem resiste.

Conclusão: guerra, propaganda e futuro

A guerra não é apenas um conflito de forças, mas uma disputa de significados. Quando o Irã diz que não atacou o hospital, mas um QG militar, está dizendo que o campo de batalha não é apenas geográfico, mas ético, moral e simbólico.

A pergunta que resta: quanto tempo resta até que um erro de cálculo leve todos à beira de um confronto maior?

Veja o texto 

APENAS EM: ARAQCHI: OS ISRAELENSES DEVEM ATENDER ÀS NOSSAS ORDENS DE EVACUAÇÃO NÃO ATACAMOS O HOSPITAL Mensagem do Ministro dos Negócios Estrangeiros: • Esta manhã, as nossas poderosas forças armadas destruíram cuidadosamente um quartel-general militar israelita de comando, controlo e inteligência e outro alvo crítico. • A onda de choque causou danos superficiais a uma pequena secção do Hospital Militar de Soroka, nas proximidades, que foi em grande parte evacuada. A instalação é usada principalmente para tratar soldados israelenses envolvidos no genocídio de Gaza a 40 quilômetros de distância, onde Israel destruiu ou danificou 94% dos hospitais palestinos. • Foi o regime israelita que iniciou este derramamento de sangue, e não o Irão, e são os criminosos de guerra israelitas, e não os iranianos, que têm como alvo hospitais e civis. Desde que a guerra ilegal de Israel contra o povo iraniano começou na semana passada, centenas de iranianos inocentes foram mortos sem motivo. • Apelamos aos israelitas para que prestem atenção às nossas ordens de evacuação antes dos ataques e evitem a proximidade de locais militares e de segurança. As nossas poderosas forças armadas continuarão a reprimir incansavelmente os criminosos que visam o nosso povo até que cessem e paguem o preço pela sua agressão criminosa contra a nossa nação.

 

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