Translate / Tradutor

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

"Na imprensa, porém, Serra não existe, ou melhor, só existe quando aparece todo faceiro "vistoriando" os escombros da cidade de São Luís do Paraintinga arrasada pela chuva."


Serra e mais um vexame oculto na mídia

O que se viu no litoral norte de São Paulo nesta virada de ano foi algo realmente inacreditável. Este blogueiro esteve lá e pode reportar com fidelidade - deu até uma certa sorte, pois deixou Ubatuba às 13h de sábado e chegou a São Paulo às 19h. Do mesmo dia, ao menos. Apenas no trecho entre Ubatuba e Caraguatatuba, o autor destas Entrelinhas levou 2h30 porque viaja para o litoral desde os 18 anos e conhece atalhos que outros incautos nem sonham existir. Em geral, este mesmo trajeto é feito em 40 minutos, com algum trânsito local. Ou trinta minutos, em fins de semana sem feriados.

É claro que o caos no litoral paulista foi noticiado exaustivamente pela imprensa, está todo mundo sabendo das dificuldades dos motoristas, que no domingo levavam mais de 12 horas para subir a serra e retornar à paulicéia. Na segunda-feira, os problemas se repetiram. De novo, todo mundo viu.

Bem, então por que o "vexame oculto" do título? E o que o governador José Serra (PSDB) tem a ver com isto? Pois Serra tem tudo a ver e basta o leitor lembrar do tratamento dispensado ao tal "caos aéreo" de 2009 para entender como os jornalões e portais estão protegendo o governador. Sim, porque o caos nas rodovias paulistas que ligam o litoral norte à capital é uma prova viva da completa incompetência do governo tucano. Era tudo tão previsível que causa espanto ninguém ter pensado em uma operação especial para a volta dos turistas. Este blogueiro já viu trânsito muito ruim mundo afora, mas nunca viu a ausência do poder público de tal monta como no litoral norte de São Paulo. Quando muito, um ou outro carro da polícia rodoviária tentava, sem sucesso, evitar que os automóveis circulassem pelo acostamento.

Tudo errado. Um mínimo de inteligência no Palácio dos Bandeirantes teria feito com que os ociosos policiais de trânsito da capital deserta decessem a serra para auxiliar em uma operação de guerra para dar fluidez, direcionar os motoristas, inverter pistas ou até mesmo criar itinerários obrigatórios que permitissem um retorno em menor tempo à capital. Em várias cidades italianas, como Roma e Napóles, as brigadas de trânsito fazem isto com frequência, desafogando em poucas horas verdadeiros nós górdios no trânsito. Nada disto aconteceu no litoral, para não falar das péssimas condições das rodovias que Serra abandonou ao Deus dará, aguardando um projeto de privatização que o próprio mercado rejeitou.

Na imprensa, porém, Serra não existe, ou melhor, só existe quando aparece todo faceiro "vistoriando" os escombros da cidade de São Luís do Paraintinga arrasada pela chuva. A culpa pelo desastre logístico no litoral norte é atribuída ou ao mau tempo - o que é uma piada de péssimo gosto - ou ao excesso de turistas.

É, mais um pouco os jornalões vão dizer que as filas de automóveis têm o dedo do presidente Lula, cujo governo permite este absurdo que foi, em dezembro, a venda de 50% a mais de carros em relação ao mesmo mês do ano anterior. Podem apostar, não demora muito.

Já Serra passa incólume, nada diz, nada faz, apenas consente, com o ar professoral que lhe é perculiar: foi mesmo grave, gravíssimo, resultado de uma conjunção de fatores inesperados e tudo mais. No fundo, é um discurso tão morto que dá até uma certa saudade daquela velha história do choque de gestão de Geraldo Alckmin. O antecessor de Serra pelo menos dava a impressão de que acreditava no que dizia...

Nenhum comentário: