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sexta-feira, 20 de junho de 2025

🌌 Caminho da Gnose, da Consciência e da Educação Libertadora

 


Por Luís Moreira de Oliveira Filho – Professor, buscador, semeador de Consciências

Chego a este momento da vida, com 60 anos de existência e 40 dedicados ao ensino, carregando a maturidade de quem já atravessou muitos mundos, olhares e encontros. Foram milhares de alunos, das infâncias às universidades, que, assim como eu, aprenderam e ensinaram em uma longa travessia de suas vidas. 

Mas hoje, mais do que nunca, percebo que o verdadeiro caminho não é simplesmente ensinar conteúdos, nem formar sujeitos apenas para o mundo do trabalho, mas formar consciências livres, críticas, despertas, tanto no mundo quanto para além dele.

É nessa busca que me aproximo, com profunda reverência, do Gnosticismo, essa antiga corrente espiritual que afirma que o conhecimento salvador (gnose) é o caminho da libertação interior. Os evangelhos de Maria Madalena, Tomé e Felipe, tidos como apócrifos, me provocam profundamente, porque anunciam uma espiritualidade que não depende de instituições nem dogmas. Apontam, antes, para o sagrado que habita em cada ser, e que só pode ser acessado por meio do autoconhecimento e da consciência desperta.


Essa postura ressoa fortemente com a máxima de Sócrates – "Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses" e também com minha trajetória como educador que, inspirado por Paulo Freire, compreende a educação como prática de liberdade, diálogo e transformação.

E nesse processo, me vejo também alinhado com a visão de Vygotsky, para quem a consciência se forma na interação com o mundo, com os outros e com a linguagem. A mediação é o que nos humaniza e nos eleva.

Todas essas dimensões – espiritual, filosófica, pedagógica – convergem em minha busca mais profunda: ser um ser pensante, ético, sensível, lúcido e inteiro.

E é nesse ponto do caminho que sinto minha alma se aproximar do que o filósofo Baruch de Espinosa chamou de Deus, não um ser fora do mundo, mas o próprio tecido divino da natureza, da vida e da razão. Um Deus que não julga, não pune, não exige adoração, mas se manifesta em tudo que existe, em tudo que vive e em tudo que pensa.

Assim como respondeu Einstein ao ser perguntado se acreditava em Deus:

“Acredito no Deus de Espinosa, que se revela na harmonia do que existe, e não em um Deus que se preocupa com destinos e ações dos homens.”

Essa concepção profunda, ética e bela de Deus está expressa naquilo que considero uma verdadeira oração da liberdade:

🌿 Mensagem de Deus, segundo Baruch Spinoza

“Pare de ficar rezando e batendo no peito!

O que quero que faça é que saia pelo mundo e desfrute a vida.

Quero que goze, cante, divirta-se e aproveite tudo o que fiz pra você.

[...]
Não me procure fora. Não me achará.

Procure-me dentro de você. É aí que estou, batendo em você.”

Essas palavras ecoam em mim como um chamado, não à crença cega, mas à vivência consciente. Um chamado à alegria de existir, ao respeito pela vida e ao cuidado com o mundo. Um chamado que convida a ensinar com o coração livre e a viver com o espírito acordado.

Talvez por isso, neste momento, sinto-me mais preparado para ensinar. Não porque detenha verdades absolutas, mas porque me libertei da necessidade de possuí-las. Hoje, prefiro as perguntas, os silêncios, os gestos, os encontros.

Sim, tenho medo. Medo de estar errado, medo de parecer uma farsa. Mas sei que quem teme isso, normalmente é quem mais busca ser verdadeiro.

E por isso sigo.

Não como quem carrega certezas, mas como quem cultiva sentidos.

Não como quem aponta caminhos, mas como quem caminha junto.

Não como mestre, mas como semeador de consciências.

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