Folha de S. Paulo - 05/03/2010
A CAATINGA é o mais desprezado dos biomas brasileiros, devido à imagem de ambiente seco, pobre e sem vida. Não tem a exuberância da Amazônia, nem a importância do cerrado para o agronegócio. Não está ameaçada como a mata atlântica, nem pode rivalizar com a fauna do Pantanal.
Trata-se, porém, do único bioma que só existe no Brasil. A "mata branca" do idioma tupi, alusão ao ressecamento na longa estiagem, já ocupou um décimo do território nacional. Abriga ainda 510 espécies de aves e 148 de mamíferos, muito deles exclusivos do semiárido.
Entre 2002 e 2008 desapareceram 16.576 km2 de caatinga, área que equivale ao triplo do Distrito Federal. Quase a metade do bioma já foi destruída, em geral pelo mais arcaico dos usos de recursos naturais: extração de energia na forma de lenha.
Tais dados vieram à luz porque o governo federal finalmente pôs em operação um sistema para monitorar o desmatamento por satélite. O mesmo já se fazia na Amazônia (17% devastados), na mata atlântica (93%) e, agora, também no cerrado (48%).
O monitoramento ajuda a diagnosticar as ameaças à caatinga -sem ter o poder de afastá-las. É o bioma mais vulnerável ao aquecimento global, que traz o risco de aridez definitiva. Estão ali 62% das áreas sob ameaça de desertificação no Brasil, que já causa prejuízo anual de US$ 5 bilhões ao país. Não se trata, assim, de preservar a caatinga só por suas belas espécies.
Declarar a região patrimônio natural ou lançar um Plano Caatinga são atos louváveis, mas têm, porém, efeito tão efêmero quanto ações isoladas contra indústrias cerâmicas, de gesso e siderúrgicas que consomem a lenha ilegalmente extraída.
É preciso avançar na criação de unidades de conservação. Só 7% do bioma estão protegidos, contra 20% da Amazônia.
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