O promotor José Carlos Blat, do caso Bancoop, teve seu trabalho (?) desqualificado pelo juiz: e a imprensa?
É um escândalo. Para dizer o mínimo. São seis horas da tarde de sexta-feira. Dei uma passada pelas capas dos maiores portais da internet. Nenhum (com exceção do R-7 - com uma pequena chamada na parte de baixo da primeira página - http://noticias.r7.com/brasil/noticias/juiz-nao-ve-motivo-para-bloqueio-de-contas-da-bancoop-20100312.html) noticia o fato de o juiz responsável pelo caso Bancoop ter desqualificado a acusação apresentada pelo promotor José Carlos Blat.
Já havia escrito sobre o assunto na manhã de hoje - mas ainda não tinha em mãos o despacho do juiz. É devastador.
A grande mídia, claro, silencia.
O G-1 não tem lugar para o fato em sua capa, mas tem espaço para um título inacreditável - Navio tem surto intestinal pela segunda vez . É isso mesmo. Tá escrito lá. Fiquei a imaginar o surto intestinal do navio, algo monstruoso!
O IG acha também espaço para notícias fundamentais - Exorcista-chefe da Igreja Católica diz que há bispos ligados ao diabo. Mas nada sobre o caso Bancoop.
No Terra, no UOL, na FolhaOnline, claro, nada também sobre a decisão do juiz.
É evidente que - em respeito às pessoas que investiram seu dinheiro na Bancoop, e não receberam os imóveis - o caso precisa ser investigado, como já escrevi aqui - http://www.rodrigovianna.com.br/plenos-poderes/fbi-justica-nega-bloqueio-de-contas-da-cooperativa-bancoop-e-questiona-a-atuacao-do-promotor-blat.
Mas a maneira atabalhoada como o caso voltou à mídia (claro, na capa da "Veja", com repercussão posterior no "JN") mostra que se trata de peça da campanha eleitoral. Serra precisa conter a sangria de votos. Escândalos forjados (ou requentados) não tiram voto de Dilma junto ao povão, mas podem fazer com que o eleitorado anti-PT, mesmo não engolindo muito Serra, permaneça ao lado dele. A tática é evidente.
E é evidente que o juiz notou a manobra, como veremos abaixo.
Sobre estranhas relações entre promotores e imprensa, sugiro a leitura de Marco Aurelio Mello, no cada vez mais fundamental "Doladodelá" - http://maureliomello.blogspot.com/2010/03/arte-de-tergiversar.html
Como em 2006, neste ano será importante buscar as informações em fontes alternativas. Eu acabo de encontrar o texto do juiz no blog do Eduardo Guimarães. Vejam: o Eduardo não é jornalista, está na Bolívia, a trabalho, mas achou tempo (ao contrário de IG, UOL, Terra, G1...) para reproduzir o texto.
Merece ser lido.
Só um aperitivo. Vejam o pito que o juiz passa no promotor, de forma muito elegante:
"O Ministério Público e o Poder Judiciário são, antes que tudo, instituições de Estado, e não de governo. Assim, é imprescindível que sua atuação fique acima de circunstâncias ou convicções políticas.
E não basta que cada integrante destas instituições exclua internamente suas convicções políticas de influência em suas atuações. É imprescindível também que fique absolutamente claro, para toda a sociedade, que suas atuações são isentas de outros interesses que não os decorrentes de suas próprias atribuições institucionais. "
Agora, fiquem com a íntegra do texto do juiz Carlos Eduardo Lora Franco, que reproduzo do blog Cidadania.com - http://edu.guim.blog.uol.com.br/.
Inicialmente não se pode desconsiderar a repercussão política que a presente investigação passou a ter a partir do momento em que o teor do requerimento do Ministério Público de fls. 5649 e ss. veio a ser divulgado pela imprensa no último final de semana, antes mesmo que fosse apresentado em juízo. E isso porque, faltando cerca de apenas sete meses para as eleições presidenciais, uma das pessoas de quem foi requerida a quebra de sigilo (João Vaccari Neto) estaria sendo indicado como possível integrante da equipe de campanha da virtual candidata do partido atualmente ocupante da Presidência da República.
Tal contexto, porém, apenas reforça ainda mais a necessidade de cautela e rigor no exame dos requerimentos formulados, justamente para que tal atmosfera política não venha a contaminar a presente investigação ou, noutro sentido, que esta não venha a ser utilizada por terceiros para manipulação da opinião pública por propósitos políticos.
O Ministério Público e o Poder Judiciário são, antes que tudo, instituições de Estado, e não de governo. Assim, é imprescindível que sua atuação fique acima de circunstâncias ou convicções políticas.
(segue...)
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