No confronto comercial Brasil-EUA, Globo é de Washington
A sabujice da Globo diante do conflito comercial Brasil-EUA
O governo Obama não gostou das medidas anunciadas pelo governo Lula em retaliação aos subsídios ilegais que os EUA concedem aos produtores de algodão, o que não deixa de ser natural. Inusitada neste episódio foi a reação de alguns bajuladores e aliados do império, com destaque para as Organizações Globo da família Marinho.
Por Umberto Martins, no Vermelho
Na noite de segunda-feira (8), o Jornal da Globo (televisivo) destacou matéria do diário inglês “Financial Times” sugerindo que o Brasil caminha para uma guerra comercial com os EUA. Na manhã do dia seguinte (9), o jornal “O Globo” chegou às bancas com a manchete principal enfatizando a ameaça de alta dos preços do pão nosso de cada dia em função da sobretaxa que será aplicada à importação do trigo norte-americano. Uma atitude que o ministro da agricultura, Reinhold Stephanes, classificou com muita propriedade de “terrorismo”.
O fora da lei
Em reunião com o ministro Miguel Jorge (do Desenvolvimento), realizada nesta terça em Brasília, o secretário de Comércio dos EUA, Gary Locke, procurou colocar panos quentes na controvérsia, afirmando que o governo Obama não está interessado em iniciar uma guerra comercial com o Brasil. Washington não tem razão nem mesmo pretexto para agir de outra forma. O fora da lei neste caso é o próprio Tio Sam e mais ninguém.
O governo brasileiro agiu rigorosamente dentro das normas internacionais e foi também criterioso ao definir setores e ramos de atividade que terão as tarifas de importação elevadas, de forma a não prejudicar a indústria e o desenvolvimento nacional. As medidas adotadas foram autorizadas pela Organização Mundial do Comércio (COM), que em novembro do ano passado considerou ilegais os subsídios governamentais aos produtores do algodão norte-americano, ao julgar ação movida pelo Itamaraty.
O valor das retaliações comerciais foi estimado em 591 bilhões de dólares, distribuídos por vários ramos, e não se espera que tenha grandes repercussões para a indústria estadunidense, segundo os especialistas. A OMC autorizou uma represália maior, de até US$ 829 milhões, e o governo promete aplicar os US$ 238 milhões restantes com quebra de patentes, o que pode provocar prejuízos mais concentrados e sensíveis, principalmente aos monopólios farmacêuticos.
Arrogância imperialista
O governo brasileiro priorizou o caminho do diálogo para resolver o impasse, mas a Casa Branca não parece propensa a conversas. No velho e arrogante estilo imperialista, o novo embaixador americano em Brasília, Thomas Shannon, já chegou ao país falando em contrarretaliação, “como se a parte condenada por violação das normas internacionais fosse a vítima, não a culpada”, conforme notou o jornal “O Estado de São Paulo” em editorial publicado nesta terça.
A posição dos EUA, que se nega a rever as práticas protecionistas ilegais condenadas pela OMC, traduz o detestável unilateralismo imperial que alguns imaginaram superado com o fim do governo Bush, mas que infelizmente foi reafirmado e em certa medida fortalecido por Obama. Os interesses imperialistas de Washington não podem se sobrepor ao direito internacional.
Unilateralismo versus multilateralismo
Em contraposição à arrogância imperial, a retaliação anunciada pelo governo Lula constitui uma defesa do multilateralismo nas relações internacionais, pois “busca salvaguardar a credibilidade e legitimidade do sistema de soluções de controvérsias” da Organização Mundial do Comércio, conforme esclarece a nota divulgada pelo Itamaraty sobre o tema.
Também não temos razões para temer contrarretaliações. O Brasil já não depende tanto dos EUA como no passado. A importância comercial e financeira da maior potência capitalista do mundo para a economia nacional declinou e de forma acentuada ao longo dos últimos anos, inclusive por causa da rejeição da ALCA e da diversificação das exportações brasileiras. A China já é nossa maior parceira comercial.
Terrorismo
A especulação em torno da hipótese de aumento dos preços do pãozinho não tem fundamento e serve a interesses obscuros, segundo o ministro da Agricultura. Apenas 5% do trigo consumido no Brasil provêm dos EUA e podem ser importados de outros países, como a Argentina. “Estão fazendo terrorismo”, sustentou Stephanes.
A manchete de “O Globo” reflete a mentalidade colonizada, atrasada e subalterna que parte das classes dominantes brasileiras continuam cultivando em detrimento da soberania nacional. Mas, o ministro da Agricultura enxergou outros interesses menores neste jogo.
Especulação
“Já tem gente querendo ganhar dinheiro à custa de uma determinada situação”, comentou Stephanes na entrevista coletiva concedida em Brasília para apresentar o sexto levantamento da safra de grãos 2009/2010.
A especulação ocorre porque apenas cinco grandes grupos de moinhos controlam toda a comercialização de trigo no país e sempre pressionam o governo para reduzir a tarifa de importação, embora não aceitem abrir seus estoques, na opinião do ministro.
“Tem que se considerar que o custo do trigo no pãozinho varia de 10% a 16%. Então, como a restrição de 5% da importação implicaria aumento de 16% no preço? Isso não tem lógica nenhuma. É terrorismo”, afirmou.
De acordo com a agência Brasil, ele mostrou aos jornalistas um gráfico com a variação do preço do trigo e do pão francês nos últimos três anos, no qual o primeiro sofreu variação de R$ 750 por tonelada em 2007 para menos de R$ 450 por tonelada neste ano. O valor do pãozinho, entretanto, se manteve no mesmo patamar, mesmo com a queda do valor de sua matéria-prima. "Alguém está ganhando dinheiro aí, e não é o produtor", concluiu Stephanes.
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