CAROLINA FREITAS - Agência Estado
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou hoje, em comício na Grande São Paulo, que se não pudesse cuidar de um filho, confiaria em entregá-lo à candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff. Lula aproveitou o gancho dado por Dilma em discurso proferido antes, quando ela prometeu, se eleita, "cuidar do País com atenção, carinho e força de mãe". Para uma multidão que lotava o calçadão de Mauá, Lula disse: "eu falo para a Dilma, todo santo dia, para mostrar nossa relação de confiança, que seu não tivesse a Marisa (a primeira-dama Marisa Letícia) e tivesse que dar um filho para alguém cuidar, eu não tinha dúvida de entregar nas mãos dessa companheira."
Em fala de cerca de meia hora, o presidente exaltou a força da mulher e comparou uma possível vitória de Dilma nas urnas à eleição de Barack Obama nos Estados Unidos e de Nelson Mandela na África do Sul. "Os negros na África do Sul descobriram que eram maioria e elegeram Mandela. Nunca mais a minoria ganhou da maioria. Democracia significa que a maioria tem de ganhar."
O presidente lembrou sua própria luta para vencer o preconceito e se eleger. "As pessoas tinham medo (de votar nele), e com razão porque somos educados para votar em doutores, não em nós mesmos", disse. Lula falou ainda sobre a revolução feminina e destacou a lição aprendida pelas mulheres. "A mulher hoje sabe que tem de trabalhar. Uma mulher deve viver com um homem porque gosta e não por um prato de arroz com feijão." Para o presidente, mesmo assim ainda há resistência das mulheres em votar em outra mulher para presidente. "É resquício de preconceito. Ainda acham que mulher é fraca, mas isso acabou."
Em nome do fim desse preconceito, Lula afirmou que, se eleita, Dilma não poderá fracassar. Ele disse que teve esse sentimento desde o primeiro dia como presidente. "Eu pensava: se eu fracassar, nunca mais um peão vai ser eleito presidente. Por isso Dilma, você não pode fracassar, você vai ser a melhor presidenta que esse País já teve."
Ele aproveitou o comício pró Dilma para criticar o governo do Estado de São Paulo, comandado há 16 anos pelo PSDB, partido do adversário de Dilma ao Planalto, José Serra. "Quem cuida dos pobres de São Paulo é o governo federal", afirmou Lula, que disse ter repassado durante seu mandato mais dinheiro ao Estado do que repassou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Enquanto fazia críticas aos preços dos pedágios nas estradas paulistas e pedia votos para o candidato petista ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante, o microfone que o presidente usava falhou. Depois da troca do equipamento, Lula brincou: "Foi só eu começar a falar dos tucanos que o som falhou. Acho que meu microfone ''tucanou''."
Apesar do bom desempenho de Dilma na pesquisa Datafolha divulgada hoje, que colocou a petista 17 pontos à frente de Serra nas intenções de voto, Lula pediu aos militantes que evitem o "salto alto". "Eleição e mineração, a gente só sabe o resultado depois da apuração."
O recado reforçou o que havia dito em discurso pouco antes a própria candidata. "Eu vou ser a primeira presidente mulher, mas para isso acontecer não podemos pensar que já ganhamos. Somos bons jogadores, vamos jogar a partida inteira." Dilma minimizou ainda as criticas que vem recebendo de adversários. "Eles podem nos criticar, mas o povo não é bobo. Sente e sabe, no fundo de seu coração a transformação que Lula fez e quem estava ao lado dele".
No discurso de correligionários, a despedida de Lula da presidência foi tratada com emoção. Antes da fala do presidente, o sistema de som executou uma música da campanha de Dilma que diz: "deixo em tuas mãos meu povo". Dilma falou sobre como imagina o dia em que Lula deixar o cargo. "O dia em que Lula sair do Planalto vai ser muito triste para todos nós. Mas essa história é a continuidade do presidente Lula. A partir da minha eleição, vamos honrar o legado do presidente."
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